Mudanças na Petrobras vão demorar, mesmo com novo CEO
Investidores que apostam em uma rápida recuperação financeira da estatal, causada por uma mudança na gestão, provavelmente irão se decepcionar
Da Redação
Publicado em 4 de fevereiro de 2015 às 21h58.
Rio de Janeiro - Os investidores que apostam que uma mudança esperada há muito tempo na gestão da Petrobras levará a uma rápida recuperação financeira da estatal petroleira provavelmente irão se decepcionar.
Mesmo com as alterações no alto comando, há poucos sinais de que a Petrobras vá se recuperar rapidamente do maior escândalo de corrupção da história do país. As mudanças de executivos também não terão muito significado se a presidente da República, Dilma Rousseff, não conseguir aliviar a interferência política sobre a companhia ou falhar em reconhecer a dimensão total dos problemas.
As ações preferenciais da Petrobras subiram 24 por cento desde o início desta semana, sobretudo pela expectativa da renúncia da presidente-executiva da estatal, Maria das Graças Foster .
A Petrobras anunciou a saída de Graça e de outros cinco diretores, incluindo o diretor financeiro, Almir Barbassa, e o diretor de exploração, José Formigli, por meio de uma nota concisa divulgada nesta quarta-feira.
As renúncias ocorreram bem antes do fim de fevereiro, para quando eram esperadas, e surpreenderam o governo, que desejava ter mais tempo para encontrar substitutos.
Mas será preciso mais do que um novo presidente-executivo para fazer a Petrobras emergir das profundezas de um escândalo multibilionário envolvendo superfaturamento de preços e propinas.
Para mudanças sérias serão necessárias atitudes tomadas por Dilma, verdadeira chefe da petroleira, que foi a presidente do Conselho de Administração da estatal entre 2003 e 2010 e continua a acompanhar de perto os assuntos da companhia.
Somando seu tempo à frente do Conselho e como presidente da República, Dilma esteve à frente da Petrobras por 12 anos, período notório pela descoberta de novas reservas de petróleo mas também pelos débitos crescentes, custos excedentes, metas de produção não alcançadas e prazos estourados para a conclusão de projetos.
Foi também um período no qual alguns executivos da Petrobras se engajaram em práticas sistemáticas de superfaturamento e suborno junto a empreiteiras e outros fornecedores, dizem os promotores. Tanto Dilma como Graça negam ter tido qualquer conhecimento sobre o esquema, e nenhuma das duas chegou a ser acusada de qualquer irregularidade.
A investigação sobre a Petrobras ajudou a depreciar as ações da companhia em cerca de 60 por cento desde setembro, forçando a empresa a reduzir seus investimentos e prejudicando sua capacidade de angariar recursos financeiros. Reverter esse cenário será uma tarefa desafiadora para qualquer presidente-executivo.
"Não acreditamos que substituir Foster vá necessariamente trazer um fim para todos os problemas da Petrobras", disse o analista Leonardo Alves, da Votorantim Corretora, em São Paulo.
"O novo CEO vai ter que lidar com quase os mesmos problemas que Foster tem lidado: escândalos de corrupção, altas taxas de alavancagem e dificuldades para acessar os mercados de capital."
Graça Foster sob pressão
Graça parece ter sido pressionada por Dilma e membros do PT a deixar a Petrobras após ter se demonstrado disposta a reconhecer os problemas da companhia.
Em 23 de janeiro, Graça e outros membros da diretoria concordaram em declarar uma baixa contábil de 61,4 bilhões de reais em investimentos afetados pela corrupção e decisões de negócios que não deram certo, disse à Reuters na semana passada uma fonte com conhecimento direto sobre as ações da diretoria.
Quatro dias depois, a pedido de Dilma, o presidente do Conselho de Administração da empresa e ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, vetou a divulgação do número, pois a atitude ameaçava deixar a impressão de que a Petrobras e o governo são corruptos, disse a fonte sob condição de anonimato.
Depois disso, parecia ser apenas uma questão de tempo antes que Graça deixasse o cargo ou fosse forçada a sair. Na terça-feira, Dilma pediu a ela que ficasse até o fim do mês para que um substituto pudesse ser encontrado, de acordo com uma fonte do governo que também pediu para não ser identificada.
Mas Graça e seus subordinados diretos decidiram não esperar.
