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Empréstimos da Caixa a favor do governo atrasa o banco

Os investidores em títulos estão perdendo a confiança na Caixa e criticam o banco por estar tentando ajudar a mascarar a piora das finanças do Brasil


	Agência da Caixa: a Caixa não está dando sinais de controlar os empréstimos e projeta um crescimento do crédito de até 28% neste ano enquanto o BNDES reduz sua generosidade
 (Tânia Rêgo/ABr)

Agência da Caixa: a Caixa não está dando sinais de controlar os empréstimos e projeta um crescimento do crédito de até 28% neste ano enquanto o BNDES reduz sua generosidade (Tânia Rêgo/ABr)

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Da Redação

Publicado em 20 de janeiro de 2014 às 13h50.

São Paulo - Os investidores em títulos estão perdendo a confiança na Caixa Econômica Federal porque o banco estatal não consegue frear o crescimento dos empréstimos e enfrenta críticas por estar tentando ajudar a mascarar a piora das finanças do Brasil.

Os US$ 1,25 bilhão em notas do credor com vencimento em 2018 tem um rendimento de 2,05 pontos porcentuais a mais do que a dívida do BNDES, outro banco federal. Em 31 de dezembro, a brecha era de 1,69 pontos porcentuais. Trata-se do maior valor desde que os títulos foram emitidos em setembro.

A Caixa não está dando sinais de controlar os empréstimos. O vice-presidente Márcio Percival disse ao jornal Valor Econômico que ele espera um crescimento do crédito de até 28 por cento neste ano enquanto o BNDES reduz sua generosidade.

No mês passado, o Ministro da Fazenda, Guido Mantega, cancelou um empréstimo de R$ 2,6 bilhões (US$ 1,1 bilhão) feito pela Caixa a uma empresa federal de serviços públicos depois que senadores da oposição disseram que a iniciativa fazia parte de um esforço para ajudar o governo a cumprir com suas metas orçamentárias porque o crescimento econômico lento mina a receita fiscal.

“Quando a carteira de empréstimos de alguém cresce tanto, invariavelmente há problemas”, disse Edwin Gutiérrez, gerente de recursos da Aberdeen Asset Management Plc que supervisiona US$ 10 bilhões, incluindo títulos da Caixa e do BNDES. “O perfil foi elevado com essas travessuras fiscais. É foi por isso que Mantega teve que dar para trás com esse empréstimo da Caixa”.


O déficit orçamentário do governo elevou-se até o equivalente a 3,4 por cento do PIB em outubro, a maior brecha desde 2009, antes de estreitar-se para 3 por cento em novembro.

Os títulos da Caixa também renderam menos do que o esperado depois que legisladores da oposição alegaram que o banco fechou ilegalmente contas de poupança e confiscou fundos de clientes, uma medida que ajudou a aumentar os lucros, segundo uma notícia da revista Istoé.

Em um comunicado publicado em 10 de janeiro, o banco disse que eliminará R$ 420 milhões da receita líquida dos resultados financeiros de 2013 para compensar os lucros registrados em 2012 derivados do fechamento das contas.

Interrogatório dos senadores

Aécio Neves, senador que concorrerá nas eleições contra a presidente Dilma Rousseff neste ano, disse na semana passada que chamaria ao Congresso o CEO da Caixa, Jorge Hereda, e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, para explicarem por que o banco fechou contas com R$ 719 milhões, segundo um comunicado no seu site.

Neves disse que a Caixa estava procurando “engordar” os lucros e aumentar a renda para o governo, que recebe dividendos e pagamentos de impostos do banco.


“Os investidores já estão preocupados com o fato de este ser um ano eleitoral, e agora acontece isso”, disse Mansueto Almeida, economista do instituto federal de pesquisa IPEA em Brasília.

“Parece que a Caixa está tentando enganar o mercado. Eles poderiam ter incluído isso em uma nota no seu balance, mas em vez disso tudo foi muito nebuloso. E isso vem de uma instituição que está tendo muito crescimento do crédito”.

Endividamento recorde

Em novembro, Mantega disse que os empréstimos do BNDES cairão até 20 por cento em 2014 para ajudar a reduzir os empréstimos dos bancos federais, que levaram a dívida bruta do Brasil até o equivalente a 58,5 por cento do PIB em novembro, marca próxima à mais alta em dois anos.

Gutiérrez, da Aberdeen, disse que ele não está vendo o mesmo tipo de esforço nos funcionários da Caixa, o maior credor hipotecário do País, ainda que o endividamento dos brasileiros chegasse ao recorde de 45,4 por cento da sua renda em 12 meses em outubro.

“A proliferação de empréstimos causará mais problemas na Caixa do que no BNDES”, disse Gutiérrez, da Aberdeen. “Trata-se mesmo da taxa de crescimento”.

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