A tentativa de ampliar alternativas de receita vem na esteira da experiência da JSL com a locadora de veículos Movida, que também abriu capital na B3 (foto/Divulgação)
Estadão Conteúdo
Publicado em 2 de agosto de 2018 às 12h02.
Última atualização em 2 de agosto de 2018 às 12h04.
O grupo de logística JSL está atrás de talentos: busca três executivos para comandar divisões que passarão a atuar de forma independente e se dedicarão a serviços de transporte para o setor público, à venda de veículos e à locação de máquinas e caminhões. A ênfase na diversificação ocorre em um momento complexo: após a greve dos caminhoneiros, o segmento de transporte rodoviário ficou exposto ao tabelamento dos fretes - o que, segundo especialistas, pode afetar o lucro. Desde a paralisação dos caminhoneiros, no fim de maio, as ações da JSL caíram quase 35% na Bolsa paulista.
A tentativa de ampliar alternativas de receita vem na esteira da experiência da JSL com a locadora de veículos Movida, que também abriu capital na B3. Hoje, a "empresa-mãe" vale R$ 824 milhões na B3, R$ 470 milhões a menos do que a Movida. Embora ambas acumulem queda desde o início do ano, as perdas da JSL são bem mais expressivas: 50%, ante 12,5% da locadora, considerados os dados do fechamento de ontem.
O presidente da JSL, Fernando Simões, diz que o transporte rodoviário ainda é o carro-chefe do grupo, com cerca de 45% do faturamento. A locadora de veículos vem em segundo, com 30%. O grupo reportou receita líquida consolidada de R$ 7,3 bilhões em 2017.
A parcela restante do faturamento está espalhada por outras três divisões, hoje subordinadas à transportadora. Com a mudança organizacional proposta, diz Simões, cada divisão terá um presidente ou diretor, que poderá definir estratégias de forma mais livre. "Todos os nossos negócios têm sinergias", afirma o executivo, que é filho do fundador do grupo, Júlio Simões, e começou a trabalhar na JSL em 1981, aos 14 anos.
Simões diz que, ao dar mais poder a cada segmento, a JSL conseguirá ter um melhor aproveitamento de ativos. A ideia é que uma atividade auxilie a outra: as concessionárias de veículos novos poderão alimentar o serviço de locação. Já a área de venda de seminovos poderá passar adiante os caminhões usados pelos clientes de aluguel.
A divisão Vamos, por exemplo, que faz locação de máquinas e caminhões, também vai concentrar as 14 revendedoras da marca MAN, da Volkswagen, que pertencem ao grupo. O objetivo da JSL é nomear um CEO para a Vamos.
O outro negócio que deverá ganhar um novo presidente é a CS Brasil, dedicada a disputar contratos de transporte no setor público - tanto de equipamentos quanto de passageiros. Por fim, as redes de concessionárias de veículos novos do grupo - das marcas Volkswagen, Fiat e Ford - ganharão um diretor executivo.
Para Maurício Lima, sócio do Instituto Ilos, especializado em logística, o setor de transporte rodoviário vive um momento de insegurança com o fato de a medida provisória do tabelamento do frete ter sido aprovada pelo Congresso Nacional. "Agora, é uma medida que vai ser muito mais difícil de ser derrubada", afirma.
Por isso, as empresas do setor deverão buscar alternativas de receita além do frete, se puderem. Uma delas, segundo Lima, é justamente o aluguel do caminhão, em vez da realização do frete completo. "O incentivo ao ganho de produtividade acabou. Agora, todo mundo terá de ir a Brasília para negociar uma tabela de frete melhor, em vez de melhorar sua operação."
Apesar de admitir os desafios atuais do setor, o presidente da JSL diz que a variedade dos serviços ofertados deixa a empresa menos exposta. Embora os fretes sejam relevantes para o negócio, parte de sua receita vem da operação completa da logística de grandes negócios.
"É um trabalho customizado", diz ele, citando que a JSL faz transporte, carregamento e gerencia estoques da fabricante de celulose Fibria e da marca Kibon, da Unilever. "No caso da Kibon, somos responsáveis por garantir o armazenamento do sorvete na temperatura correta", explica.