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Educação: O plano da Vasta para levar a Cogna de volta ao oceano azul

Vasta quer ser parceiro para tudo das escolas particulares e expandir pela América Latina; desde o registro para IPO, ações da Cogna subiram 26%

Educação básica: subsidiária da Cogna, a Vasta tem foco na educação básica e planos para crescer (Germano Luders/Exame)

Educação básica: subsidiária da Cogna, a Vasta tem foco na educação básica e planos para crescer (Germano Luders/Exame)

Mariana Desidério

Mariana Desidério

Publicado em 21 de julho de 2020 às 08h26.

Última atualização em 21 de agosto de 2020 às 11h46.

A empresa de educação Vasta, subsidiária da Cogna (ex-Kroton), está prestes a abrir capital na bolsa de valores de tecnologia Nasdaq, nos Estados Unidos, o que tem tido reflexos nas ações da Cogna no Brasil. Desde o dia 6 de julho, quando a Vasta realizou protocolo público para registro da oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) junto à SEC (Securities and Exchange Commission), as ações da Cogna subiram mais de 26%.

No grupo dos entusiasmados com a Cogna está o gestor Mark Mobius. Em entrevista recente a EXAME, ele explicou que está animado com o que a migração do mundo físico para o digital pode fazer pelas empresas de educação e outros segmentos.

A movimentação nas ações da Cogna é explicada em parte pelo potencial da Vasta em ampliar a atuação da holding no ensino básico, e reduzir assim a importância da educação superior no negócio.

A Cogna fez na semana passada o lançamento da oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) para distribuição de 18.575.492 de ações de classe A da Vasta. A faixa indicativa de preço de venda das ações ficou entre 15,50 dólares e 17,50 dólares por ação. O preço final será fixado após a coleta de intenções de investimento (bookbuilding), que ocorrerá somente no exterior.

Considerando o meio da faixa indicativa, de 16,50 dólares, a companhia conseguiria levantar pouco mais de 300 milhões de dólares com o IPO. Parte dos recursos será usada para pagar dívidas com a controladora Cogna e outra parte será investida na expansão do negócio.

Ensino básico

Até agora, a Cogna sempre teve o ensino superior como principal negócio. A empresa soube bem como aproveitar o auge do Fies, o programa federal de financiamento estudantil, que em 2014 concedeu mais de 700 mil financiamentos.

Mas o programa foi desidratado nos últimos anos, levando junto as margens da companhia. O impacto dessa redução para o setor foi tema de reportagem publicada na EXAME. A mudança fez com que a Cogna voltasse seus olhos para o ensino básico, e a Vasta é o principal resultado desse movimento.

A Vasta oferece conteúdo para escolas através de sistemas de ensino, como Anglo e Pitágoras, com material digital e impresso. Também possui uma plataforma digital de estudos, o Plurall, largamente usada pelas escolas na pandemia do novo coronavírus. Tem ainda soluções para educação complementar, como o ensino de línguas.

Em outra frente, oferece serviços de gestão para as escolas parceiras. Essa divisão, chamada de Plataforma Digital, é uma grande aposta da companhia para crescer. Ela oferece atualmente um serviço chamado de Livro Fácil, um e-commerce para a venda de conteúdo educacional, que também funciona como um centro de distribuição de materiais.

No documento apresentado à SEC, a Vasta afirma que sua meta é se tornar um “parceiro para tudo” das escolas particulares. Para isso, o objetivo é ampliar os serviços voltados para a administração das escolas, incluindo sistema de gestão, marketing digital, marketplace de bolsas de estudos e serviço de matrícula online.

A empresa destaca que a divisão de negócios voltada para a administração escolar vem crescendo rapidamente. Era 8% do negócio no quarto trimestre de 2018, quando foi implementada, passou para 11% no ano de 2019, e respondeu por 19% do faturamento no primeiro trimestre de 2020.

Para analistas, o potencial de atuação da Vasta deve elevar a importância da educação básica na receita da Cogna. No ano passado, o segmento representou 29% da receita da holding, ante 12% em 2018.

“Essa curva está inflexionando. A Cogna se reinventou e está investindo em outros mercados, enquanto a concorrência continua só no ensino superior. O setor de educação superior está sangrando, mas a educação básica é um oceano azul, parecida com o que era a educação superior dez anos atrás”, diz Marcel Zambello, analista da corretora Necton.

Dentre as vantagens do segmento está o maior tempo de permanência do aluno e a resiliência das famílias para manter seus filhos em escolas particulares. Outro ponto a favor é a possibilidade de criar demanda para os cursos superiores da companhia.

“A Vasta funciona como um seguro para a parte de educação superior da Cogna. Se a relação com o aluno for bem sucedida no ensino básico, aumentam as chances de ele escolher um curso superior da empresa. É uma forma de reforçar a marca e a relação com o cliente”, afirma Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.

A Vasta tem 4.167 escolas clientes no modelo de assinaturas. O valor de contrato anual previsto para 2020 é de 676 milhões de reais -- o valor inicialmente divulgado era de 716 milhões de reais, mas foi reduzido em 40 milhões devido aos impactos da pandemia na evasão escolar das escolas parceiras, em especial no ensino infantil.

No documento apresentado à SEC, a Vasta afirma que seu mercado potencial era de 25,3 bilhões de reais em 2018, sendo 12,9 bilhões de reais só para a Plataforma Digital, voltada para a administração escolar. A expectativa é que esse mercado mais que dobre até 2030, chegando a 54 bilhões de reais, sendo 26,6 bilhões de reais para a Plataforma Digital.

A empresa destaca que 19% dos estudantes brasileiros estudam em escolas particulares, proporção maior a dos Estados Unidos (8%), mas ainda bem menor que a países como Índia (35%) e Indonésia (41%). “A educação básica particular é muito valorizada pelas famílias brasileiras, dada a lacuna de qualidade entre escolas privadas e públicas”, diz o documento.

A Vasta também expõe a intenção de se internacionalizar, começando pela América Latina. “Acreditamos que escolas, estudantes e educadores e famílias na América Latina estão enfrentando os mesmos problemas que os brasileiros e demandam das mesmas soluções que nós já oferecemos”, diz a empresa.

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