É perder ou perder: Canadá julga herdeira da Huawei
País sofrerá as consequências políticas e econômicas ou da China ou dos Estados Unidos, caso liberte ou extradite executiva presa há uma semana
Da Redação
Publicado em 10 de dezembro de 2018 às 04h35.
Última atualização em 10 de dezembro de 2018 às 06h43.
O Canadá volta a ser, nesta segunda-feira, o centro de uma disputa comercial e política entre as duas maiores economias do mundo, a China e os Estados Unidos. O país se colocou no meio de um intenso fogo cruzado ao prender, no dia primeiro de dezembro, Meng Wanzhou, diretora financeira e herdeira da Huawei , segunda maior fabricante de celulares do mundo e um dos maiores grupos de tecnologia do planeta.
No sábado, a China exigiu que o Canadá liberte a executiva imediatamente, sob o risco de sofrer “severas consequências”. O recado foi dado ao embaixador canadense em Pequim, John McCallum. Meng foi presa em Vancouver, numa conexão, e pode ser extraditada aos Estados Unidos sob acusação de que sua empresa teria violado sanções ao vender para o Irã produtos contendo componentes de fabricantes americanos.
Na sexta-feira, a chanceler canadense, Chrystia Freeland, afirmou que não houve interferência política na decisão da prisão, e que preza pelas boas relações com a China. O julgamento de Meng, iniciado na sexta-feira numa corte da Columbia Britânica, será retomado nesta segunda-feira.
O presidente americano Donald Trump é um personagem central da trama. Um dia antes da prisão de Meng, ele assinou com o presidente canadense, Justin Trudeau, e com o então presidente mexicano, Henrique Peña Nieto, uma nova versão do Nafta, o acordo de livre comércio da América do Norte. No mesmo dia da prisão, Trump jantou com o presidente chinês, Xi Jinping, e acertou adiar por 90 dias o início de sanções comerciais contra a China.
Trump acusa os chineses de competição desleal e de utilizar grandes companhias, como a Huawei, para alongar os tentáculos do país mundo afora. Seu governo vem estimulando outros países a não permitirem que a Huawei forneça seus equipamentos para a montagem de redes 5G, com o argumento de que os chineses usariam a seu favor os dados de consumidores e governos ocidentais.
A parceria com o Vale do Silício é fundamental para o sucesso da Huawei. A companhia deve comprar este ano cerca de 10 bilhões de dólares em componentes de empresas como Intel e Qualcomm. Segundo o Wall Street Journal, uma ampla sanção contra a Huawei poderia “devastar” os negócios da empresa, mas também seria um duro golpe para uma série de companhias americanas.
Seria também, segundo analistas políticos internacionais, o inevitável início de uma ampla guerra comercial que lançaria uma enorme incerteza sobre a economia global em 2019. O Canadá exporta para os Estados Unidos cerca de 270 bilhões de dólares; para a China, são cerca de 17 bilhões. Se o dinheiro decidir, Meng deve ter vida dura no julgamento que recomeça nesta segunda-feira.