Exame Logo

"Meu pai me ensinou a comprar com desconto", diz Michael Klein

Filho do fundador das Casas Bahia — e de volta ao comando da companhia — que focar em operação digital e nas lojas deficitárias

Michael Klein: para empresário, governo de Jair Bolsonaro está no caminho certo (Patricia Monteiro/Bloomberg)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 16 de agosto de 2019 às 12h40.

Última atualização em 16 de agosto de 2019 às 12h42.

O braço de aviação executiva do Grupo CB sofre com a crise, mas Michael Klein não para de investir. Nesta semana, comprou dois helicópteros por R$ 62 milhões.

Comprar quando o setor ou o vendedor está em crise é sua estratégia, a mesma usada para arrematar, em junho, 1,6% das ações da Via Varejo , elevando a participação da família na empresa dona de Casas Bahia e Ponto Frio para 27,7% - ele havia vendido o controle da Casas Bahia ao Grupo Pão de Açúcar em 2009.

Veja também

Agora, no controle da companhia novamente, quer reverter o prejuízo do ano passado priorizando a operação digital e as lojas deficitárias.

Prevê que será necessário um ano e meio para isso acontecer, mesmo tempo que deve levar para o Brasil começar a se recuperar. Para ele, o governo está indo bem, mas deveria “lavar roupa suja em casa”.

O sr. estava animado com a aviação executiva. Os resultados estão vindo como esperados?

O ano passado foi melhor por causa da Copa do Mundo, mandamos dois aviões para a Rússia, e das eleições, voamos para quatro candidatos à presidência. Faturamos R$ 110 milhões e, para este ano, a meta é R$ 159 milhões. Mas acho que esse número não vai acontecer. No primeiro semestre, faturamos R$ 108 milhões, mas porque vendemos uma aeronave, aí o número sobe.

Esse resultado deve frear os investimentos do grupo no setor?

Ganhamos licitação para um terceiro hangar no aeroporto Santos Dumont (RJ) e pegamos outro no de Pampulha (MG). Tem mais dois helicópteros que compramos, recebemos certificação para fazer manutenção de aeronave de terceiros e pedimos licença para fazer transporte aeromédico.

O Grupo CB se desfez de alguns imóveis recentemente. Está diminuindo a aposta no setor?

Troquei de ativos. Vendi 26 lojas que eram alugadas para a C&A e com o dinheiro (R$ 100 milhões), comprei ações da Via Varejo. Tirei de um bolso e pus em outro. Vendi para não me endividar na compra das ações.

O sr. se arrependeu de vender as Casas Bahia para o Grupo Pão de Açúcar?

A gente não pode se arrepender do que faz. Surgiu a oportunidade. O Casino (que assumiu o controle do Pão de Açúcar em 2012) entrou em recuperação judicial (a holding controladora pediu proteção judicial contra credores) na França. Automaticamente, tinha de vender alguma coisa aqui para mandar dinheiro para lá. (Pensei:) ‘quem sabe é a oportunidade de comprar mais barato’?

A Via Varejo estava à venda havia dois anos e sempre houve rumores de que o sr. estava interessado.

Ele (Jean-Charles Naouri, controlador do Casino) queria vender para alguém que fosse controlador e pagasse ágio sobre as ações. Falei que não pagava ágio e comprava toda a parte dele com desconto. Meu pai me ensinou a comprar com desconto.

O Casino administrou mal a Via Varejo ou apenas não era prioridade dele?

Os dois. Não foi foco por falta de experiência no ramo. Ele (Naouri) é bom administrador, tanto que tem loja no mundo inteiro. Mas não é especializado em eletrodomésticos. Tratava de uma loja de eletrodomésticos como se fosse um supermercado. Não dá.

Como o sr. pretende virar o jogo? Nesse período de crise na Via Varejo, o Magazine Luiza decolou com vendas pela internet.

Pelas falhas que houve na Via Varejo, o faturamento foi caindo. A Luiza Helena (Trajano, presidente do conselho do Magazine) e, agora, o Frederico (presidente), que são do ramo, souberam aproveitar as oportunidades que deixamos. Foi um trabalho muito bom, tanto é que saiu o resultado deles: 41% do faturamento vem do online. Na Via Varejo não chega a 15%.

No processo de se voltar ao digital, lojas serão fechadas?

Isso eles (a direção executiva) que avaliam. Estou lá só como presidente do conselho. Só posso dar orientação.

Qual a atual orientação?

Online e recuperar as lojas deficitárias.

Quanto tempo deve levar para recuperá-las?

Um ano e meio dois anos.

Como o sr. avalia o governo?

Acho bom. Eles estão no caminho certo.

A equipe econômica o sr. diz? E a articulação política?

Acho que roupa suja se lava em casa. Eles estão expondo. Se eles têm acertos para fazer, deveriam fazer dentro de casa.

Há muitas críticas por ser um governo autoritário.

Para a economia, ter uma coisa mais autoritária, falar qual é o caminho certo, é até bom para o País. Antes, (os políticos diziam) ‘aprovo só se você me der essa estatal’. Como esse governo é mais autoritário, já mostrou que não tem negociação. Entenda autoritário não como ditadura. Tem diferença. Autoritário com bons propósitos. Mas confio que o País vai melhorar no médio prazo. 2020 ainda vai ser difícil.

Acompanhe tudo sobre:Casas BahiaPão de AçúcarVia Varejo

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Negócios

Mais na Exame