Decolagem de voo Gol com MAX 737 da Boeing: pandemia aumentou importância de união com Smiles (Array/Reprodução)
Muitos passageiros frequentes e turistas de primeira viagem se perguntaram o que muda, na prática, depois que Gol e Avianca anunciaram na manhã desta quarta-feira, 11, um acordo para a criação do Grupo Abra, holding que controlará as duas companhias aéreas.
Além de controlar a Avianca e a Gol, o Grupo Abra também terá participação não-controladora nas operações da Viva Air, na Colômbia e no Peru, e uma participação minoritária na Sky Airline, no Chile.
A transação, que ainda precisa passar por aprovações regulatórias, tem previsão de ser concluída no segundo semestre de 2022. A ideia da união é “criar um grupo líder em transporte aéreo na América Latina”, segundo comunicado enviado pelas empresas.
Ainda segundo o comunicado, Gol e Avianca manterão operações independentes, mantendo suas respectivas marcas, culturas e lideranças próprias. Porém, a ideia é que, com a nova organização, as companhias se beneficiem de “ maior eficiência e investimentos feitos pelo mesmo grupo controlador", disseram as empresas.
Mesmo com operações independentes, o caminho natural é que as duas companhias realizem ajustes na sua malha aérea em busca de otimização de custos, principalmente com a criação de acordos de codeshare, nos quais passageiros da Gol poderão viajar em aeronaves da Avianca, e vice-versa. Algo que, de imediato, pode acarretar em uma diminuição da oferta de voos.
“Não faz sentido, por exemplo, ter dois voos saindo do Brasil para a Argentina, um da Avianca e outro da Gol. A tendência natural é que as empresas maximizem as operações, criando rotas inteligentes para não ter essa sobreposição de destinos”, diz Renan Melo, advogado do escritório ASBZ Advogados e membro da Comissão Especial de Direito Aeronáutico da OAB.
Porém, embora a oferta de voos disponíveis possa diminuir, em contrapartida a quantidade de destinos pode aumentar. Hoje, por exemplo, não há voos diretos das principais capitais brasileiras para cidades colombianas secundárias, como Cali. Algo que pode mudar com a união da Gol e da Avianca.
“Mesmo que não haja voos diretos, a aquisição por parte dos clientes será facilitada, por meio de um contrato só. As duas empresas possuem uma característica em comum que é terem uma malha aérea que cobre muitas regiões dos dois países. Então, ambas podem aproveitar dessa estrutura que já existe. Com isso, os brasileiros poderão chegar com mais facilidade em cidades do interior da Colômbia, do Peru e do Chile”, afirma Melo.
A Avianca conta com uma frota de 110 aeronaves, operando 130 rotas na América Latina. Já a Gol conta com 142 aeronaves e, só no Brasil, opera mais de 35 destinos.
A união das companhias, sobretudo, tem como foco redução de custos, algo que se torna ainda mais urgente em meio ao cenário de alta dos combustíveis. No acumulado do ano, o querosene de aviação, por exemplo, disparou 48,7% segundo a Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas).
"O Abra fornecerá uma plataforma para que as companhias aéreas operacionais reduzam ainda mais os custos, obtenham maiores economias de escala, continuem a operar uma frota de aeronaves de última geração, e expandam suas rotas, serviços, ofertas de produtos e programas de fidelidade", diz o comunicado.
Entre os custos que poderão ser reduzidos estão, por exemplo, contratos de slots, manutenção de equipe em solo e até mesmo custos com a manutenção de escritórios próprios nos aeroportos. Contudo, a possibilidade de que essa economia seja repassada pro consumidor final é algo incerto.
“Isso pode contribuir para baratear os preços dos bilhetes, mas o cenário para as companhias aéreas é bastante complicado, com a pressão da alta das commodities. Então, o que pode acontecer é somente uma atenuação do aumento dos preços no final das contas”, diz Melo.