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Como tocar um negócio ao estilo dos Beatles

Livro lançado neste mês nos Estados Unidos tira da história do grupo algumas lições importantes para as empresas

Além do talento musical, os quatro garotos de Liverpool provaram que sabem como fazer um negócio prosperar (Wikimedia Commons)

Além do talento musical, os quatro garotos de Liverpool provaram que sabem como fazer um negócio prosperar (Wikimedia Commons)

DR

Da Redação

Publicado em 23 de março de 2011 às 21h20.

São Paulo – Os Beatles não fizeram sucesso por acaso. Além de criar alguns dos clássicos do início do rock, os Beatles também contaram com uma bem equilibrada dose de estratégia, inovação, parceria e liderança – algo que garantiu o sucesso não apenas em seus dez anos de atividade, mas também pelos anos seguintes. Somente na última década a banda faturou 627,3 milhões de dólares, se for somado o dinheiro gerado pela venda de álbuns e bilheteria de shows de seus ex-integrantes. Sem dúvida, muitas empresas ficaram pelo caminho nesse período.

“Com todos os erros, e houve muitos, o modelo de negócio dos Beatles tem suportado o teste do tempo, como um dos mais bem-sucedidos”, afirmam Richard Courtney e George Cassidy, autores do livro Come Together: The Business Wisdom of The Beatles (editora Turner), recém-lançado nos Estados Unidos. A obra, ainda sem tradução para o português, traz as lições de John, Paul, Ringo e George para o mundo dos negócios – e o erro que implodiu o grupo. Confira a entrevista dada a EXAME.com, por e-mail:

EXAME.com – Quais são as principais lições dos Beatles para as empresas?

Richard Courtney e George Cassidy - Há um grande número de lições a serem aprendidas com os Beatles. Tantas que elas exigiriam 100 capítulos para cobri-las. Alguns dos pontos principais seriam:

Auto-percepção e definição de metas: antes de uma companhia definir metas, ela precisa avaliar seu estado atual. Depois, deve avaliar sua performance e determinar sua missão. A missão dos Beatles era se transformar na maior banda de rock do mundo. Para alcançar essa aspiração sublime, eles constantemente eram obrigados a abandonar a vida pessoal (amigos), alguns de seus bens (as primeiras músicas), criar um produto mais novo e melhor (seus instrumentos, sua voz, sua musicalidade). Esse modelo deveria ser seguido por qualquer negócio. Depois de estabelecida a missão, todos os diretores devem “comprar” essa ideia. A liderança deve continuar a reforçar essa missão regularmente.

Relações públicas: isso incluiria a sua marca (música e até instrumentos) e sua imagem (seus cabelos, roupas e presença de palco). Seu relacionamento com a mídia, mesmo que ele tenha sido tumultuado. Agenciamento, gestão e representação. Uma coisa era certa: eles não poderiam gerenciar a si próprios. Ninguém pode.

EXAME.com - Que outras lições eles trazem?

Courtney e Cassidy - Parcerias. A parceria Lennon-McCartney é indiscutivelmente a mais bem-sucedida da história da música. Eles tinham repertórios completamente diferentes e cada um trazia sua própria força e fraqueza. A mistura dessas personalidades teria sido impossível se não fosse o fato de que eles compartilharam as mesmas metas. A parceria dos Beatles é um exemplo de um todo sendo maior do que a soma das partes. As harmonias eram frescas e únicas. O estilo da bateria de Ringo Starr era diferente da competição das melódicas linhas de base de Paul McCartney. John Lennon trouxe uma nova dimensão para o ritmo da guitarra e George Harrison trouxe várias e diversas influências que podem ser ouvidas em seus solos. Cada membro trouxe elementos que os guiaram ao sucesso. A parceria dos Beatles com o produtor George Martin desempenhou, talvez, o maior papel em seu sucesso. Essa parceria é exemplar do sucesso da aliança estratégica com um terceiro.


EXAME.com - E do ponto de vista financeiro?

Courtney e Cassidy - Planos financeiros, receita e expansão de taxas são o segmento onde os Beatles cometeram os maiores erros e pelo qual eles são infames. Apesar disso, como você pode ver, essa é a menor parte de seu modelo de negócios como um todo. Quanto ao fluxo de receitas, ele foi desde o início, e continua a ser, um dos mais lucrativos da história, como demonstra o recente acordo do iTunes, que ocorreu cerca de um ano depois de a banda de rock fazer a remasterização de suas gravações [e que prevê o pagamento de royalties diretamente à banda, sem passar pela gravadora EMI].

EXAME.com - Baseado no exemplo dos Beatles, quais armadilhas o sucesso pode criar para uma companhia? Como evitar isso?

Courtney e Cassidy - As armadilhas criadas pelo sucesso são aquelas para as quais não há planos de contingência. Planejamento cuidadoso, seguido de avaliação e declaração da missão e do plano de negócios manteriam esses riscos no nível mínimo. A principal questão, no caso dos Beatles e outros negócios, é que ele pode criar uma sensação de infalibilidade ou invencibilidade. Com os Beatles, foi o filme Magical Mystery Tour (de 1967), muito visto como seu primeiro fiasco. Mais uma vez, isso ocorreu durante o tempo em que o grupo não estava sendo gerenciado.

EXAME.com - Quais são as diferenças entre o estilo de liderança de John Lennon e de Paul McCartney?

Courtney e Cassidy - Quanto ao estilo de liderança, John era como um general em um campo de batalha – uma analogia estranha para um pacifista. Ele tinha um jeito de “não aprisionar ninguém/ou tudo ou nada” em seu estilo de liderança. Por outro lado, Paul era muito mais diplomático. Ambos os estilos proporcionaram resultados positivos. John guiou “sua tropa” ao longo da experiência em Hamburg e Liverpool, enquanto Paul manteve a banda junta durante o The White Album (1968), Let It Be (1970) e Abbey Road (1969).

EXAME.com - O que os gestores podem aprender sobre liderança com Paul McCartney?

Courtney e Cassidy - A liderança de Paul McCartney pode ensinar como dar vida a um negócio que está “morto” e, às vezes, ensina que é melhor deixar esse negócio ir embora (como na música “Live and Let Die”, de sua autoria).

EXAME.com - Yoko Ono pode ser considerada uma das razões para o fim dos Beatles, já que ela desviou a atenção de John Lennon da banda. Como uma empresa pode lidar com esse tipo de “intervenção” (que pode ser um novo projeto do funcionário ou uma questão pessoal)?

Courtney e Cassidy - O tipo de distração criada por Yoko pode variar entre o problemático e o terminal. Os Beatles ignoraram isso. Outras empresas fariam bem ao identificar o problema e tentar alcançar a solução. Com o referido estilo de liderança de John entrando em conflito com o estilo de liderança de Paul, caracterizado pela diplomacia/fuga de confrontos, Lennon ditou a ordem do dia.

EXAME.com - Quais músicas dos Beatles podem fazer os gestores refletirem sobre o mundo corporativo?

Courtney e Cassidy - "Don't Let Me Down", sobre assumir responsabilidades; "Here Comes the Sun", quando as coisas estão parecendo melhores depois de uma crise; "A Little Help From My Friends" ou "Come Together", na criação de uma equipe de trabalho; "Let it Be", quando as coisas estiverem indo bem; "The Ballad Of John and Yoko", quando parece que o mundo está contra nós.

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