Como as empresas podem mudar o mundo (e lucrar com isso)
A visão de "valor compartilhado" deu para comunidades mundo afora aliadas importantes na luta por mudanças positivas: as empresas
Gabriela Ruic
Publicado em 29 de novembro de 2017 às 11h28.
Última atualização em 29 de novembro de 2017 às 16h50.
São Paulo – Foi-se o tempo em que as soluções para os problemas sociais e ambientais eram relegadas aos governos, organizações não governamentais e igrejas. Hoje, comunidades mundo afora ganharam aliadas importantes na luta por mudanças: as empresas. E essa transformação no comportamento corporativo vem se revelando uma estratégia de negócio lucrativa.
Essa visão de negócios tem nome e sobrenome, “valor compartilhado” , e implica o envolvimento direto das empresas no dia a dia das comunidades, identificando seus problemas e investigando soluções.
“Não é apenas seguir leis ou ceder às pressões da opinião pública”, disse Dane Smith, diretor geral da empresa de consultoria FSG Social Impact Advisors, “mas também usar esse conceito para maximizar a rentabilidade”. A FSG foi fundada por Michael Porter e Mark Kramer, os pais do conceito, para resolver os problemas sociais mais urgentes.
Smith esteve em São Paulo nesta quarta-feira para participar do EXAME Fórum Sustentabilidade 2017, evento conduzido por EXAME para debater as práticas de “valor compartilhado” e a incorporação dessa visão por empresas brasileiras, além de mostrar os resultados que essa estratégia vem trazendo. E não são poucos.
"Quando comparamos o que se faz no Brasil e o que se faz lá fora, em termos de sustentabilidade, é para parar com nosso 'complexo de vira lata' e ver que tem muita gente boa, fazendo muita coisa boa e beneficiando muita gente", notouAndré Lahóz Mendonça de Barros, diretor editorial de EXAME.
Cases
No mundo, continuou, existem inúmeros exemplos de aplicações da visão de “valor compartilhado”. Eles mostram como empresas que mergulharam nos problemas sociais e ambientais da sociedade conseguiram identificar oportunidades para baixar seus custos e acelerar a inovação. A farmacêutica Novartis, a multinacional de alimentos Nestlé e a produtora de celulose brasileira Fibria são alguns deles.
Na Índia, a Novartis percebeu que um dos maiores problemas era a falta de acesso a medicamentos pela população pobre. Ao realizar parcerias com farmácias e auxiliar no treinamento de médicos, conseguiu levar medicamentos para mais de 40 milhões de pessoas espalhadas por 30 mil comunidades.
Já a Nestlé identificou, também na Índia, deficiências na alimentação das famílias e desenhou um novo produto que atendesse a essa demanda. Como resultado, aumentou suas vendas em 70%, além de ter ajudado a melhorar a nutrição de milhões de pessoas.
A brasileira Fibria, por sua vez, trabalhou para estruturar as comunidades nas quais seus negócios estavam presentes, conseguindo reduzir em 90% o furto de madeira, problema que havia causado prejuízo de 20 milhões de dólares ao seu caixa em 2009.
"Em um país em desenvolvimento, nós temos necessidade, obrigação e vontade de estabilizar as comunidades e obter licença social para operar", considerou Marcelo Castelli, presidente e CEO da Fibria Celulose. "É muito mais do que assistencialismo e responsabilidade social corporativa. É eixo de negócios."