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Indústria da maconha atrai aposentadas

Julie Weed © 2017 New York Times News Service A maconha legalizada criou uma indústria multibilionária, incluindo alguns empreendimentos periféricos e subprodutos interessantes, na qual até mesmo empresários mais improváveis têm encontrado nichos lucrativos. Entre eles estão Deb Baker, professora aposentada, e Barb Diner, ex-executiva de marketing, que vivem em Denver, Colorado, e são amigas […]

BARBARA DINER (À DIREITA) E DEB BAKER: as duas aposentadas entraram no negócio ao ver necessidade de embalagens seguras para crianças / Matt Nager/The New York Times
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Da Redação

Publicado em 30 de janeiro de 2017 às 18h20.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h09.

Julie Weed
© 2017 New York Times News Service

A maconha legalizada criou uma indústria multibilionária, incluindo alguns empreendimentos periféricos e subprodutos interessantes, na qual até mesmo empresários mais improváveis têm encontrado nichos lucrativos.

Entre eles estão Deb Baker, professora aposentada, e Barb Diner, ex-executiva de marketing, que vivem em Denver, Colorado, e são amigas há 27 anos. As duas perceberam que a vida tranquila da aposentadoria era um pouco monótona, por isso geralmente trocavam ideias sobre o que poderia ser interessante fazer e, de quebra, complementar a renda.

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E, em 2014, as futuras empresárias viram um nicho a ser preenchido: o das embalagens de maconha “à prova de crianças” que se adequariam às novas normas do estado.

Em uma visita de pesquisa a um dispensário, Barb e Deb notaram alguns recipientes utilizados ali que eram feitos com produtos químicos e exalavam um odor desagradável. Acharam que poderiam fazer melhor.

“Acreditamos que os consumidores iam querer armazenar seus produtos comestíveis ou medicamentos em recipientes adequados, aprovados pela FDA. Então, pensamos em produzi-los a partir da reciclagem de garrafas plásticas de leite”, contou Barb.

Elas decidiram fundar a Higher Standard Packaging em meados daquele ano e, desde então, venderam quase sete milhões de unidades de embalagem para dispensários de maconha do Colorado e de outras localidades.

Os primeiros produtos foram frascos brancos lisos de vários tamanhos, com tampa resistente às crianças, produzidos por parceiros que os fabricavam na Califórnia. Para encontrar clientes, ligaram para mais de 100 empresas, principalmente na área de Denver, que visitaram com amostras e listas de preço.

Já nos primeiros seis meses, a empresa começou a vender outros tipos de recipientes: tubos, tampas especiais e, mais recentemente, pequenos sacos para porções unitárias feitos de plástico resistente, abertos com o auxílio de uma tesoura, mas seu produto principal ainda é o recipiente plástico para a “flor”, termo usado para as folhas secas de maconha prontas para serem consumidas.

Seus filhos, já adultos, a princípio acharam que o empreendimento era um passatempo “divertido”; agora, estão orgulhosos do sucesso de suas mães, como contou Barb, e até ajudaram com tecnologia e pesquisa de mercado.

A Higher Standard Packaging tem atualmente cerca de 50 clientes, incluindo dispensários e fabricantes de alimentos, de concentrados e de outros produtos de cannabis. A maioria deles fica no Colorado, mas há planos para expandir nos Estados Unidos e no Canadá, conforme a legalização da maconha vai se expandindo.

A indústria da erva cresce rapidamente. O comércio legal de maconha recreativa e medicinal totalizou 6,9 bilhões de dólares em 2016, um aumento de 34 por cento em relação a 2015, de acordo com o Arcview Group, organização sediada na Califórnia que pesquisa e investe no setor.

Para os empresários que pensam em entrar para o setor, Barb e Deb recomendam uma alta tolerância ao risco, flexibilidade para mudar de curso rapidamente conforme ocorram mudanças de regulamentos e dedicação para atender às necessidades do mercado. “Os clientes vão precisar de você fora do horário comercial, haverá telefonemas nos fins de semana. A maconha cresce 24 horas por dia”, disse Deb.

Em um setor dominado por homens jovens, Deb, de 62 anos, e Barb, de 56, disseram que os vendedores de maconha costumavam olhar um pouco de soslaio quando duas mulheres entravam na loja. “Mas depois que dizíamos alguns palavrões, eles relaxavam”, contou Barb.

