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O que os CEOs brasileiros esperam da COP26

As empresas se engajam na agenda “net zero” e esperam voltar da conferência com o mercado de carbono regulado

A principal pauta da COP26 será a regulamentação do artigo 6 do Acordo de Paris, que trata da criação de um mercado global de carbono (AerialPerspective/Getty Images)
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Rodrigo Caetano

Publicado em 18 de agosto de 2021 às 06h00.

Última atualização em 5 de novembro de 2021 às 13h36.

O CEO da Klabin , Cristiano Teixeira, tem algo a dizer aos empresários. Ele acredita que o aquecimento global é maior do que se imagina e, para contê-lo, será necessário um esforço global de descarbonização da economia . Isso passa pelas empresas. “Precisamos chamar o máximo possível de empresas para o ‘ net zero ’”, diz Teixeira. E ele não se contenta com promessas vazias, quer compromissos assinados.

Teixeira foi eleito pela presidência da COP26 , conferência do clima da ONU que acontece em novembro, na Escócia, como um dos seus 10 embaixadores empresariais no mundo. Seu trabalho é agregar o empresariado brasileiro em torno do tema economia de baixo carbono. O presidente da COP26, Alok Sharma , quando veio ao Brasil há duas semanas, ficou satisfeito com os resultados apresentados.

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Sharma se reuniu com uma série de CEOs em encontros arranjados por Teixeira. “Do ponto de vista prático, este foi o meu papel”, diz o executivo. “Mas não está sendo fácil.” Na saída, o ex-ministro britânico recebeu uma carta assinada por 100 presidentes de empresas, na qual se comprometem a zerar as emissões de suas companhias nas próximas décadas.

Compromissos assumidos, falta dizer como

A carta entregue a Sharma está em nome do grupo Empresários Pelo Clima, organizado pelo Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). Marina Grossi, presidente do CEBDS, diz que o documento deixa claro o comprometimento das empresas brasileiras com agenda da COP26.

“O setor empresarial brasileiro tem adotado ações corporativas concretas”, afirma Grossi.  “A COP 26 será uma oportunidade para compartilhar esse comprometimento e reforçar nosso engajamento mundial.” Louvável, porém, entre a promessa e a ação, há um oceano de eventualidades. “O compromisso foi feito, falta apresentar a metodologia”, diz Teixeira.

 

O que move muitos desses CEOs, além da necessidade de salvar o planeta do caos climático, é a possibilidade de nivelar o jogo. Descarbonizar custa caro e as empresas que se comprometem com o carbono zero perdem competitividade em preço. “É ótimo que as mudanças climáticas ganhem espaço nas estratégias corporativas, mesmo que seja greenwashing ”, afirma Fernando Modé, CEO do Grupo Boticário. “Mas tem a questão do custo. Em algum momento, será preciso regulamentar.”

Daniela Manique, presidente para América Latina do Grupo Solvay, fabricante de produtos químicos dona da marca Rhodia, espera que essa regulamentação venha da COP26. “O fato de não termos uma cobrança global sobre as emissões das empresas cria uma diferença de custeio importante”, afirma Manique. “Não é justo um concorrente vender 20% mais barato porque queima carvão, enquanto eu invisto em alternativas há 20 anos.”

Essa cobrança global sobre as emissões virá da principal pauta da COP26: a regulamentação do artigo 6 do Acordo de Paris, que trata da criação de um mercado mundial de carbono. Com as regras definidas, os países poderão cobrar das empresas que poluírem, como a Europa já disse que vai fazer com um imposto de carbono na fronteira.

A agenda do Brasil na COP

A essa demanda por um jogo nivelado, soma-se a expectativa de recolocar o Brasil no protagonismo ambiental. Nos últimos dois anos, muito em função dos aumentos sucessivos no desmatamento amazônico, o país se transformou em uma espécie de pária climático.

Não ajuda o fato de que, na COP25, realizada em 2019 em Madri, o governo brasileiro não ter mandado sequer uma delegação. A participação do país se resumiu a uma sala quase sempre vazia, decorada com uma bandeira do Brasil estilizada por lideranças do agronegócio, e aos recorrentes pedidos do ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles por dinheiro para não destruir a floresta. Parecia chantagem, soava como chantagem, e ninguém gostou.

Teixeira, da Klabin: “Nossa matriz energética é a mais limpa e temos uma história de liderança climática que transcende o governo circunstancialmente no poder” (Germano Lüders/Exame)

Apesar dos erros, o Brasil tem o que mostrar aos estrangeiros. “Nossa matriz energética é a mais limpa e temos uma história de liderança climática que transcende o governo circunstancialmente no poder”, afirma Cristiano Teixeira, da Klabin. “E o presidente fez um compromisso formal de descarbonização na conferência do Biden”. No início do ano, o presidente Jair Bolsonaro participou de uma cúpula do clima organizada pelos Estados Unidos, que acabava de estrear o mandato do presidente Joe Biden. Bolsonaro prometeu chegar ao carbono zero em 2050.

Gilberto Tomazoni, presidente da JBS, maior empresa global de proteína animal, defende que a pecuária brasileira é parte da solução climática, não do problema. “Se o principal desafio que enfrentamos é como abastecer a crescente população mundial de itens vitais, como alimentos, energia e roupas, sem sacrificar ainda mais o nosso planeta, o papel do Brasil é crucial”, disse Tomazoni. “Somos um dos poucos países do mundo capazes de produzir e preservar ao mesmo tempo.”

Confiança no Itamaraty

Nos bastidores, os empresários brasileiros se dizem confiantes na atuação do Itamaraty e do Ministério do Meio Ambiente. O ministro das Relações Exteriores, Carlos França, disse ao assumir que o Brasil não deve adotar uma postura defensiva na sustentabilidade. “Somos um dos países que podem apontar para soluções”, afirmou, em reunião da comissão de relações exteriores da Câmara dos Deputados.

A saída de Salles do Meio Ambiente trouxe um grande alívio. Com ele no comando, o Brasil parou de negociar com John Kerry, o enviado especial para o clima da presidência americana – por opção de Kerry. As conversas retornaram com o novo ministro Joaquim Leite, que mantém a posição brasileira de exigir pagamentos pela manutenção da Amazônia.

Porém, sua postura é mais técnica e vinculada a um compromisso assinado pelos países desenvolvidos no Acordo de Paris, que determina a transferência de 100 bilhões de dólares aos países em desenvolvimento como pagamento por serviços ambientais. O Brasil agora lidera um movimento, junto com a África do Sul, para aumentar esse valor.

Dá para recuperar o tempo perdido?

Principal líder da caravana empresarial brasileira na COP26, Teixeira acredita que há tempo para o governo brasileiro reverter a imagem de vilão climático. “O que está posto é um esforço diplomático de décadas. Temos os compromissos, falta apresentar o plano”, afirma. “O Brasil tem tudo para sair da COP com uma grande vantagem competitiva.”

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