Leandro Melnick, CEO da Melnick: "Vimos um estado que atrai investidores, tem uma demografia favorável e busca projetos mais qualificados. Decidimos entrar com cautela, mantendo nossa estratégia de baixo risco." (Jonas Adriano / Melnick/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 18 de dezembro de 2024 às 06h30.
Última atualização em 18 de dezembro de 2024 às 08h22.
Uma das construtoras mais conhecidas do Rio Grande do Sul, a Melnick finalmente atravessará o Rio Mampituba, na divisa gaúcha, rumo a Santa Catarina.
Após 54 anos movimentando Porto Alegre com obras de alto padrão, a incorporadora gaúcha agora desembarca no litoral catarinense com um portfólio de 11 projetos que somam 17,7 bilhões de reais em Valor Geral de Vendas (VGV).
O ponto de partida é a Praia Brava, em Itajaí, cidade vizinha de Balneário Camboriú, o principal polo imobiliário do Brasil nos últimos anos.
Lá, a Melnick participará do desenvolvimento do Tempo, um empreendimento com sete torres residenciais e um hotel de luxo da rede Emiliano, com VGV de 2,5 bilhões de reais. Haverá unidades de 400 a 1.000 metros quadrados, que custarão até 100 milhões de reais.
O projeto é assinado pelo escritório britânico Foster+Partners, liderado pelo arquiteto Norman Foster, responsável por obras icônicas como o Apple Park, nos Estados Unidos, e o The Gherkin, em Londres.
"Santa Catarina é um mercado pujante, mas olhamos com cuidado", diz Leandro Melnick, CEO da incorporadora. "Ficamos três anos estudando para entender se o crescimento era consistente ou uma bolha. Vimos um estado que atrai investidores, tem uma demografia favorável e busca projetos mais qualificados. Decidimos entrar com cautela, mantendo nossa estratégia de baixo risco."
Fundada em 1970 como uma empresa familiar focada no alto padrão, a Melnick se consolidou no Rio Grande do Sul com uma estratégia de baixo risco e alta rentabilidade. A grande virada veio em 2008, com a aposta em parcerias estratégicas, principalmente com a Even, de São Paulo, e foco em projetos com retorno de investimento elevado.
Aliás, em 2010, um fundo liderado por membros da família Melnick se tornou o principal acionista da incorporadora Even, de São Paulo, adquirindo 48% das ações da companhia. Na época, a operação chamou a atenção por inverter a lógica do mercado: uma empresa regional do Sul passou a controlar uma incorporadora paulista, que tinha uma presença mais consolidada nacionalmente.
Nessa toada, a Melnick cresceu sem sair de Porto Alegre, seu principal mercado, e hoje domina 35% do mercado imobiliário da capital gaúcha. Esse desempenho permitiu à Melnick abrir capital em 2020 e consolidar sua reputação de solidez financeira.
A decisão de expandir para Santa Catarina foi impulsionada por uma combinação de fatores econômicos e estratégicos.
Desde o IPO em 2020, a Melnick adotou uma postura cautelosa devido às mudanças no cenário macroeconômico, como a alta dos juros e as tensões políticas no Brasil e no mundo. Em Porto Alegre, o mercado enfrentou desafios adicionais, como a enchente histórica de 2024, que impactou o ritmo de novos projetos e limitou o crescimento local.
Enquanto isso, Santa Catarina despontou como um mercado com valorização imobiliária acelerada, crescimento populacional e demanda por empreendimentos de alto padrão, especialmente no litoral norte. Após três anos de estudos, a Melnick viu no estado uma oportunidade consistente e com baixo risco, alinhada à sua estratégia de expansão.
"São Paulo é um mercado único. Não existe outra São Paulo no Brasil, mas há 'muitas Porto Alegres' espalhadas por aí", diz Leandro. "E em Santa Catarina, temos esse cenário".
A estratégia da Melnick para crescer fora do Rio Grande do Sul é baseada em parcerias com incorporadoras locais.
O modelo, testado com sucesso em Porto Alegre, combina a experiência da Melnick em gestão, engenharia e produto com o conhecimento regional dos sócios locais.
Na prática, a empresa entra com consultoria técnica e expertise de uma incorporadora de capital aberto, enquanto os parceiros contribuem com terrenos e atuação no mercado local.
Inicialmente, a Melnick participa como consultora, mas já está previsto um papel mais ativo como sócia nos próximos projetos.
"Aprendemos que crescer com parcerias é mais inteligente e reduz os riscos. O incorporador local mantém sua autonomia e identidade, enquanto nós agregamos estrutura e experiência", explica o CEO.
O primeiro projeto, em Itajaí, será feito em parceria com uma incorporadora recém-lançada, chamada Müze. Ela é fundada por membros de grandes famílias empresariais da região.
O litoral norte de Santa Catarina, puxado por Balneário Camboriú e Itajaí, tem mostrado valorização imobiliária consistente. Em 2024, o preço médio do metro quadrado na região chegou a 13.593 reais, o mais alto do país.
Imóveis de luxo na orla já ultrapassam os 100 mil reais por metro quadrado.
Para Leandro Melnick, o crescimento é sustentado por uma combinação de fatores: aumento populacional, migração de investidores de outras regiões do Brasil e uma demanda crescente por projetos de alto padrão.
"Esse cenário foi um dos pontos que nos convenceram", diz. "O comprador está mais exigente e busca imóveis com diferenciais de qualidade, arquitetura e serviços".
Com a entrada em Santa Catarina, a Melnick dá início a um ciclo de expansão nacional sem abrir mão de sua estratégia cautelosa.
Além do Tempo, a empresa já firmou acordos para desenvolver outros 11 projetos em Balneário Camboriú, Itapema e Florianópolis. Os endereços ainda não são divulgados, nem as incorporadoras locais que participarão dos empreendimentos.
O primeiro lançamento, na Praia Brava, terá pré-venda iniciada em janeiro de 2025 e início das obras no segundo semestre. Enquanto isso, a empresa trabalha em novos projetos, todos com terrenos estratégicos e foco no alto padrão.
"Queremos impactar o litoral catarinense com projetos diferenciados, como já fizemos em Porto Alegre", diz o CEO. "A Melnick não aposta em volume, mas em qualidade".