Stepps: imagem mostra exemplo de como a tecnologia pode ser utilizada
Repórter
Publicado em 28 de novembro de 2024 às 15h46.
Última atualização em 28 de novembro de 2024 às 16h33.
Acidentes de trabalho não são apenas tragédias humanas; são também um peso financeiro para as empresas.
Em setores como óleo e gás, mineração e grandes indústrias, lesões em funcionários resultam em custos de indenizações, interrupções nas operações e até danos à reputação.
Um levantamento da Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que eles geram um impacto de 4% no PIB global todos os anos.
É nesse cenário que a Stepps, uma startup de Recife, entra em ação. Fundada em 2019 por Daniel Almeida e Hélio Peixoto, a empresa usa inteligência artificial para identificar situações de risco em tempo real, como funcionários em áreas restritas ou o não uso de equipamentos de segurança.
A ideia para a startup veio quando a dupla percebeu que os acidentes nas indústrias geravam desafios tanto financeiros quanto operacionais.
Eles também viram que muitas indústrias não usavam tecnologia para prevenir acidentes e que o modelo de segurança tradicional estava ultrapassado.
A solução estava em adotar a inteligência artificial para monitorar riscos em tempo real e garantir uma operação mais eficiente e segura.
O Brasil ocupa a 4ª posição no ranking mundial de acidentes de trabalho, atrás apenas de China, Índia e Indonésia.
Em 2022, foram registrados 612,9 mil acidentes (uma média de um a cada 90 segundos) e 2.538 mortes que ocorreram durante o trabalho no País. O Estado de São Paulo lidera em número de registros, com mais de 2 milhões na última década.
“Quando você fala em mineração, logística ou grandes fábricas, está lidando com operações complexas onde cada erro pode custar caro, tanto em vidas quanto financeiramente”, diz Almeida, fundador da Stepps.
O gasto com um funcionário afastado é, em média, 50% maior do que o salário regular devido a despesas com tratamento, processos trabalhistas e a necessidade de contratar substitutos.
“Hoje, a segurança não é apenas uma questão ética; é também estratégica. É mais caro remediar um acidente do que evitá-lo”, diz o pernambucano.
O Iara é o carro-chefe da Stepps. Usando câmeras instaladas nas fábricas, o sistema analisa o comportamento de trabalhadores e identifica situações de risco em tempo real.
Caso um funcionário entre em uma área de risco ou esqueça um equipamento de proteção, a tecnologia envia um alerta imediato para que a situação seja corrigida.
“O que diferencia o Iara é a capacidade de se adaptar a diferentes cenários. Um dos nossos clientes, por exemplo, usa o sistema para monitorar áreas com máquinas de alta periculosidade, enquanto outro aplica a tecnologia para evitar atropelamentos em galpões logísticos”, diz Almeida.
Além do Iara, a startup também oferece o Saci e o Cuca. Os nomes são em homenagem ao folclore brasileiro.
O Saci analisa ineficiências na interação entre pessoas e máquinas. Se o sistema detectar que algo está fora do esperado – como uma operação incorreta ou uma falha de comunicação entre operador e máquina –, ele alerta imediatamente para que a situação seja corrigida.
O último produto é o Cuca, voltado para controle de qualidade na produção. Ele consegue identificar, por exemplo, se há uma bolacha quebrada ou uma fruta podre dentro dos milhares que passam pelas esteiras de uma fábrica.
Embora tenha se financiado inicialmente, a Stepps percebeu que, para crescer, seria necessário um impulso externo.
Em 2024, a startup recebeu investimento de R$ 5,5 milhões da multinacional alemã Schmersal. De automação industrial, a empresa opera em 30 países no mundo todo.
O objetivo do investimento é expandir as operações do Iara para mercados como Alemanha, Espanha e Índia.
“A parceria com a Schmersal é estratégica porque eles já têm presença global e acesso direto às maiores indústrias do mundo. Nossa tecnologia complementa o portfólio deles, enquanto ganhamos escala e novos mercados”, explica Almeida.