Na avaliação da Safras & Mercado, 10 % dos 85 milhões de soja previstos para a próxima colheita já foram comprometidos, contra 33 % na mesma época em 2012 (Paulo Whitaker/Reuters)
Da Redação
Publicado em 5 de julho de 2013 às 17h54.
São Paulo - A comercialização antecipada da safra 2013/14 de soja tem ganhado ritmo nas últimas semanas no Brasil, após estagnação em boa parte do primeiro semestre, por influência de um real mais desvalorizado, apontaram especialistas.
A moeda norte-americana valorizou pouco mais de 4 % sobre a brasileira só em junho, o que ajuda os produtores a fecharem negócios mais lucrativos em real sobre uma commodity precificada em dólares.
A consultoria AgRural estima que as vendas de soja cheguem atualmente a cerca de 20 % do volume que será colhido em 2014, contra cerca de 5 % no fim de maio.
"Foi a desvalorização cambial que puxou essa comercialização", disse o consultor da AgRural Fernando Muraro.
Por outro lado, as vendas antecipadas estavam em 52 % nesta mesma época do ano passado, lembrou o especialista.
Custos e preços
O ímpeto menor para o fechamento dos negócios deve-se a preços menos atraentes que vinham sendo oferecidos pelas empresas compradoras, que tiveram que começar a repassar custos que surgiram nos últimos meses, como fretes mais caros.
"Teve um movimento de dificuldade, porque as tradings jogaram custos de frete lá em cima e isso afujentou os primeiros negócios", completou Muraro.
Indústrias que processam e exportam podem registrar margens de lucro perto de zero ao final da safra 2012/13, porque fecharam negócios antecipados no início de 2012 que não previam a elevação do preço de transporte verificada ao final do ano, após a entrada em vigor de uma lei que restringiu as horas trabalhadas pelos caminhoneiros e, por consequência, a oferta de frete.
"A desvalorização (do real) muda a formação de preços, porque o frete, que é pago em real, fica mais barato em dólares", lembrou o analista da AgRural.
Na avaliação da consultoria Safras & Mercado, 10 % dos 85 milhões de soja previstos para a próxima colheita já foram comprometidos, contra 33 % na mesma época em 2012 e 10 % da média histórica.
Para o analista Steve Cachia, da CerealPar, outro fator que influencia a retração nas vendas em 2013 é a expectativa de muitos produtores de aproveitar uma eventual escalada nos preços internacionais, como as verificadas em 2012.
No ano passado, a pior seca nos EUA em 50 anos catapultou as cotações na bolsa de Chicago a níveis históricos.
"O pessoal, como acontece muitas vezes, está olhando o ano passado, e no ano passado os melhores preços foram no segundo semestre", disse ele. "Só que esse ano o cenário até agora é o contrario." Cachia estima que a comercialização antecipada da safra 2013/14 esteja em 10 % no país, com maior volume de negócios no Centro-Oeste, um ritmo avaliado por ele como "lento".
Segundo ele, muitos produtores fazem uma "aposta no clima", torcendo por uma nova quebra na produtividade das lavouras dos EUA.
"Se a aposta é valida ou não, só o tempo dirá", avaliou. "Minha estratégia seria de aproveitar um pouco mais essa condição de Chicago razoável e dólar acima do esperado".
Com praticamente toda as lavouras de soja nos EUA já em estágio de germinação, o Departamento de Agricultura apontou na segunda-feira que 55 % das áreas apresentam condições "boas" e 12 % estado "excelente", bem acima da qualidade registrada no mesmo período de 2012.