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Ele começou a Rodonaves entregando cargas com bicicleta. Agora, fatura R$ 2 bilhões e investe no Sul

Empresa acaba de anunciar um investimento de 42,5 milhões de reais para ampliar em quatro vezes a capacidade de processamento de cargas no Sul

João Naves, da Rodonaves: ele começou entregando as mercadorias em uma bicicleta na rodoviária de Ribeirão Preto (Rodonaves/Divulgação)

João Naves, da Rodonaves: ele começou entregando as mercadorias em uma bicicleta na rodoviária de Ribeirão Preto (Rodonaves/Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 24 de agosto de 2023 às 16h00.

Última atualização em 24 de agosto de 2023 às 17h34.

Os dez anos em que trabalhou na rodoviária de Ribeirão Preto vendendo bilhetes nos anos 1970 ajudaram João Naves a enxergar uma demanda que começava a crescer. As pessoas estavam usando os ônibus para despachar mercadorias que precisavam que chegassem rapidamente em seus destinos. Mas a logística esbarrava em um problema: para retirar as mercadorias, as pessoas precisavam ir, diariamente, para a rodoviária.

Naves quis resolver esse problema, e, em 1980, alugou um pequeno box na rodoviária em que até então trabalhava. Lá, ele pegava as mercadorias que chegavam nos ônibus e entregava, de bicicleta, até as casas e escritórios das pessoas. 

Foi assim que nasceu a Rodonaves, que hoje é um conglomerado de empresas de transportes que, juntas, faturaram 2,08 bilhões de reais em 2022. E que devem bater os 2,42 bilhões de reais neste ano. 

“Tivemos dificuldades, momentos de reflexão, mas o crescimento veio de uma forma saudável”, diz Naves. “Nesses 43 anos, enfrentamos alguns momentos tensos no país, mas sempre chamei minha equipe e falei para vermos a crise como uma oportunidade para achar novas soluções. Em toda crise, nós crescemos”.

Entre as apostas para crescer, sempre esteve o entendimento de que era preciso investir em infraestrutura - hoje, a Rodonaves tem mais de 20 centros de distribuição próprios pelo país. E esse entendimento continua: a empresa acaba de anunciar um investimento de 42,5 milhões de reais para ampliar em quatro vezes a capacidade de processamento de cargas na região Sul. 

Quais são os investimentos da Rodonaves no Sul 

Com uma estratégia de aumentar a capilaridade na região, a Rodonaves investiu 42,5 milhões de reais no Sul do país. Os recursos foram destinados aos Centros de Transferências de Cargas (CTCs), como chamam os centros de distribuição, em Itajaí, Chapecó e Curitibanos, todos em Santa Catarina. O aporte vai expandir em quatro vezes a capacidade de carga processada na região.

Atualmente, a região representa 37% das movimentações de cargas da RTE Rodonaves, com 97.000 clientes ativos só no último ano. Nos três primeiros meses deste ano, a soma do faturamento do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul foi de cerca de 300 milhões de reais.

Em Itajaí, inclusive, é um novo centro logístico, com 7.100 metros quadrados. A unidade será responsável por realizar descarregamento, carregamento e transferência de cargas, e ainda tem conexão com outros postos da companhia nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Para a operação, ainda serão abertas 150 vagas de emprego. 

“Nós enxergamos Itajaí como um dos melhores pontos para logística”, afirma Naves. “Poucos têm essa distribuição como lá, por isso que investimos um bom valor, e vamos criar novas rotas regionais”.

Entenda os investimentos:

  • Novo CTC em Itajaí, de 7.100 metros quadrados
  • Aumento da operação em Chapecó, com expansão da capacidade diária de processamento de 300 para 500 toneladas por dia
  • Novo CTC em Curitibanos 

Como a Rodonaves cresceu

A operação com bicicleta na rodoviária de Ribeirão Preto durou apenas três meses. Foi o tempo da demanda crescer tanto ao ponto de Naves precisar comprar um outro veículo: uma kombi. 

O primeiro caminhão só aparece mesmo quando a viação Santa Cruz entra na história. Ela coloca um veículo pesado à disposição de Naves e vira sócia do negócio. A parceria dura até 1994, quando Naves passa por dois dos seus principais desafios. 

Um deles é lidar com o fim da parceria, o que reduziu o número de caminhões e de praças que ele tinha. “Tivemos que, sozinhos, desbravar novas cidades, unidades de negócios”, afirma Naves. “Eu ia de carro até as cidades de outros Estados oferecer nossos serviços de transporte”. 

Outro desafio foi um vendaval que destruiu muito da estrutura que a Rodonaves tinha: o telhado, caminhões, estruturas inteiras foram para o chão.

