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Como JBS, Marfrig e Minerva devem superar a crise do coronavírus

Com a forte queda no fornecimento a restaurantes - o chamado food service - os frigoríficos vão concentrar esforços, mais uma vez, no mercado chinês

Minerva: exportação deve crescer para a China (Ricardo Benichio/Exame)
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Juliana Estigarribia

Publicado em 6 de abril de 2020 às 19h15.

Última atualização em 7 de abril de 2020 às 11h46.

Enquanto boa parte dos setores da economia está enfrentando quedas drásticas da receita com o pico do novo coronavírus , o mesmo não se aplica às empresas de alimentos. Especialmente os frigoríficos que têm a China como principal destino de suas exportações: JBS , Marfrig e Minerva viram a demanda de restaurantes (food service) despencar em março, porém, a retração deve ser compensada pela recuperação do consumo chinês.

O primeiro movimento de queda do setor foi verificado no início de março nos restaurantes, diante das medidas de isolamento adotadas por estados e municípios para combater a propagação da covid-19.

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O fluxo de demanda migrou para o delivery e, com isso, as vendas do segmento conhecido como food service recuaram mais de 65% em março, conforme apurou a reportagem da EXAME com os frigoríficos.

Um dos reflexos do coronavírus foi o impacto no poder de compra do brasileiro, principalmente entre os informais. Historicamente, em tempos de crise, há uma migração do consumo de carne bovina para proteínas mais baratas, como frango e ovos, por exemplo.

Diante do cenário de mudanças rápidas e acentuadas do consumo, as empresas estão se adaptando. É o caso da Marfrig que, embora tenha no food service apenas 5% da sua receita, vem adequando seu portfólio à demanda do mercado.

"Este vai ser um ano desafiador, mas nossa estrutura e unidades habilitadas a exportar para a China permitem que tenhamos um desempenho bastante competitivo", afirma Miguel Gularte, diretor-presidente da Marfrig, em entrevista à EXAME.

No Brasil, cerca de 29% da produção da companhia é destinada ao mercado doméstico e, o restante, exportado. Segundo Gularte, a Marfrig tem flexibilidade para se adaptar em meio à crise. Como exemplo, ele cita o aumento das remessas de enlatados para a Europa.

"Os europeus têm uma cultura de guerra.Eles costumam estocar alimentos enlatados. Crescemos muito no segmento."

Conforme o executivo, os processados têm margens maiores e vêm apresentando bom desempenho no canal de delivery. Neste sentido, a Marfrig está lançando uma linha de hamburguer para food service. "Já percebemos um movimento incipiente de restaurantes adaptando suas operações para entregas."

Já o Minerva tem grande parte da sua operação doméstica voltada para o food service - embora as exportações continuem representando 70% da receita total da companhia. Segundo apurou a reportagem da EXAME, a queda das vendas da empresa no food service foi compensada pelo crescimento no varejo, que inclui mercados de pequeno e médio porte, supermercados e hipermercados.

"As vendas do Minerva cresceram, em março, quase 50% no varejo", afirma uma pessoa próxima à companhia.

De acordo com Lygia Pimentel, diretora da Agrifatto consultoria especializada, hoje omercado de carne bovina está estagnado. "Os frigoríficos só vão comprar se o varejo tiver feito pedido."

Segundo ela, os estoques da indústria estão baixos e o abate foi reduzido pela metade no país. Com o pânico do coronavírus, o brasileiro passou a consumir menos e, neste cenário, a Agrifatto calcula uma queda média do resultado operacional dos frigoríficos de 17% a 24% em março sobre o mês anterior.

"A maior retração vai ser verificada entre os frigoríficos voltados para o mercado interno, que não exportam principalmente para a China", diz Lygia.

Negócio de gente grande

As gigantes do setor de carne, principalmente aquelas que têm unidades habilitadas a exportar para a China, vão se beneficiar da recuperação do consumo do país asiático. JBS, Marfrig e Minerva estão na lista.

"As três empresasvão se beneficiar desse momento. A demanda por carne segue relativamente firme, assim como a de grãos. O diferencial está no quão internacionalizado é o frigorífico", afirma Bruno Lima, analista de renda variável da EXAME Research .

Segundo ele, quase metade das exportações da JBS vai para a Ásia, sendo a maior parte para a China. Além disso, as operações do grupo vão bem nos Estados Unidos, onde o spread da proteína segue positivo.

O mesmo também ocorre com a Marfrig. "A empresaestá nadando de braçada no mercado americano", avalia Lima.

Mas é na China que as gigantes do setor vão encontrar a salvação para a crise que se instalou nas economias do mundo todo. O país asiático passou por um grave problema sanitário no ano passado, a chamada peste suína, que liquidou quase 70% do rebanho suíno do país.

Com isso, a China passou a demandar não só esse tipo de carne para recompor seus estoques, mas elevou as compras de frango e carne bovina.

JBS e Marfrig têm, no Brasil, sete unidades habilitadas a exportar para a China; Minerva tem três. Isso sem contar as plantas instaladas em outros países e que também estão autorizadas a embarcar para o país asiático.

E enquanto o Brasil e outros países do mundo atravessam o pico da covid-19, a China e algumas nações da Ásia, como o Japão, começam a retomar gradualmente suas rotinas.

"Os chineses vãovoltar a comprar carne bovina e aumentar muito a demanda por aves e suínos. Neste cenário, JBS, Marfrig, Minerva e BRF estarão bem posicionadas", afirma Pedro Galdi, analista da corretora Mirae Asset.

Papéis

O pânico gerado pelo novo coronavírus tomou conta do mercado financeiro global em março. No Brasil não foi diferente. A bolsa de valores (B3) enfrentou quedas sucessivas no período, com seis paralisações temporárias das negociações ( circuit breaker ).

Os papéis dos frigoríficos não foram poupados. Em março, as ações da Marfrig caíram cerca de 26% sobre fevereiro; da Minerva, 31,8% e, da JBS, 10,4%. O índice Ibovespa recuou 29,9% na mesma base.

Para Bruno Lima, entretanto, o horizonte é positivo para estas empresas não só pela demanda estável por proteína. A valorização do dólar também traz grandes vantagens aos exportadores. "O setor, de forma geral, vai sai vencedor na crise".

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