Mentoria dá suporte para que estudantes se tornem autores de seus próprios caminhos. (Arquivo Pessoal / Colégio Rio Branco Campinas)
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Publicado em 5 de dezembro de 2025 às 12h16.
Última atualização em 5 de dezembro de 2025 às 15h26.
Cada estudante tem um ritmo, um interesse, um sonho. Mas as escolas costumam oferecer o mesmo percurso para todos. O resultado é quase inevitável: desalinhamento de expectativas, ansiedade, perda de sentido.
Nos últimos anos, esses sinais ficaram mais evidentes e pressionaram as instituições a rever como acompanham seus alunos. É o caso do Colégio Rio Branco Campinas, que há três anos rompeu com o modelo único e criou um programa de mentoria individualizada para alunos do 5º ao 3º ano do médio.
A proposta é apoiar cada jovem a desenvolver visão de futuro, autonomia, ética e conhecimento sobre o próprio caminho. “Queremos que os alunos tenham uma visão crítica do que é estabelecido para eles e se tornem autores dos próprios desejos e não vítima dos desejos que querem que eles tenham”, afirma Gustavo Aguiar, professor do Rio Branco Campinas, coordenador da iniciativa e responsável pela formação dos professores mentores.
Professores assumem papel de mentores e ajudam jovens a transformar rotina e desempenho. (Arquivo Pessoal / Colégio Rio Branco Campinas)
Nas séries iniciais, o acompanhamento acontece dentro da grade curricular, com períodos curtos para conversas individuais. São encontros de cerca de 15 minutos que exploram rotina, organização, hábitos de estudo e bem-estar.
No 6º ano, quando os alunos passam a ter vários docentes, a escola escolhe professores com maior contato com a turma para assumir o papel de tutores. A partir de 2026, 7º e 8º anos entrarão gradualmente no programa.
Do 9º ano ao ensino médio, o formato se consolida: encontros individuais de 45 minutos, presenciais ou remotos, agendados pelos próprios alunos. A escolha do professor mentor é feita com base no perfil e interesse dos alunos e nas áreas de conhecimento e experiência do docente.
O programa prevê três grandes reuniões por ano, além de conversas extras quando a situação exige. Os temas se repetem porque fazem parte da vida real: cansaço, uso de telas, planejamento, prioridades, metas, identidade.
Quando surgem sinais emocionais relevantes, o mentor aciona imediatamente a orientação pedagógica, o apoio psicológico ou as famílias.
Nos encontros de mentoria os alunos são convidados a ingressarem em cursos de aprofundamento e participarem de olimpíadas do conhecimento, de acordo com seus talentos e interesses.
O projeto nasceu da percepção que o colégio atende um público bastante diverso. A proximidade com universidades e centros de pesquisa de Campinas atrai famílias que valorizam educação, mas que chegam com expectativas e perfis distintos. Há alunos que sonham com universidades internacionais, outros focam em vestibulares tradicionais, alguns se dedicam ao esporte ou às artes e muitos ainda não sabem para onde ir.
A direção percebeu que a dificuldade central não estava no domínio dos conteúdos escolares, mas na maneira como os estudantes lidam com a rotina escolar, os objetivos pessoais e as aspirações para o futuro.
“O que impede um aluno de avançar, muitas vezes, não tem relação com a aula. Está no cansaço, na desorganização, no imediatismo trazido pelas telas”, diz Aguiar.
Sandra Pavan, coordenadora pedagógica geral, reforça a intenção formativa do projeto. “Se não há intencionalidade na formação, o jovem chega à vida adulta sem saber quem é e sem critério para fazer escolhas”, diz.
Os primeiros resultados surgiram na rotina. Alunos passam a organizar melhor o tempo, identificam mais rápido quando precisam de ajuda, compreendem limites, ajustam expectativas e experimentam equilíbrio entre estudo e lazer.
A aluna Marina Akiko Tsukumo Seixas, de 16 anos, que participa da mentoria, percebe o impacto. “A mentoria me ajudou a pensar no futuro de um jeito mais leve. Descobri formas melhores de manter o foco e também de fazer pausas. Foi importante entender como lidar com as emoções da escola e encontrar atividades para relaxar”, conta ela, que está na 2ª série do ensino médio.
Iniciativa quer formar alunos capazes de pensar criticamente e planejar o futuro com autonomia. (Arquivo Pessoal / Colégio Rio Branco Campinas)
Mas Marina também reconhece que há desafios. “O mais difícil foi encontrar um jeito de diminuir o estresse quando a demanda é grande.”
Para os professores, o processo também é transformador. Aguiar relata que muitos docentes aplicaram em suas próprias rotinas os princípios da mentoria. Não estava previsto, mas virou parte do projeto. “Quando o professor percebe mudanças na própria vida, ele replica com convicção”, afirma Gustavo.
Para os próximos anos, a meta é expandir a mentoria para todas as turmas do 5º ao 3º ano e consolidá-la como parte da cultura da escola. A direção quer que a autoavaliação se torne prática permanente, não um evento pontual.
A coordenadora Sandra defende que o objetivo é formar jovens capazes de pensar criticamente, organizar a própria vida e agir com responsabilidade coletiva. De acordo com ela, ao fazer isso com proximidade e método, o percurso deixa de ser uma linha e passa a ser um caminho que faz sentido para cada estudante.