Rodrigo Garcia, da Petina: “Depois que algumas lojas tiveram sucesso, outras começaram a nos procurar” (Petina/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 16 de janeiro de 2025 às 08h45.
Última atualização em 16 de janeiro de 2025 às 09h34.
O Brás não é apenas um bairro em São Paulo. É um fenômeno do comércio popular. Suas ruas movimentadas e a feirinha da madrugada fazem parte do imaginário de sacoleiros e comerciantes de todo o Brasil. É também o maior polo atacadista de moda da América Latina, com 15 mil estabelecimentos e um faturamento anual de 12 bilhões de reais.
Mas o sucesso da região ainda depende muito do físico: lojas lotadas e compradores acordando de madrugada para conseguir as melhores peças.
Rodrigo Garcia, fundador da startup Petina Soluções Digitais, está mudando esse cenário. A empresa dele já digitalizou — em outras palavras, colocou na internet — mais de 500 lojistas do Brás.
Com essa experiência, agora mira o Bom Retiro, outro polo de moda da capital paulista, e planeja expandir para outros estados. Em 2024, a Petina faturou cerca de 35 milhões de reais.
Segundo ele, o maior desafio foi convencer lojistas a apostar na venda online.
“A pandemia ajudou bastante nesse processo, mas muitos ainda têm receio de como o cliente vai reagir ao ver a marca vendendo direto no marketplace”, diz. A prova social foi essencial: “Depois que algumas lojas tiveram sucesso, outras começaram a nos procurar”.
Fundada em 2015, a Petina nasceu da experiência de Rodrigo Garcia no comércio digital.
Ele começou com um e-commerce próprio e percebeu que muitas indústrias tinham dificuldade para operar no ambiente online. Assim, criou uma consultoria para ajudar empresas a venderem diretamente ao consumidor final via marketplaces.
Hoje, a Petina atende cerca de 3.600 clientes, incluindo gigantes como Nike, Lupo e Puket. “Essas marcas nos procuram porque querem eficiência operacional e resultados. Nós fazemos toda a gestão, desde o cadastro e precificação dos produtos até a logística. Isso inclui campanhas promocionais e publicidade paga nos marketplaces”, afirma.
No Brás, o modelo combina tecnologia e mentoria.
“O lojista não precisa apenas de um cadastro no site", diz. "Ele precisa de fotos profissionais, precificação estratégica e uma logística eficiente para competir”.
O Brás é um universo à parte. Com 55 ruas comerciais e 400.000 pessoas circulando diariamente, é um mercado de alta velocidade e informalidade.
A entrada da Petina no bairro não foi fácil. “O lojista do Brás é muito ágil, mas a maioria nunca parou para estruturar uma operação digital", diz. "No início, tivemos muita resistência”.
O sucesso veio quando lojistas começaram a perceber os resultados. “Temos clientes que hoje vendem quase 1 milhão de reais por mês no marketplace. Isso mostra o potencial que o digital pode trazer”, afirma.
Com o Brás consolidado, a Petina agora leva seu modelo ao Bom Retiro. A região, conhecida por uma moda mais sofisticada e boutiques, também enfrenta desafios. “É um público diferente, com produtos mais caros e menor volume de vendas. Mas o potencial é enorme”, diz Rodrigo.
Além disso, a Petina está de olho em polos de moda no Paraná e em Pernambuco. Santa Cruz do Capibaribe, por exemplo, concentra 15.000 confecções, mas ainda tem um mercado digital pouco explorado.
“Quase 30% dos comerciantes de lá não sabem o que é um marketplace. Isso mostra como temos espaço para crescer”, afirma.
Para 2025, a Petina projeta faturar 60 milhões de reais. Além de expandir para novos mercados, a empresa quer consolidar sua posição como referência na digitalização do comércio popular.
“A moda no Brasil ainda tem muito espaço para crescer online. Nosso trabalho é mostrar para os lojistas que o digital é uma extensão do físico, e não um concorrente”, afirma Rodrigo.
Com modelos testados e resultados concretos, a Petina é prova de que o futuro do comércio popular passa, também, pela internet.