PF: "As fórmulas nem sempre atendiam ao regulatório do Ministério da Agricultura", declarou a ex-funcionária (Geraldo Bubniak/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 6 de março de 2018 às 22h30.
São Paulo - A ex-funcionária da BRF, na unidade de Chapecó (SC), Tatiane Alviero, que trabalhava com rações para engorda de frangos, suínos e perus, confirmou em depoimento à Polícia Federal nesta terça-feira, 6, que relatou internamente fraudes nas informações de produto repassadas aos órgãos de fiscalização.
"As fórmulas nem sempre atendiam ao regulatório do Ministério da Agricultura. Por essa razão, era necessário então fazer uma adequação para que deixassem o rótulo do Premix adequado à norma", declarou Tatiana, uma das 11 pessoas presas na segunda-feira, 5, na Operação Trapaça - terceira fase da Carne Fraca. Após depoimento, ela foi libertada. "A fraude era de conhecimento dos superiores da fábrica."
O Premix é utilizado como complemento vitamínico e mineral às rações fabricadas pela empresa. A suposta burla investigada pela PF e Ministério Público Federal estaria em "inserir componentes não permitidos, seja por alterar as porcentagens dos componentes indicadas nas etiquetas".
Uma sequência de e-mails, iniciada em 23 de fevereiro de 2015, intitulada "Alterações Premix - Auditorias/Fiscalização Mapa" de Tatiane Alviero para Fabiana Rassweiller de Souza relata "situação que estava ocorrendo rotineiramente na fábrica de Premix de Chapecó", sobre necessidade de "burlar" em muitos casos rastreabilidade do material para apresentação em auditorias.
As fraudes no composto integram uma das quatro frentes de "fatos ilícitos" que a Carne Fraca apura e levaram na segunda-feira para a cadeia 11 pessoas ligadas à BRF, entre elas o ex-presidente do grupo Pedro de Andrade Faria (2015 a 2017).
Tatiane enfatiza em um dos e-mails que em um lote do dia 20 de fevereiro de 2015 tiveram que alterar 65% dos Premixes. E escreve: "Como raramente declaramos corretamente os produtos, é necessário reavaliar todos".
Na sequência de e-mails, no dia 24 de fevereiro, Edenir Medeiros da Silva - identificado como gerente de Produção e Operações Agropecuárias à época, desligado da BRF em maio de 2015 - escreve para Tatiane e questiona quem seria o responsável pelas formulações do Premix.
A funcionária responde quem são os responsáveis na empresa e que "existe uma lista do MAPA com os parâmetros mínimos e máximos permitidos por fase de produção, o que por vezes não é atendido, pois utilizam produtos a mais, tendo que BURLAR os relatórios encaminhados ao MAPA".
No e-mail, Tatiane reforça a Edenir "sobre a utilização irregular de medicamentos por unidades e que precisam ocultá-los nas auditorias" e responde a Edenir Medeiros, que questiona se a BRF "teria como andar dentro da lei": "Ter tem, mas hoje é uma estratégia da empresa".
Ouvida nesta terça-feira, 6, pela PF, ela confirmou o conteúdo dos e-mails e explicou suas preocupações e como ocorriam as adulterações nos rótulos dos produtos para adequação às normas em caso de fiscalização.
A BRF informou que os processos de produção do Premix "seguem normas técnicas nacionais e internacionais" e pela rastreabilidade do produto é possível identificar tudo o que foi incluído.
"As fábricas da BRF que produzem o Premix são registradas e certificadas pelo MAPA", diz nota da empresa. "A última auditoria do MAPA na BRF ocorreu em outubro de 2017, e todos os parâmetros estavam devidamente dentro das normas."
Segundo a BRF, "os e-mails revelados pela investigação em curso são de três anos atrás". "O teor das mensagens está sendo investigado pela empresa."
O grupo BRF informou na segunda-feira, 5, que a empresa está mobilizada para prestar todos os esclarecimentos à sociedade e que segue normas brasileiras e internacionais.