Goldman Sachs demite executiva em licença-maternidade nos EUA
Apenas 250.000 mulheres tiram a licença-maternidade remunerada a cada mês, nível que se mantêm praticamente inalterado desde a década de 1990
Da Redação
Publicado em 25 de novembro de 2018 às 06h00.
Última atualização em 25 de novembro de 2018 às 06h00.
Há dois anos, Tania Mirchandani, uma vice-presidente do Goldman Sachs Group em Los Angeles, contou ao chefe que estava grávida de seu terceiro filho. Ele não acreditou que ela conseguiria equilibrar uma família grande e seu emprego exigente, lembrou ela. São “muitas bocas para alimentar”, disse ele, segundo ela.
Mirchandani, que estava há 15 anos no Goldman Sachs, pensou que se havia alguém capaz de entender seu dilema, esse alguém seria seu supervisor . John Mallory, que na época era sócio do Goldman e uma estrela em ascensão que dirigia as operações de gestão de patrimônio para a costa oeste dos EUA, tinha quatro filhos.
Em outubro de 2016, semanas antes da data marcada para sua volta, Mallory ligou para Mirchandani com uma má notícia: ela tinha perdido o emprego. “Estou de licença-maternidade, John”, lembra ela de ter-lhe dito enquanto tentava conter as lágrimas.
Mirchandani detalhou sua demissão em 2017, em uma queixa por discriminação de gênero contra o Goldman – documento que só foi divulgado recentemente, com um pedido de registros públicos feito ao Departamento de Emprego e Habitação da Califórnia.
Mallory encaminhou perguntas para o Goldman, que negou qualquer tendenciosidade na demissão de Mirchandani. O porta-voz Michael DuVally disse que ela foi demitida “por razões de planejamento empresarial estratégico” que não tiveram nenhuma relação com a gravidez nem com a licença-maternidade. Como parte de uma análise da divisão de gestão de patrimônio privado da empresa, gerentes do sexo masculino também perderam o emprego, disse ele.
“O Goldman Sachs tem o compromisso de prestar apoio aos funcionários que tiveram filhos e leva suas obrigações e a leis correspondentes muito a sério”, disse DuVally por e-mail.
Em sua queixa e em entrevista à Bloomberg, Mirchandani alegou ter sido demitida por tirar os quatro meses de licença remunerada do Goldman. Em processo de arbitragem ainda pendente na Autoridade Reguladora do Setor Financeiro, ela exige uma indenização de mais de US$ 1,5 milhão.
A disputa reflete uma tensão nas corporações dos EUA, especialmente em Wall Street. O Goldman e outras instituições de elite fomentam políticas mais generosas com as famílias como parte de iniciativas amplamente divulgadas em prol da diversidade, que são consideradas essenciais para atrair profissionais.
No entanto, apesar dessas iniciativas, apenas 250.000 mulheres tiram a licença-maternidade remunerada a cada mês, nível que se mantêm praticamente inalterado desde a década de 1990, segundo um estudo de 2017 de Jay Zagorsky, professor da faculdade de Administração da Universidade de Boston. Esse número pode indicar que as mulheres evitam tirar licença pelo receio de prejudicar sua carreira, disse ele. As empresas dos EUA continuam enfrentando milhares de processos por discriminação por gravidez a cada ano, segundo dados do governo federal.
Quando Mallory ligou para demitir Mirchandani em 2016, ele fez alusão a problemas que tinha tido com o desempenho dela, embora não tenham sido dadas advertências prévias, disse ela em entrevista. Mas Mirchandani afirma ter sido a única pessoa demitida no escritório de Los Angeles e diz que ela sabe de assessores do sexo masculino que não perderam o emprego apesar de terem tido um desempenho pior que o dela.
DuVally disse que o Goldman “nega que Mirchandani tenha sido demitida por qualquer outro motivo além do planejamento empresarial”.