Uber: Segundo a reportagem, funcionários recebiam dezenas de mensagens durante a noite ou em finais de semana (David Paul Morris/Bloomberg)
Karin Salomão
Publicado em 19 de julho de 2017 às 12h58.
Última atualização em 19 de julho de 2017 às 13h16.
São Paulo - Longas horas de trabalho, pressão por resultado, constrangimentos e mensagens urgentes fora do horário de expediente são algumas das experiências negativas vividas dentro da Uber.
Uma nova reportagem do Buzzfeed, que entrevistou cerca de 25 pessoas, expõe ainda mais problemas na cultura interna da empresa de tecnologia, em um momento em que ela sofre com denúncias de machismo, abuso e assédio sexual.
Ela cresceu muito rapidamente nos últimos anos. Para sustentar essa expansão, colaboradores eram obrigados a trabalhar mais de 10 horas por dia, além de muitas horas extras não pagas.
Segundo a reportagem, funcionários recebiam dezenas de mensagens durante a noite ou em finais de semana com assuntos urgentes ou problemas que precisavam ser solucionados imediatamente.
Um engenheiro contou ao Buzzfeed que, durante um período, ele era acordado quase que diariamente de madrugada para consertar algo. Com esta rotina, ele dormia entre 3 a 4 horas por noite.
Para aqueles que se recusavam a atender o chamado de urgência da empresa, as consequências podiam ser sérias. Um dos funcionários entrevistados disse ter sido humilhado perante a companhia inteira. Isso porque em 2015, um erro em uma base de dados afetou as operações globais da companhia e ele não respondeu imediatamente ao pedido para consertar a falha.
Como consequência, um dos diretores da Uber, Thuan Pham, mandou um email para toda a empresa relatando o problema ocorrido. Ainda que o nome do funcionário não tenha sido citado, era possível saber quem estava de plantão no momento pela agenda interna.
Mesmo depois de receber críticas sobre a maneira de lidar com a questão, Pham reforçou seu posicionamento em outro email para a empresa, poucos dias depois.
"Não quero criar uma cultura na qual as pessoas tenham medo de errar por quererem avançar rapidamente e tomar riscos espertos, mas também não quero uma cultura de trabalho de qualidade inferior e causamos quebras que são facilmente evitáveis", disse ele.
Além disso, a empresa premiava e promovia os que mais se dedicavam ao trabalho, mesmo que isso significasse noites sem dormir e finais de semana sem folga, e demitia aqueles que não correspondiam a essa expectativa. Ansiedade, depressão e esgotamento são só algumas das consequências desse ambiente tóxico para os funcionários.
As denúncias de assédio sexual que ocorriam dentro da empresa levaram a uma investigação interna. Investidores pediram a renúncia de Travis Kalanick, cofundador do Uber, que se afastou e, mais tarde, renunciou ao cargo de presidente.
Atualmente, a Uber busca mudar esses valores que perduram desde a sua criação. Não será um trabalho fácil.