Ela transformou a 'comida feia' dos supermercados em 30 milhões de refeições
A Connecting Food redistribui alimentos de empresas como GPA e Assaí para organizações sociais em todo o Brasil
Repórter
Publicado em 15 de janeiro de 2025 às 07h00.
Mais de 16 mil toneladas de comida salvas do lixo e quase 30 milhões de refeições garantidas. Esses são os números da Connecting Food , uma foodtech brasileira que atua na redistribuição de alimentos excedentes de empresas para organizações sociais.
Por trás da iniciativa está a engenheira de alimentos Alcione Pereira. Depois de 15 anos trabalhando em multinacionais, ela decidiu se dedicar ao empreendedorismo social após ser impactada pelos dados de desperdício em uma palestra sobre sustentabilidade.
“Fiquei muito impactada com esse contrassenso: como é possível que tanta gente passe fome enquanto um terço dos alimentos é desperdiçado?”, disse. Pereira, então, passou a pesquisar sobre o desperdício de alimentos no Brasil e no mundo.Cerca de 30% dos alimentos produzidos no mundo são desperdiçados todo ano, o equivalente a cerca de 1 trilhão de dólares.
Ficou claro que o problema do desperdício não era apenas de logística, mas de cultura e falta de integração entre quem tem excedentes e quem precisa deles.De repente, aquele incômodo já havia se tornado propósito de vida.
Em 2016, veio a Connecting Food e, desde então, 630 organizações sociais em todo o Brasil já receberam cerca de 16 mil toneladas de alimentos que teriam sido jogados fora.
Outra empresa do setor é a Mercado Diferente. A foodtech foca em frutas e verduras orgânicas fora do padrão dos mercados, mas ainda apetitosas. Em 2023, fechou a receita operacional líquida em R$ 21 milhões, uma alta de 327,45% em comparação ao ano anterior.
Startup mineira "fabrica" casas em 48 horas e já faturou R$ 120 milhões em um ano de operaçãoComo funciona?
Ao invés de apostar no B2C — como, por exemplo, a startup Raízs, que conecta os agricultores diretamente com o consumidor final —, a Connecting Food atende as gigantes do mercado de alimentos. Grandes redes, como GPA , Assaí Atacadista e Proença Supermercados, estão entre os clientes que utilizam os serviços da foodtech.
As causas para as sobras de alimentos são variadas. Pode haver um excesso de compras, mudança na aparência pela manipulação ou mesmo uma embalagem considerada fora do padrão para o comércio. São aquelas "comidas feias" que o supermercado não consegue levar para as prateleiras.
Independentemente disto, se os alimentos estão apropriados para o consumo, podem ser doados. Assim, o trabalho da companhia é identificar essas causas e promover a melhor gestão.
Para dar destino aos alimentos, é trabalho da empresa entender as políticas de doação. Já do lado de quem recebe os alimentos, é necessário o mapeamento das instituições e treinamentos in loco para que o receptor dos alimentos esteja preparado para as retiradas e armazenamentos de modo adequado.
Com operações consolidadas em todos os estados do Brasil, a Connecting Food quer fomentar mais ações que promovam a cultura de redução de desperdício.
Para Pereira, ainda há um longo caminho pela frente, mas ela acredita que mudanças estruturais são possíveis: “Cada alimento salvo é uma oportunidade de fazer a diferença, mas isso só funciona quando empresas e consumidores percebem a importância de agir juntos.”