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Herdeira da Disney: bônus da diretoria pagaria trabalhadores por meses

Empresa demitiu mais de 100.000 funcionários pela crise do coronavírus. Salário de executivos pagariam três meses dos trabalhadores, disse Abigail Disney

Abigail Disney (Michael Kovac/Getty Images)

Abigail Disney (Michael Kovac/Getty Images)

CR

Carolina Riveira

Publicado em 22 de abril de 2020 às 16h12.

Última atualização em 22 de abril de 2020 às 18h38.

A cineasta Abigail Disney, uma das herdeiras do conglomerado de entretenimento Disney, criticou a empresa por demitir funcionários e pelos altos bônus pagos a executivos. Em seu perfil no Twitter, a cineasta escreveu na terça-feira, 21, que a empresa deveria ter reduzido salários e outros pagamentos de executivos antes das demissões de mais de 100.000 trabalhadores anunciadas em meio à pandemia.

A Disney teve de fechar seus parques temáticos e cancelar lançamentos presenciais de filmes, o que impactou em larga escala o faturamento da companhia. A empresa demitiu neste mês os trabalhadores de seus parques e hotéis temáticos, o que, segundo a Disney, a fará economizar 500 milhões de dólares por mês.

A crítica de Abigail foi publicada em uma sequência de 22 postagens. Ela citou sobretudo o pagamento médio de 1,5 bilhão de dólares em dividendos para acionistas e bônus a executivos. "Isso pagaria por três meses de salário dos trabalhadores na linha de frente", escreveu.

Bob Iger, o presidente do conselho de administração (e então presidente-executivo até fevereiro deste ano) disse que vai abrir mão de seu salário fixo de 3 milhões de dólares ao ano (cerca de 250.000 dólares ao mês). Iger foi presidente da Disney por 15 anos. Ainda assim, no ano passado, boa parte dos rendimentos do executivo vieram em bônus e premiações, totalizando junto com o salário fixo 47 milhões de dólares em pagamentos. Em 2018, foram 66 milhões de dólares.

Embora parte desses rendimentos devam ser reduzidos automaticamente devido à performance ruim da empresa, a Disney não informou especificamente como ficará o bônus de seus diretores com a crise. Em suas postagens, Abigail escreveu que o salário fixo é parte pequena do rendimento dos executivos, citando também o novo presidente da Disney, Bob Chapek, que era diretor de parques antes de assumir o cargo de Iger. "Que tipo de pessoa está confortável com isso?", escreveu Abigail sobre a diferença salarial entre os dois executivos e os trabalhadores.

Nascida no estado da Califórnia, Abigail Disney tem 60 anos e estudou em prestigiadas universidades dos Estados Unidos, como Yale, Stanford e Columbia. Ela é neta direta de Roy E. Disney, que co-fundou a companhia junto a seu irmão mais velho, Walt Disney, o criador do personagem Mickey.

Abigail já havia criticado o pagamento de executivos da Disney anteriormente. No ano passado, a herdeira criticou o fato de Iger ganhar mais de 1.000 vezes o salário médio de um trabalhador da Disney.

"Me deixe ser muito clara. Eu gosto do Bob Iger. Eu NÃO falo pela minha família, apenas por mim mesma. Além de ter algumas ações (não muitas), eu não tenho mais poder sobre o que acontece lá do que qualquer um. Mas sob qualquer medida objetiva, uma razão de pagamento acima de 1.000 é insano", escreveu em maio de 2019.

Abigail já reclamou das condições de trabalho na Disney em uma visita a um dos parques da empresa. A herdeira é também parte do grupo The Patriotic Millionaires, um grupo de pessoas ricas que defendem aumento de taxação em mais ricos. No Fórum Econômico Mundial de Davos deste ano, o grupo enviou um pedido de aumento da taxação.

Parque da Disney fechado em Hong Kong: Dinsey+ não atenua prejuízo de empreendimentos sem funcionar (Tyrone Siu/Reuters)

Situação da Disney

A crise deve fazer a Disney perder bilhões de dólares neste ano. Embora tenha lançado em novembro do ano passado seu serviço de streaming Disney+, com os clássicos da companhia reunidos em uma plataforma própria, grande parte do faturamento da Disney ainda vinha do mundo físico.

Neste novo cenário, a rival no streaming Netflix superou duas vezes o valor de mercado da Disney na bolsa nas últimas semanas. Nesta quarta-feira, 22, a Disney valia 183 bilhões de dólares na NYSE, bolsa de Nova York. A Netflix valia 186 bilhões de dólares na Nasdaq, também em Nova York.

Na terça-feira, 21, a Netflix divulgou resultados do primeiro trimestre, que bateu recordes e foi o melhor de sua história até hoje. Beneficiada pela quarentena global, a companhia adicionou 16 milhões de novos assinantes, o dobro do esperado. Mais informações sobre a situação da Disney e os números do Disney+ devem ser conhecidos no próximo dia 5 de maio, quando a empresa divulga seus resultados do trimestre.

A Disney faturou 69,6 bilhões de dólares no último ano (com seu ano fiscal encerrado em setembro). O ano de 2019 também marcou, além do lançamento do Disney+, filmes refeitos com recordes de bilheteria (como "O Rei Leão" e "Aladim") e a conclusão da aquisição da 21st Century por 71 bilhões de dólares.

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