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A responsabilidade social faz parte dos valores, do jeito de fazer negócio e do dia-a-dia dos funcionários da Natura

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h16.

Recentemente, Rodolfo Guttilla, executivo da Natura, participou da Learning for the Future, conferência organizada pela associação Business for Social Responsibility, uma das entidades mais conceituadas no mundo na área da responsabilidade social das empresas. O evento, realizado em Seattle, nos Estados Unidos, tinha como objetivo apresentar ao mundo corporativo exemplos de cidadania. A Natura, juntamente com empresas como Ford Motor, Microsoft e Volkswagen, foi um deles. Ficamos muito envaidecidos pelo convite e por saber que estamos no caminho certo , diz Guttilla. Essa é uma ótima oportunidade para refletirmos sobre ações de cidadania, e discutir é uma das partes mais ricas do processo.

A capacidade e a disponibilidade para a autocrítica e a busca por aperfeiçoamento fazem parte da personalidade da empresa. Exemplo disso são os canais que a Natura cria para ouvir principalmente seus 3 mil funcionários. Até o ano passado, um grupo formado pelos três presidentes da empresa Luiz Seabra, Pedro Luiz Passos e Guilherme Leal e seus gerentes era responsável por transformar a responsabilidade social em preocupação transversal, algo que influenciasse toda a cadeia produtiva. Hoje a equipe é também formada por representantes de ONGs, executivos de outras empresas, consultores e funcionários da produção. Queríamos ampliar as discussões em torno desse assunto , diz Guttilla.

Foi essa equipe que escolheu a biodiversidade como foco das ações de cidadania desenvolvidas pela Natura nos próximos anos. Quando olhamos em volta e vemos os indicadores ambientais, percebemos que o modelo atual de relação com o meio ambiente está perto do fim , diz Guilherme Leal, presidente executivo da empresa. Uma de nossas crenças é o encadeamento das relações, por isso resolvemos transformar biodiversidade em plataforma tecnológica. As providências nesse sentido já começaram. A Natura criou um conselho da biodiversidade composto de professores, cientistas e funcionários para discutir a questão. Também firmou um acordo com a TV Cultura, de São Paulo, para produção de programas sobre o tema. O objetivo é estimular o debate na sociedade. O investimento chegará a 3 milhões de reais.

Algumas ações ligadas à biodiversidade já estão em andamento. Uma das maiores é o Projeto Canguçu. Em parceria com o Instituto Ecológica, uma ONG dedicada a assuntos ambientais no Brasil, reúne cientistas de várias áreas, no estado de Tocantins. Juntos, eles pesquisam parâmetros de medição do impacto da emissão de gás carbônico. A Natura vai patrocinar o desenvolvimento de um software que calculará o volume de vegetação necessário para absorver seus níveis de emissão. No prazo de três anos, a empresa saberá exatamente o tamanho da área que deverá reflorestar, de acordo com a quantidade de gás carbônico liberada por sua linha de produção.

O Projeto de Educação e Recuperação Ambiental da Mata Atlântica do Vale do Rio Doce também já foi iniciado. Ele prevê a recuperação de 630 hectares de área reflorestada na região do município de Aimorés, em Minas Gerais, com a utilização de técnicas de baixo custo e a participação da comunidade. Métodos de recuperação florestal estão sendo testados e a população local participa de um programa educacional com palestras e reuniões sobre preservação do meio ambiente. O envolvimento das comunidades e o desenvolvimento de práticas ambientais auto-sustentáveis são bases da atuação da Natura. Toda a linha de produtos Ekos, que explora ativos tipicamente brasileiros e de conhecimento popular, está baseada na exploração sustentável da natureza. Cada comunidade envolvida com a extração de matérias-primas como castanha-do-pará, cupuaçu e andiroba está passando por um longo processo de certificação ambiental e social.

Em parceria com a Imaflora, uma ONG sediada em Piracicaba, São Paulo, que realiza certificação de ativos, o projeto prevê a averiguação detalhada dos processos de extração e comercialização de insumos, visando estabelecer normas para a colheita e o manejo das reservas. Ações como essas não estão ligadas a marketing ou à imagem institucional , diz Elizabeth Pereira, gerente de unidade Natura Ekos. Elas fazem parte dos nossos valores.

Quase todas as iniciativas sociais da Natura têm como foco a transformação de comunidades, de hábitos, da sociedade. É assim com o Crer para Ver, o maior programa de educação desenvolvido pela empresa, cujo objetivo é a melhoria da qualidade do ensino público. Em 2001, 3 590 escolas foram atendidas e 763 mil crianças beneficiadas. O projeto conta com um leque amplo de parcerias. Uma rede de voluntários atua na criação dos produtos Crer para Ver camisetas, blocos de anotação, cds. As 270 mil consultoras Natura vendem os artigos e destinam toda sua renda a projetos que incentivem o aprendizado nas escolas públicas. No ano passado, a ação gerou recursos da ordem de 1,5 milhão de reais.

Com tantas ações em andamento e uma visão clara de seus objetivos, os acionistas da Natura pensam agora em criar uma fundação. A idéia vem amadurecendo há anos, mas sua execução foi adiada ao máximo. Motivo: o receio dos acionistas de que o tema responsabilidade social se distanciasse do dia-a-dia dos negócios. Não queríamos que, com a criação de uma fundação, o resto da empresa se desobrigasse da ação social , diz Leal. Em maio deste ano, a Natura publicou a primeira edição de seu balanço social. Formatado segundo os padrões da Global Reporting Initiative, organização internacional cujo objetivo é disseminar as melhores práticas nessa área, o documento é considerado o mais completo e detalhado já publicado por empresas brasileiras. Somos pretensiosos , diz Leal. Queremos realmente transformar cenários, mudar as coisas a nosso redor.

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