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Lance único pela Cepisa acende alerta sobre demanda por distribuidoras

Se Senado não aprovar projeto que soluciona passivos das empresas, outras elétricas, que têm leilão marcado para agosto, podem não encontrar comprador

Eletrobras: antes da licitação de quinta-feira, vários grupos eram apontados como interessados na distribuidora do Piauí, comprada pela Equatorial Energia (Nadia Sussman/Bloomberg)

Eletrobras: antes da licitação de quinta-feira, vários grupos eram apontados como interessados na distribuidora do Piauí, comprada pela Equatorial Energia (Nadia Sussman/Bloomberg)

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Reuters

Publicado em 27 de julho de 2018 às 16h12.

São Paulo - A apresentação de uma única oferta no leilão de privatização da Cepisa, distribuidora da Eletrobras no Piauí, acendeu um alerta entre investidores e analistas sobre a demanda pelas outras cinco empresas de distribuição que a estatal pretende vender, que operam no Acre, Alagoas, Amazonas, Roraima e Rondônia.

Antes da licitação de quinta-feira, vários grupos eram apontados como interessados na Cepisa, comprada pela Equatorial Energia. Agora, especialistas dizem que não haverá forte competição pelas demais elétricas e que elas podem até não encontrar comprador, se o Senado não aprovar um projeto de lei que soluciona passivos das empresas junto a fundos setoriais.

As ações da Eletrobras refletiram o maior pessimismo -- os papéis preferenciais da companhia fecharam com queda de 5,75 por cento na véspera e ainda recuavam 2 por cento às 15:47 desta sexta-feira.

"A falta de concorrência causa receio de que no leilão de privatização das concessões restantes, em 30 de agosto, possa existir baixo interesse pelos ativos --com maiores prejuízos totais no segmento de distribuição da Eletrobras", apontaram analistas da corretora Brasil Plural nesta sexta-feira.

A mesma preocupação foi evidenciada por especialistas do banco BTG Pactual. "O fato de só a Equatorial ter apresentado proposta é positivo para a Equatorial, mas talvez negativo para o governo. Isso mostra que o apetite pelos ativos era muito menor que os investidores esperavam inicialmente", escreveram em relatório.

Segundo eles, o menor interesse pode ter impacto até mesmo além da Eletrobras, em empresas do setor como a distribuidora privada Light, colocada à venda pela estatal mineira Cemig em meio a um plano de desinvestimentos.

O governo já agendou o leilão das outras empresas da Eletrobras, à exceção da Ceal, do Alagoas --vista por investidores como a mais saudável das distribuidoras da Eletrobras ao lado da Cepisa, ela foi alvo de uma liminar do ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), que proibiu a venda antes de um acordo entre a União e o governo alagoano.

Mas o resultado visto na Cepisa evidenciou que há um grande risco de fracasso na licitação no caso de rejeição ou atraso na análise pelo Senado do projeto enviado pelo governo, que tem como objetivo tornar mais atrativa a venda das distribuidoras da região Norte, segundo especialistas do setor.

"Sem o projeto de lei, corre-se o risco de ter um leilão vazio. Diminui bastante o interesse", disse à Reuters o presidente da consultoria Thymos Energia, João Carlos Mello, que tem assessorado alguns investidores de olho no processo.

Ele adicionou, no entanto, que seus clientes têm interesse nas distribuidoras e que há apetite por todas, uma visão semelhante à do especialista em energia do Demarest Advogados, Raphael Gomes.

"É importante que o projeto seja aprovado para termos mais certeza de que haverá investidores na mesa. Se o projeto passar, acredito que vai ter concorrência", afirmou.

Ele defendeu, no entanto, que o sucesso na venda da Cepisa foi uma sinalização positiva, uma vez que havia grande temor de que o processo mal fosse adiante devido à forte resistência de políticos e a ações judiciais impetradas por sindicatos.

Olhar seletivo

Na visão da Thymos Energia, as dificuldades nas operações das distribuidoras da Eletrobras e os passivos das empresas tornam uma eventual aquisição um grande desafio e acabam fazendo com que os investidores sejam cuidadosos e seletivos na definição de qual ativo irão disputar.

"Cada um tem seus problemas, suas ambições... e naquelas empresas tem muitas coisas para resolver, tem que ter um apetite, a solução não é para qualquer um. A competição não vai ser grande, mas vai ter", disse Mello.

Ele apostou que, fora a Ceal, a Ceron, de Rondônia, também pode atrair um interesse mais intenso, enquanto a Eletroacre, que opera no Acre, poderia ser a menos valiosa para os investidores.

Outra empresa também apontada como complexa e que pode receber apetite menor é a Amazonas Energia, apontou Gomes, do Demarest.

A Energisa, que controla nove distribuidoras no Brasil, disse na quinta-feira que ainda avalia as outras empresas da Eletrobras apesar de não ter feito oferta pela Cepisa.

Uma fonte de mercado disse à Reuters que o grupo tem cerca de 120 profissionais avaliando as elétricas, mas uma eventual participação estaria diretamente associada ao destino do projeto de lei sobre as empresas no Senado.

Executivos da Equatorial também disseram na quinta-feira que seguem de olho nas outras distribuidoras da Eletrobras, sem detalhar. Mas em um documento enviado à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e visto pela Reuters, a empresa mostrou grande interesse pela Amazonas Energia, com diversas dúvidas sobre as regras para a venda do ativo.

Além dessas duas, o Itaú BBA havia apontado a italiana Enel e a Neoenergia, controlada pelo grupo espanhol Iberdrola, como possíveis interessados nos leilões da Eletrobras.

Procurada, a Equatorial não quis comentar o eventual interesse na Amazonas Energia. A Energisa também não quis detalhar o possível interesse nas elétricas. Enel e Neoenergia não comentaram de imediato.

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