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Com Minha Casa, Minha Vida em risco, construtoras estão na berlinda

MRV, Tenda, Direcional e Pacaembu dependem do repasse de recursos do programa habitacional, que tem dinheiro somente até o fim de junho

Obra da MRV: pela primeira vez em 26 trimestres, a construtora mineira não gerou caixa de janeiro a março com atraso dos repasses do governo (AGENCIA NITRO/Divulgação)
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Natália Flach

Publicado em 26 de abril de 2019 às 12h24.

Última atualização em 11 de julho de 2019 às 17h24.

São Paulo - A imagem do Brasil como um grande canteiro de obras corre o risco de se tornar uma lembrança longínqua. Depois da paralisação das obras de infraestrutura pelo arrefecimento econômico e pela operação Lava Jato (que revelou um intrincado esquema de corrupção envolvendo as maiores empreiteiras do país), agora, é a vez do Minha Casa, Minha Vida ficar na berlinda. O programa habitacional que, na última década, aprovou a construção de 5,5 milhões de imóveis de Norte a Sul do Brasil só tem recursos suficientes até junho, segundo o ministro do Desenvolvimento Regional, Gustavo Canuto, durante uma audiência pública na Câmara dos Deputados, na quarta-feira (24).

O cenário é preocupante, mas já foi pior: o fim dos recursos estava previsto para maio. Entretanto, o ministro se reuniu com o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e conseguiu uma suplementação de R$ 800 milhões para a continuidade do programa até junho. Até o fim do ano, seriam necessários outros R$ 1,5 bilhão, segundo cálculos de Canuto. “Estamos inseguros sobre os próximos meses. Já havia funcionários cumprindo aviso prévio, pois há empresas que não têm como continuar”, afirma Carlos Henrique Passos, vice-presidente de Habitação de Interesse Social da Câmara Brasileira da Indústria da Construção.

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Os efeitos do Minha Casa, Minha Vida, cujos repasses chegaram a R$ 431 bilhões em uma década, vão além da questão habitacional. É um programa que gera emprego e renda, e a sua interrupção pode provocar um baque para a economia brasileira, que tem tido dificuldades para crescer. Mas não apenas. O impacto para as construtoras também será bastante expressivo. Um exemplo disso é que pela primeira vez em 26 trimestres a MRV , que constrói imóveis para o segmento econômico, não conseguiu gerar caixa de janeiro a março, por causa do contingenciamento do orçamento dos recursos do programa.

Isso porque se trata da MRV, a maior construtora do país. As demais poderão sofrer um impacto ainda maior. A Direcional , por exemplo, adquiriu no primeiro trimestre 11 terrenos voltados para os segmentos 2 e 3 do Minha Casa, Minha Vida, que atendem famílias com renda bruta entre R$ 4 000 e R$ 7 000. Com isso, ela tem potencial para construir mais de 10 000 unidades, de acordo com prévia operacional da companhia. Se o programa parar, poderá ter impacto financeiro de, no mínimo, R$ 1,5 bilhão em Valor Geral de Vendas, o que é bastante expressivo para uma construtora que teve vendas líquidas de R$ 1,2 bilhão, nos últimos 12 meses. “Nos últimos três anos, a Direcional readequou sua atuação, pois até então focava na faixa 1, que passou a receber menos repasses do Tesouro”, afirma Enrico Trotta, analista do Itaú BBA. Essa guinada fez com que a companhia não lançasse um único empreendimento voltado para a faixa 1, no primeiro trimestre.

Outra companhia que tem sua operação bastante atrelada ao programa é a Tenda , que atua principalmente nas faixas 1,5 e 2 do Minha Casa, Minha Vida. Com uma meta anual de vendas de R$ 1,95 bilhão a R$ 2,15 bilhões, a empresa cumpriu apenas cerca de 20% do objetivo no primeiro trimestre, ao alcançar R$ 407 milhões, de acordo com dados da prévia operacional. Segundo a empresa, de janeiro a março, o atraso do governo fez com que tenha amargado um recuo de 16,6% nos repasses.

A Pacaembu também atua no segmento econômico, especialmente no interior de São Paulo. No ano passado, a construtora lucrou R$ 114,5 milhões ante os R$ 82,9 milhões de 2017.  “É um programa que jamais poderia ser descontinuado, mas se acabasse hoje, daríamos um mergulho em termos de volume e de resultado. Teríamos de ajustar uma série de produtos para acessar outra faixa de renda”, afirma Wilson Amaral, presidente da Pacaembu. Não à toa, a companhia decidiu fazer seu primeiro empreendimento fora do Minha Casa, Minha Vida e o lançamento deve acontecer no segundo semestre. “O fim do programa significaria o sofrimento de muitas empresas, poderia até levar ao fechamento de algumas delas, mas tenho certeza de que o Brasil sofreria muito mais”, analisa.

Não é para menos que o ministro Canuto venha tentando captar recursos para o Minha Casa, Minha Vida, enquanto estuda possíveis mudanças para o programa, que devem ser anunciadas até o dia 8 julho. A questão é se até lá haverá construtoras interessadas em atuar nesses moldes. Não resta dúvida de que demanda existirá: as 7,5 milhões de famílias que integram a triste estatística do déficit habitacional no país.

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