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Murdoch renuncia à compra da BSkyB em meio a escândalo

Anúncio ocorreu depois de David Cameron apoiar pedido da oposição de que a News Corp. desistisse da operação

Rupert Murdoch, da News Corp.: empresa considera que clima é adverso para a compra (AFP)

Rupert Murdoch, da News Corp.: empresa considera que clima é adverso para a compra (AFP)

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Da Redação

Publicado em 13 de julho de 2011 às 13h37.

Londres - O império midiático de Rupert Murdoch, no centro do escândalo das escutas telefônicas ilegais que sacode o Reino Unido, renunciou nesta quarta-feira ao seu multimilionário projeto de compra da totalidade da plataforma televisiva BSkyB.

O inesperado anúncio ocorreu após o primeiro-ministro, David Cameron, anunciar no Parlamento seu apoio a uma moção impulsionada pela oposição trabalhista e apoiada também pelos liberais-democratas para pedir ao magnata que abandonasse a operação.

"Acreditávamos que a compra da BSkyB por parte da News Corp beneficiaria as duas companhias, mas se tornou evidente que é muito difícil progredir neste clima", declarou em um comunicado o vice-presidente do grupo, Chase Carey.

A News Corp, que possui 39% da maior plataforma de televisão por satélite britânica, apresentou em junho de 2010 uma oferta para adquirir as ações restantes por 7,8 bilhões de libras (12,5 bilhões de dólares) em dinheiro.

Após obter em março o acordo de princípio do governo a esta aquisição, que, segundo seus opositores, ameaçava a pluralidade informativa britânica, a autorização definitiva parecia até alguns dias um simples trâmite.

Mas as novas revelações no escândalo das escutas do News of the World, que provocaram uma onda de indignação, mudaram radicalmente a situação, e embora Murdoch tenha fechado na semana passada seu popular tablóide dominical, precisou ceder finalmente à pressão.

Cameron "acolheu com satisfação" o anúncio. A News Corp e sua filial britânica News International "devem se concentrar em limpar e ordenar seus assuntos" após o escândalo, acrescentou um porta-voz de Downing Street.

O líder da oposição Ed Miliband, patrocinador da moção que gerou um incomum consenso entre a classe política, saudou a notícia como uma vitória.


"Esta é uma vitória para as pessoas que, em todo o país, estão horrorizadas com as revelações do escândalo das escutas e com o fato de o News International não assumir a responsabilidade", declarou.

O escândalo, que inicialmente afetava sobretudo políticos e famosos, agravou-se na semana passada ao ser revelado que até 4 mil pessoas podem ter sofrido "grampos", entre elas uma adolescente assassinada ou familiares de vítimas dos atentados de 2005 em Londres.

Ao comparecer diante do Parlamento, Cameron revelou nesta quarta-feira os detalhes da investigação, presidida por um juiz e com a qual espera chegar ao fundo deste escândalo, que atinge também o resto da filial britânica de Murdoch, proprietária também do Sun, do Times e do Sunday Times.

O primeiro-ministro afirmou que a investigação será dividida em duas partes: a primeira é uma pesquisa sobre a conduta da imprensa e da polícia neste caso, enquanto a segunda terá como foco uma revisão exaustiva da regulamentação sobre a imprensa.

Enquanto isso, terá prosseguimento a investigação policial, que está "examinando 11 mil páginas de documentos, que contêm 3.870 nomes" de pessoas que podem ter tido seus telefones grampeados.

Em uma iniciativa sem precedentes, o próprio Murdoch, seu filho James, presidente da News International, e a diretora da subsidiária, Rebekah Brokes, foram convocados a declarar diante de uma comissão parlamentar, embora tenha sido muito possível que os dois primeiros se amparem em sua nacionalidade americana para não comparecer.

No entanto, o escândalo também é seguido de perto em seu país, onde o presidente da comissão de Comércio do Senado, Jay Rockefeller, pediu nesta terça-feira uma investigação para determinar se a News Corp. recorreu às mesmas práticas ilegais neste país.

Enquanto isso, o Wall Street Journal afirmou em seu site que a News Corp. está estudando a venda de todos os seus jornais britânicos, mas que as "pesquisas" realizadas entre possíveis compradores não foram frutíferas até o momento.

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