"A renúncia veio como uma surpresa para nós", disse o analista do setor de petróleo do banco BTG Pactual, Gustavo Gattas, no Rio de Janeiro, por meio de nota enviada aos clientes. "Abordamos a Petrobras com mais cautela hoje do que fizemos antes."
O fracasso em divulgar a baixa contábil também deixará a Petrobras, petroleira de grande porte mais endividada e menos rentável do mundo, de fora dos mercados de capital por pelo menos mais três meses. A falha também causou a redução da velocidade de muitos projetos cruciais, forçando a companhia a cortar em até 30 por cento seus gastos em 2015.
"O que está claro em relação ao desastre da não divulgação da baixa contábil é que eles ainda acham que podem esconder debaixo do tapete", disse um alto executivo do setor de petróleo que trabalha em parceria direta com a Petrobras.
A fonte, que pediu para não ser identificada porque falar publicamente poderia complicar a parceira com a Petrobras, disse ter poucas expectativas de que Graça seja substituída por um profissional respeitado pelo setor petrolífero e com liberdade para combater a corrupção.
Executivos candidatos
José Carlos Grubisich, ex-diretor da companhia química Braskem; Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central; Rodolfo Landim, um ex-executivo na própria Petrobras e na OGX; o ex-presidente-executivo da Vale Roger Agneli e o atual, Murilo Ferreira, estão entre os executivos cotados como possíveis substitutos.
“Não tenho mesmo nenhuma ideia de quem pode ficar com o cargo”, acrescentou o executivo. “Tenho certeza apenas de que vai ser alguém em quem o PT de Dilma possa confiar, o que não é alguém que possa corrigir os problemas.” A mudança agora depende do Conselho de Administração, que segundo a Petrobras vai escolher uma nova equipe de diretoria na sexta-feira. Trata-se do mesmo Conselho que vetou a declaração da baixa contábil há duas semanas.
A maioria dos novos executivos deve vir de dentro da própria companhia, disse à Reuters um executivo com conhecimento direto sobre as mudanças na Petrobras.
Um dos dois diretores da petroleira que não renunciaram nesta quarta-feira é José Eduardo Dutra, um dos mais poderosos articuladores do PT.
Ex-presidente-executivo da Petrobras, Dutra agora controla a diretoria Corporativa e de Serviços, departamento que lida com a maior parte das contratações da companhia e com a gestão de projetos e que tem estado no centro das investigações de corrupção nos últimos anos.
Rio de Janeiro - Os investidores que apostam que uma mudança esperada há muito tempo na gestão da Petrobras levará a uma rápida recuperação financeira da estatal petroleira provavelmente irão se decepcionar.
Mesmo com as alterações no alto comando, há poucos sinais de que a Petrobras vá se recuperar rapidamente do maior escândalo de corrupção da história do país. As mudanças de executivos também não terão muito significado se a presidente da República, Dilma Rousseff, não conseguir aliviar a interferência política sobre a companhia ou falhar em reconhecer a dimensão total dos problemas.
As ações preferenciais da Petrobras subiram 24 por cento desde o início desta semana, sobretudo pela expectativa da renúncia da presidente-executiva da estatal, Maria das Graças Foster .
A Petrobras anunciou a saída de Graça e de outros cinco diretores, incluindo o diretor financeiro, Almir Barbassa, e o diretor de exploração, José Formigli, por meio de uma nota concisa divulgada nesta quarta-feira.
As renúncias ocorreram bem antes do fim de fevereiro, para quando eram esperadas, e surpreenderam o governo, que desejava ter mais tempo para encontrar substitutos.
Mas será preciso mais do que um novo presidente-executivo para fazer a Petrobras emergir das profundezas de um escândalo multibilionário envolvendo superfaturamento de preços e propinas.
Para mudanças sérias serão necessárias atitudes tomadas por Dilma, verdadeira chefe da petroleira, que foi a presidente do Conselho de Administração da estatal entre 2003 e 2010 e continua a acompanhar de perto os assuntos da companhia.
Somando seu tempo à frente do Conselho e como presidente da República, Dilma esteve à frente da Petrobras por 12 anos, período notório pela descoberta de novas reservas de petróleo mas também pelos débitos crescentes, custos excedentes, metas de produção não alcançadas e prazos estourados para a conclusão de projetos.
Foi também um período no qual alguns executivos da Petrobras se engajaram em práticas sistemáticas de superfaturamento e suborno junto a empreiteiras e outros fornecedores, dizem os promotores. Tanto Dilma como Graça negam ter tido qualquer conhecimento sobre o esquema, e nenhuma das duas chegou a ser acusada de qualquer irregularidade.
