Investigação e demissões: 7 polêmicas da Uber no último mês
No último mês, a apuração levou a demissões e até ao afastamento do seu presidente, Travis Kalanick, por tempo indeterminado
Karin Salomão
Publicado em 17 de junho de 2017 às 10h14.
Última atualização em 17 de junho de 2017 às 10h17.
São Paulo - Desde seu surgimento, a Uber está no centro de diversos conflitos. Além das desavenças com taxistas e prefeituras, a história da companhia está permeada de denúncias e declarações polêmicas de seus fundadores.
Recentemente esses escândalos tomaram proporções muito maiores. Em fevereiro, uma ex-funcionária da empresa do Vale do Silício, Susan Fowler, afirmou que foi vítima de assédios sexuais por parte de seus colegas, assim como outras funcionárias da mesma divisão.
Um de seus gerentes teria se insinuado sexualmente a ela, mas, ao passar essas reclamações para o RH, ela não só deixou de receber o amparo necessário como também foi impedida de avançar na carreira.
Na mesma semana, uma reportagem do New York Times relatou assédios morais e sexuais, competição entre colegas e guerras para subir na carreira entre os funcionários do aplicativo. Um dos funcionários teria apalpado uma colega, outro teria xingado um colega com expressões homofóbicas e outro ameaçou um subordinado com um taco de baseball.
Essas denúncias abriram uma caixa de Pandora e um escritório de advocacia foi contratado para apurar os casos. No último mês, a apuração levou a demissões e até ao afastamento do seu presidente, Travis Kalanick, por tempo indeterminado.
Confira abaixo os percalços da Uber no último mês.
Motoristas prejudicados
Os motoristas de Nova York foram lesados por pelo menos dois aos. No dia 23 de maio, a empresa afirmou que pagou a menos para seus motoristas, ao não deduzir impostos e algumas tarifas da comissão que cobra aos colaboradores.
A companhia poderá ter de pagar pelo menos 45 milhões de dólares, equivalente a uma média de 900 dólares por motorista do serviço.
Carros autônomos
Não são só funcionários e clientes que processam o aplicativo de transportes. Concorrentes também abriram disputas contra a Uber. Ela está sendo processada pela Wayo, empresa de carros autônomos da dona do Google, Alphabet.
A Waymo alega que um ex-funcionário do Google, Anthony Levandowski, baixou 14.000 arquivos técnicos de seus servidores relacionados a carros autônomos. Levandowski abriu, então, a startup Otto, comprada pela Uber no ano passado por 680 milhões de dólares. Com o roubo de dados, a Uber “evitou risco e cortou tempo e dinheiro no desenvolvimento de sua tecnologia”, diz a Waymo. Já a Uber diz que as acusações não têm sentido e tentam “reduzir a velocidade de um concorrente”.
No dia 30 de maio, a Uber informou que demitiu Levandowski, após ele ter se recusado a colaborar com a investigação.
Prejuízo
As finanças da companhia também não estão positivas. No dia 1° de junho, a Uber registrou novo prejuízo, apesar do aumento no faturamento no primeiro trimestre do ano. Ela teve perda de 708 milhões de dólares, ante 991 milhões de dólares no mesmo período do ano passado.
O faturamento da Uber cresceu para 3,4 bilhões de dólares no período, avanço de 18%. Em nota, a Uber afirmou que “a redução de nossas perdas no primeiro trimestre nos coloca numa boa trajetória rumo à lucratividade”.
Investigação e demissão
A companhia contratou o escritório de advocacia Perkins Coie para realizar uma investigação interna. Foram analisadas 215 queixas de assédio datando desde 2012. Paralelamente, o ex-procurador-geral dos EUA, Eric Holder, examinou a cultura e práticas da empresa.
Das 215 denúncias, 54 eram relacionadas a discriminação, 47 a assédio sexual, 45 a conduta não profissional, 33 a assédio moral e 36 a outras alegações.
Como consequência, ela informou no dia 6 de junho que demitiu 20 pessoas e que está melhorando o treinamento de seus gerentes.
Lanche mordido
Enquanto a empresa era investigada, uma reclamação bizarra chamou a atenção. Um casal de Toronto, no Canadá, disse ter pedido uma pizza na noite de domingo pelo serviço de entrega UberEats.
Depois de meia hora de atraso, receberam outra coisa: um saco marrom com “sanduíches mofados, um parcialmente comido, acompanhado de dois discos redondos não identificáveis e uma salada que parecia ter sido feita na semana passada”, conforme descreveram ao site canadense CBC Toronto.
Além do número de ordem do pedido na nota que veio com o lanche ser diferente do feito pelo casal, a rota feita pelo motorista mostrava um desvio entre o endereço do restaurante e o local da entrega. O casal e o gerente do restaurante reclamaram para a Uber. Os consumidores receberam um voucher como restituição, mas sem maiores respostas.
Demissão de executivo
A investigação chegou ao alto escalão. Eric Alexander, presidente de negócios na Ásia-Pacífico, foi demitido por ter obtido de forma irregular os registros médicos de uma mulher estuprada por um motorista na Índia, em 2014.
O caso gerou comoção no país e foi repercutido no mundo todo, como um dos fatos marcantes contra a reputação da empresa. O aplicativo chegou a ser proibido na capital do país sob a alegação de falta de segurança.
Afastamento do presidente
O presidente da companhia deixou o posto por tempo indeterminado, no dia 13 de junho. Travis Kalanick afirmou, em e-mail enviado a funcionários, que se afastava por estar de luto pela morte da mãe, em um acidente de barco. O pai ficou gravemente ferido.
A notícia veio depois de uma reunião do conselho da empresa, na qual foi discutida a possibilidade de afastamento de Kalanick e mudanças na cultura da Uber.
Em comunicado enviado à imprensa, a empresa diz que as mudanças visam “melhorar nossa cultura” e “estabelecer processos e sistemas para garantir que os erros do passado não sejam repetidos”. Ela diz, ainda, que está “empenhada em recuperar a confiança de nossos funcionários, usuários e motoristas parceiros”.