Mercedes-Benz: para o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que representa os funcionários da fábrica, a decisão da empresa significa "retrocesso" (Saulo Pereira Guimarães/Site Exame)
Estadão Conteúdo
Publicado em 22 de maio de 2018 às 18h31.
São Paulo - A Mercedes-Benz, que há uma semana tem passado por uma greve dos seus trabalhadores na fábrica de São Bernardo do Campo, decidiu levar o impasse à Justiça.
A disputa envolve reivindicações salariais, participação em lucros e resultados e alguns benefícios que foram acertados em acordo anterior e agora estão em risco.
Para o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que representa os funcionários da fábrica, a decisão da empresa de ir à Justiça significa um "retrocesso" no histórico de negociações entre as duas partes.
"Foi precipitado. Na história dos trabalhadores na Mercedes, os impasses sempre foram resolvidos numa mesa de negociações", disse o diretor-executivo do sindicato, Moisés Selerges. "Vamos continuar tentando restabelecer um diálogo com a direção. Dialogar é sempre a saída mais inteligente", reforçou.
Em campanha salarial, com data-base em maio, os 8 mil trabalhadores da fábrica cruzaram os braços na segunda-feira da semana passada. No início, eles exigiam que a montadora, além de dar aumento real de salários, desistisse de demitir 340 funcionários da área administrativa, mudasse o cálculo da PLR (Participação nos Lucros e Resultados) e mantivesse algumas cláusulas acertadas em um acordo anterior.
Algumas das cláusulas em discussão são o tempo de estabilidade para trabalhadores que sofreram algum acidente e o complemento que eles recebem da empresa por quatro meses para que o auxílio-doença recebido pelo INSS chegue ao mesmo valor do salário.
Segundo o sindicato, a questão das demissões foi superada, pelo menos por enquanto, com a empresa desistindo do corte de vagas. O impasse, no entanto, ainda continua com o reajuste salarial, a PLR, os benefícios.
A empresa chegou a oferecer reposição do salários pela inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), além de um abono não vinculados aos vencimento, mas os trabalhadores rejeitaram a proposta em assembleia.
"Considerando a continuidade da paralisação e a impossibilidade de uma solução negociada, a Mercedes-Benz do Brasil decidiu submeter a discussão à Justiça do Trabalho", escreveu a empresa em nota enviada à imprensa.
A greve ocorre em um momento em que o setor volta a crescer. A fábrica da Mercedes-Benz em São Bernardo é destinada à produção de caminhões e ônibus. Tais segmentos, respectivamente, apresentam crescimento de 54,9% e 81,7% no acumulado de janeiro a abril ante igual intervalo do ano passado, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
A fábrica da Mercedes, que com a crise passou a produzir em somente um turno, deve voltar aos dois turnos no segundo semestre deste ano, conforme tem dito em entrevistas o presidente da empresa no Brasil, Philipp Schiemer. A unidade, que tem capacidade de produzir 80 mil veículos por ano, tem operado no limite de apenas um turno.