Como o nióbio pode protagonizar a corrida pela bateria de carros elétricos
A mineira CBMM, que detém 90% da produção global do insumo, se prepara para entrar na briga por um dos mercados mais promissores da próxima década
Juliana Estigarribia
Publicado em 31 de outubro de 2020 às 08h00.
Última atualização em 1 de novembro de 2020 às 19h18.
O tão falado -- mas pouco conhecido -- nióbio poderá se tornar protagonista na corrida por um dos mercados mais promissores da próxima década: o de baterias para carros elétricos. Para isso, a mineira CBMM, que detém 90% da produção global de nióbio, está investindo cifras vultosas para desenvolver baterias que prometem carregar o veículo elétrico em apenas 6 minutos.
Ricardo Lima, vice-presidente da CBMM, afirma que a empresa vem investindo cerca de 50 milhões de reais por ano no negócio de baterias automotivas, com um time de 11 pessoas dedicadas para pesquisa e desenvolvimento na área, das quais 5 têm doutorado em eletroquímica.
Atualmente, são 40 projetos em baterias automotivas sendo desenvolvidos pela CBMM. Em parceria com a Toshiba, a companhia de Araxá irá produzir 1.000 células que devem começar a ser entregues ao mercado para testes em 2021. Para isso, a empresa mineira está negociando com cerca de 20 montadoras globais, entre elas a Tesla, de Elon Musk.
"A expectativa é que em 2023 já tenhamos esse material sendo comercializado no mercado global", disse Lima em entrevista exclusiva à EXAME.
Além disso, durante o ano de 2021 a companhia tem a previsão de outras 10.000 células entrarem em processo de homologação da tecnologia no mercado global.
Os projetos mais avançados na área são de um carro "familiar" e outro de alta performance. Lima destaca que a Tesla já está ciente da proposta da CBMM para o segmento. Segundo o executivo, o óxido de nióbio pode ser uma alternativa ao cobalto: Musk já afirmou publicamente sobre o seu desejo de reduzir a utilização do insumo na produção de baterias, devido às condições de exploração nas minas de cobalto.
Diferenciais
As tecnologias e insumos disponíveis hoje ainda resultam em baterias mais pesadas, o que acaba prolongando o tempo de carregamento.
Atualmente, os carros elétricos ficam em torno de 8 horas carregando na tomada para obter autonomia completa. A proposta da bateria a base de óxido de nióbio é de carga total em apenas 6 minutos, com autonomia de 350 quilômetros.
Além disso, a bateria a base de nióbio promete oferecer menos riscos de explosão na recarga rápida, uma grande preocupação da indústria automotiva.
Os estudos para baterias estão sendo feitos dentro de casa, mas a mineira também quer cortar caminho:está negociando a compra de três startups do ramo de baterias automotivas, uma americana e duas britânicas.
A CBMM também adquiriu, recentemente, a startup 2DM, de Singapura, referência em grafeno, que tem grande sinergia com o nióbio.
“Com estas aquisições, vamos acelerar o conhecimento. O nosso principal desafio é a corrida contra o tempo para viabilizar a bateria em larga escala e, neste quesito, temos obtido resultados excelentes”, garante Lima.
Hoje, 90% da receita da companhia é proveniente da siderurgia, mas a expectativa é que, até 2030, de 35% a 40% do faturamento venha de novas aplicações, especialmente do setor automotivo.