A investigação sobre a Petrobras ajudou a depreciar as ações da companhia em cerca de 60 por cento desde setembro, forçando a empresa a reduzir seus investimentos e prejudicando sua capacidade de angariar recursos financeiros. Reverter esse cenário será uma tarefa desafiadora para qualquer presidente-executivo.
"Não acreditamos que substituir Foster vá necessariamente trazer um fim para todos os problemas da Petrobras", disse o analista Leonardo Alves, da Votorantim Corretora, em São Paulo.
"O novo CEO vai ter que lidar com quase os mesmos problemas que Foster tem lidado: escândalos de corrupção, altas taxas de alavancagem e dificuldades para acessar os mercados de capital."
Graça Foster sob pressão
Graça parece ter sido pressionada por Dilma e membros do PT a deixar a Petrobras após ter se demonstrado disposta a reconhecer os problemas da companhia.
Em 23 de janeiro, Graça e outros membros da diretoria concordaram em declarar uma baixa contábil de 61,4 bilhões de reais em investimentos afetados pela corrupção e decisões de negócios que não deram certo, disse à Reuters na semana passada uma fonte com conhecimento direto sobre as ações da diretoria.
Quatro dias depois, a pedido de Dilma, o presidente do Conselho de Administração da empresa e ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, vetou a divulgação do número, pois a atitude ameaçava deixar a impressão de que a Petrobras e o governo são corruptos, disse a fonte sob condição de anonimato.
Depois disso, parecia ser apenas uma questão de tempo antes que Graça deixasse o cargo ou fosse forçada a sair. Na terça-feira, Dilma pediu a ela que ficasse até o fim do mês para que um substituto pudesse ser encontrado, de acordo com uma fonte do governo que também pediu para não ser identificada.
Mas Graça e seus subordinados diretos decidiram não esperar.
"A renúncia veio como uma surpresa para nós", disse o analista do setor de petróleo do banco BTG Pactual, Gustavo Gattas, no Rio de Janeiro, por meio de nota enviada aos clientes. "Abordamos a Petrobras com mais cautela hoje do que fizemos antes."
O fracasso em divulgar a baixa contábil também deixará a Petrobras, petroleira de grande porte mais endividada e menos rentável do mundo, de fora dos mercados de capital por pelo menos mais três meses. A falha também causou a redução da velocidade de muitos projetos cruciais, forçando a companhia a cortar em até 30 por cento seus gastos em 2015.
"O que está claro em relação ao desastre da não divulgação da baixa contábil é que eles ainda acham que podem esconder debaixo do tapete", disse um alto executivo do setor de petróleo que trabalha em parceria direta com a Petrobras.
A fonte, que pediu para não ser identificada porque falar publicamente poderia complicar a parceira com a Petrobras, disse ter poucas expectativas de que Graça seja substituída por um profissional respeitado pelo setor petrolífero e com liberdade para combater a corrupção.
Executivos candidatos
José Carlos Grubisich, ex-diretor da companhia química Braskem; Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central; Rodolfo Landim, um ex-executivo na própria Petrobras e na OGX; o ex-presidente-executivo da Vale Roger Agneli e o atual, Murilo Ferreira, estão entre os executivos cotados como possíveis substitutos.
“Não tenho mesmo nenhuma ideia de quem pode ficar com o cargo”, acrescentou o executivo. “Tenho certeza apenas de que vai ser alguém em quem o PT de Dilma possa confiar, o que não é alguém que possa corrigir os problemas.” A mudança agora depende do Conselho de Administração, que segundo a Petrobras vai escolher uma nova equipe de diretoria na sexta-feira. Trata-se do mesmo Conselho que vetou a declaração da baixa contábil há duas semanas.
A maioria dos novos executivos deve vir de dentro da própria companhia, disse à Reuters um executivo com conhecimento direto sobre as mudanças na Petrobras.
Um dos dois diretores da petroleira que não renunciaram nesta quarta-feira é José Eduardo Dutra, um dos mais poderosos articuladores do PT.
Ex-presidente-executivo da Petrobras, Dutra agora controla a diretoria Corporativa e de Serviços, departamento que lida com a maior parte das contratações da companhia e com a gestão de projetos e que tem estado no centro das investigações de corrupção nos últimos anos.