Hoje, são bem conhecidas e contam que os budtenders (vendedores de maconha no varejo) geralmente dizem: “As moças chegaram!”, quando entram nas lojas.

Trabalhando fora de casa, as “senhoras” comandam uma operação enxuta, comprando produtos conforme os vendem, para manter um risco mínimo. Não contrataram funcionários, nem aceitaram financiamento externo.

Com isso, o lucro veio logo no primeiro ano e conseguiram começar a receber salários. A empresa utiliza uma van de entrega que o sogro de 90 anos de Deb lhes deu de presente.

“Facilita muito a nossa vida”, contou ela.

Três anos depois, a dupla ainda depende da interação pessoal e de um serviço de qualidade para encontrar e manter clientes. Elas observam que há sites de venda de recipientes de baixo custo, fabricados na Ásia, mas evitam o modelo.

“Quanto mais interagimos face a face com nossos clientes, maior a chance que temos de identificar suas necessidades, desejos e sonhos. É um modelo que toma muito de nosso tempo, mas funciona”, afirmou Barb.

Deb diz que o sucesso dessa abordagem também pode ter algo a ver com as aparências. “Parecemos muito com as mães ou tias favoritas de nossos clientes, com óculos de leitura empoleirados no nariz, dando conselhos.”

Cerca de metade do seu crescimento na área vem do boca a boca e outra grande porcentagem, do crescimento dos clientes já existentes. “Dei aula por 30 anos, e existe um componente educacional nisso também”, disse Deb.

As conexões pessoais também abrem portas para colaborações: os produtos de maconha vêm em recipientes novos, incluindo cápsulas de café descartáveis, latas e outros e a Higher Standard Packaging está indo além de seus frascos brancos básicos, com parceria para personalizar a embalagem.

Mais de metade dos estados americanos tem alguma forma de maconha legalizada. Porém, conforme a indústria evolui, as leis também mudam. Novas normas vão surgindo, o que significa que empresas como a Higher Standard precisam mudar seus produtos e ser ágeis.

Em outubro de 2016, uma nova lei do Colorado exigiu que a embalagem de todos os produtos de cannabis comestíveis, tais como barras de chocolate e bolo de chocolate com infusão de maconha, trouxessem um símbolo indicando a presença de THC, ingrediente psicoativo da planta. Essa foi uma medida de segurança pública, destinada a assegurar que as pessoas diferenciassem esses produtos dos alimentos sem cannabis.

O custo do negócio aumentou, porque os fabricantes de produtos comestíveis precisaram criar novos moldes de produção de seus alimentos para incluir o símbolo. Como resultado, buscaram as áreas onde poderiam reduzir despesas, como a embalagem. Assim, Deb e Barb precisaram dedicar mais tempo para encontrar formas de acomodar as mudanças exigidas pelas novas leis e, ao mesmo tempo, oferecer produtos esteticamente agradáveis e econômicos.

Além disso, os métodos de pagamento ainda estão evoluindo na indústria de maconha legal. Embora muitos clientes da Higher Standard Packaging hoje tenham conta em bancos, Deb e Barb já se acostumaram a receber dinheiro vivo. Seu primeiro pagamento de um dispensário de cannabis de Denver foi típico: 5.400 dólares em notas pequenas e com cheiro de maconha.

Com medo de que o banco não aceitasse o depósito ou até mesmo fechasse sua conta, elas puseram o dinheiro na secadora de roupa de Deb, com algumas folhas de amaciante, para eliminar o cheiro.

Deb não tinha um cofre em casa, então a dupla escondeu o dinheiro no congelador até que pudesse levá-lo ao banco. Agora elas fazem piadas sobre “lavagem de dinheiro” e “dinheiro frio”, mas na época, transportar grandes quantias de notas era algo estressante, como conta Barb.

Deb fica maravilhada com a rapidez com que os lojistas e fornecedores de produtos de maconha adotam ideias inovadoras com profissionalismo. Na recente Conferência do Negócio de Maconha à qual compareceu, em Las Vegas, Barb viu novos produtos de mecanização, como podadores automáticos, misturas de nutrientes e iluminação de baixo consumo de energia projetada especificamente para os pés da erva.

“Na minha época, uma convenção de maconha eram seis pessoas em um dormitório da faculdade”, brincou ela.

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