Negócios

CNN Brasil pode ameaçar a liderança da Globo

O novo veículo vai contratar 400 funcionários, segundo informações que circulam na imprensa, e iniciará suas transmissões no final de 2019

Da esquerda para a direita: o deputado federal Eduardo Bolsonaro, o jornalista Douglas Tavolaro, o presidente Jair Bolsonaro e o empresário Rubens Menin (-/Divulgação)

Da esquerda para a direita: o deputado federal Eduardo Bolsonaro, o jornalista Douglas Tavolaro, o presidente Jair Bolsonaro e o empresário Rubens Menin (-/Divulgação)

A

AFP

Publicado em 25 de janeiro de 2019 às 11h01.

Última atualização em 28 de janeiro de 2019 às 11h37.

Com o lançamento da CNN Brasil, o maior mercado televisivo de notícias da América Latina será impactado pelo surgimento de um novo e poderoso elemento em um território dominado pela Globo News.

Sua chegada, anunciada este mês, acontece em um momento de redefinições radicais no Brasil, que vive uma guinada à extrema-direita com o presidente Jair Bolsonaro.

A CNN Brasil vai compartilhar a mesma marca da rede nos Estados Unidos, pioneira na transmissão de notícias 24 horas por dia, mas funcionará com licença própria, operada e atendida por brasileiros, seguindo o modelo da CNN Turquia e CNN Indonésia.

A CNN já conta com seu canal em espanhol para a maior parte da América Latina. A CNN Brasil proporcionará seu conteúdo em português.

Em um comunicado divulgado na semana passada, Rubens Menin, o brasileiro bilionário do setor da construção civil que financia a CNN Brasil, anunciou que o novo canal será administrado por Douglas Tavolaro, que até agora era o número dois da divisão de notícia da TV Record.

"A CNN Brasil será lançada nacionalmente com agências de notícias em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Brasília e correspondentes no exterior", indica o comunicado.

O novo veículo vai contratar 400 funcionários, segundo informações que circulam na imprensa, e iniciará suas transmissões no final de 2019.

Tavolaro não confirmou o tamanho do modelo, mas em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo afirmou que será "um time importante de jornalistas e profissionais de mídia das mais diferentes áreas em todo país".

Tavolaro não respondeu às solicitações de entrevista da AFP.

Desde que Bolsonaro foi eleito, Menin se mostrou um grande partidário do presidente, apoiando sua agenda econômica liberal.

A Record, rede de propriedade da poderosa igreja Universal, é também afim ao novo presidente, que desde sua eleição concedeu à emissora várias entrevistas, esnobando, ao mesmo tempo, sua grande rival Globo e outros veículos nacionais.

Menin e Tavolaro foram recebidos na semana passada por Bolsonaro no palácio do Planalto, para discutir o lançamento do canal.

Nova Fox News

O histórico dos fundadores levantou questões sobre a possibilidade de a CNN Brasil ser outra ferramenta de mídia da igreja Universal ou se adotará uma linha semelhante à Fox News nos Estados Unidos - que apresenta reportagens e comentários fortemente favoráveis ao presidente Donald Trump, com quem Bolsonaro é frequentemente comparado.

"O novo canal será um aliado de Jair Bolsonaro?", perguntou o portal Notícias da TV.

"Não há indicações de que o novo governo esteja envolvido no desenvolvimento da CNN Brasil, mas não há dúvida de que se beneficiará dele, não apenas pelo impacto que sua criação terá sobre a concorrência", afirmou o portal de notícias.

Outras vozes, incluindo as de partidários de Bolsonaro, expressaram nas redes sociais o medo de que o novo canal possa tratar o presidente da mesma forma crítica que a CNN nos Estados Unidos trata Trump.

Tavolaro rejeita as especulações. À Folha de S. Paulo afirmou que "as teses se multiplicam com um nível de invenção incrível".

"Não existe nada disso. Seremos uma emissora de jornalismo com a única missão de levar ao público, aos anunciantes e ao mercado publicitário informação com qualidade, imparcialidade e correção, e pluralidade de opinião entre nossos colunistas", explicou ainda.

Enquanto isso, o grupo Globo e seu conglomerado de canais de televisão, portais na internet, emissoras de rádio, revistas e o jornal de maior tiragem pode ser afetado pela CNN Brasil.

Até 2014, as finanças do grupo subiram constantemente. Mas, desde então, a competição - que inclui Netflix e a própria internet - fez reduzir sua receita publicitária.

Esse saldo em 2017 foi de 14,8 milhões de reais, uma queda de 9% em três anos.

Grande audiência

A Rede Globo continua desfrutando de enorme popularidade, com cerca de 100 milhões de espectadores por dia, em grande parte graças a suas novelas.

Comparando com a CBS, a rede mais assistida nos Estados Unidos, que tem cerca de 9 milhões de espectadores por dia em seu horário nobre, é possível ver o potencial das redes de televisão no Brasil.

A CNN nos Estados Unidos tem cerca de um milhão de espectadores por dia.

A rede de notícias é de propriedade da Turner Broadcasting System, que pertence à gigante das telecomunicações AT&T.

Os Estados Unidos têm 325 milhões de habitantes, contra 210 milhões no Brasil.

Tavolaro afirmou que a marca CNN dará prestígio à operação. "Estamos confiantes de que o público e o mercado vão adotar a CNN no Brasil", concluiu.

Acompanhe tudo sobre:CNNGloboJair BolsonaroRede RecordTelevisão

Mais de Negócios

De ex-condenado a bilionário: como ele construiu uma fortuna de US$ 8 bi vendendo carros usados

Como a mulher mais rica do mundo gasta sua fortuna de R$ 522 bilhões

Ele saiu do zero, superou o burnout e hoje faz R$ 500 milhões com tecnologia

"Bar da boiadeira" faz investimento coletivo para abrir novas unidades e faturar R$ 90 milhões