“Foi um momento de choque, porque estávamos a menos de cinco meses trabalhando sozinhos, sem a parceria da Santa Cruz”, diz. “Os clientes nos ajudaram muito nessa época, continuaram nos pagando, aceitando condições diferentes de pagamento, o seguro também ajudou, e a própria comunidade. As empresas de reforma venderam os materiais e aceitaram o pagamento em 60 dias”. 

No final daquele fatídico ano de 1994, a Rodonaves já estava voltando a crescer e a comprar: adquiriu dois caminhões novos. Em 1995, a mesma coisa. E fecharam aquele ano atendendo mais de 200 cidades. “E aí, não parou mais”, diz Naves.

Qual o modelo de crescimento da Rodonaves

A Rodonaves cresceu bastante fechando parcerias com outras pequenas transportadoras e distribuidoras regionais. Também abriu filiais próprias.

“Depois de Ribeirão, arrumei um parceiro só para fazer o sul de Minas Gerais”, diz. “Depois, fui para o Paraná. Queria que fosse com parceiros, mas não consegui e abri uma filial própria. Depois, Goiás, Brasília, Santa Catarina, Mato Grosso e Rio Grande do Sul”. 

Hoje, a Rodonaves atende praticamente todo o país. Falta ainda parte do Norte e do Nordeste, mas já há projetos em andamento para atender também empresas e frete fracionado por lá. 

“Tem muito mais parceria que filiais”, afirma Naves. “Os parceiros deram certo. A responsabilidade é compartilhada. Sempre dividimos o frete com todos eles”. 

Atualmente, a perspectiva de crescimento está atrelada há dois fatores: o e-commerce e o agronegócio. Sobre as vendas pela internet,  mesmo com uma arrefecida após o boom da pandemia, as vendas no varejo digital, por exemplo, cresceram 20,1% no primeiro semestre de 2023, quando comparadas com o mesmo período do ano passado, de acordo com dados da Linx. E o agronegócio é a principal aposta do grupo neste momento. Estão fechando contratos para ampliar os serviços nesse segmento, inclusive transportando maquinários e implementos agrícolas.

Qual a estrutura da Rodonaves hoje

Hoje a Rodonaves virou um grupo. A principal empresa, de logística e frete, é a RTE Rodonaves, que faturou 1,6 bilhão de reais em 2022. O negócio atua em mais de 5.000 cidades e tem mais de 300.000 clientes. São mais de 600.000 toneladas de mercadorias transportadas por ano. 

De frota, contando próprias e parceiros, contam com 3.100 caminhões. A cada ano, compram e trocam cerca de 250 veículos. São cerca de 10.000 funcionários. 

Além da RTE Rodonaves, o grupo conta com outras frentes de negócio:

  • Rodonaves Corretora de Seguros: criada para atender inicialmente a frota da RTE Rodonaves, mas hoje também atua com clientes externos
  • RTE Agro: especializada em logística para o agronegócio
  • Rodonaves Restauradora Multimarcas: presta serviço de funilaria, pintura e mecânica para caminhões e implementos rodoviários
  • Rodonaves Locação de Veículos: especializada no segmento de caminhões leves, pesados e extrapesados e é focada em locação e comércio de veículos e implementos novos ou seminovos
  • Rodonaves Iveco: concessionária de caminhões

“Só vou me aposentar em 2050” 

A primeira coisa que Naves falou à reportagem da EXAME em seu escritório em Ribeirão Preto foi: “nasci em 1950 e vou me aposentar em 2050”. O trabalho está no passado, presente e futuro do executivo de 73 anos. 

Nascido em Altinópolis, a 68 quilômetros de Ribeirão Preto, morou também em Minas Gerais antes de fincar moradia em Ribeirão, onde trabalhou, dos 19 aos 29 anos, como bilheteiro da rodoviária. 

Ao falar sobre a empresa, Naves ainda fala muito sobre os planos futuros. Segundo ele, ainda têm “muitas laranjas boas que ainda não estão apanhando”. Até 2025, vão investir mais de 250 milhões de reais para dobrar a estrutura em estados como Minas Gerais e São Paulo. 

“Queremos dobrar de tamanho e de faturamento. E de frota”, diz Naves. Mas há desafios pela frente: um deles é a eletrificação da rota, uma demanda que começa a aparecer do mercado e dos próprios consumidores. A empresa já fez os primeiros testes, mas será uma grande (e cara) missão transformar uma frota gigantesca, atrelado ainda a outras questões, como infraestrutura para receber esses tipos de veículos. Questões que certamente serão trabalhadas por Naves até 2050, quando se aposentará. 

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