CEO da Mitre: "É hora de sentar em cima do caixa e esperar"
Apesar de queda nas vendas, Itaú BBA continua otimista com a construtora; empresa vai aproveitar crise para comprar terrenos
Mariana Desidério
Publicado em 23 de abril de 2020 às 14h56.
A crise causada pelo novo coronavírus atingiu as empresas do setor de construção, que começavam a ver uma retomada da demanda após um longo período de retração. Com boa parte do país em quarentena e as incertezas na economia, a procura por imóveis caiu e fez com que construtoras revissem as expectativas para 2020. Com presença forte na capital paulista, a Mitre é uma das que está em compasso de espera.
A quarentena e o fechamento de estandes em São Paulo geraram queda de 50% nas vendas da construtora no primeiro trimestre, conforme prévia de resultados divulgada no início da semana. Já a Venda Sobre Oferta (VSO) passou de 56,9% no primeiro trimestre de 2019 para 21,6% em 2020. Ainda assim, analistas do Itaú BBA têm perspectivas positivas para o papel. Em relatório divulgado ontem, o banco manteve a expectativa de desempenho acima da média do mercado para as ações da Mitre, com preço-justo de 17,70 reais para 2020. A ação hoje é negociada a 11 reais.
A companhia levantou 1,2 bilhão de reais em sua abertura de capital no início do ano, sendo cerca de 1 bilhão de reais em oferta primária. O dinheiro iria principalmente para novos projetos imobiliários. Com a pandemia, porém, deve ficar guardado por mais tempo. “Sou CEO há doze anos e essa é a pior crise que já vivenciei. Acreditamos que a situação ainda vai piorar significativamente. Agora a melhor alternativa é sentar em cima do caixa e esperar”, afirmou o presidente da companhia, Fabrício Mitre, em entrevista à EXAME.
No entanto, a visão da empresa é de que a crise não dura para sempre, e o mercado deve ver uma retomada após a pandemia, em especial em São Paulo, onde o estoque de imóveis é baixo. Assim que conseguir visualizar uma saída para a pandemia, a companhia pretende usar o caixa para aproveitar as oportunidades trazidas pela crise, em especial na compra de terrenos. “Nossa companhia tem um índice de liquidez alto, e uma dívida líquida sobre PL menor do que o setor. É um bom momento para as empresas que estão capitalizadas. Os grandes negócios são feitos em tempos de crise”, afirma Mitre.
Na visão do executivo, o momento deve servir de “freio de arrumação” para o setor. “No último ano, muitas empresas compraram terrenos a preços altos esperando uma valorização na venda do imóvel bastante ousada. Com a crise, esses preços tendem a entrar em equilíbrio”, afirma. A empresa trabalha com uma projeção de cenário muito ruim até final de maio e início de melhora a partir de junho.
Até lá, a Mitre permanece com o pé no freio. A compra de terrenos foi desacelerada. A empresa também fez contratos de fornecimento e mão de obra para longo prazo, com preços mais vantajosos. Hoje, 44 % da empresa está em férias e 100% da equipe administrativa está em home office. Até agora, a companhia não dispensou funcionários ou reduziu salários, mas novas contratações foram suspensas. Cerca de 300 corretores, que atuam como autônomos, estão recebendo cesta básica e complemento de renda da companhia. As obras da construtora continuam, com ajustes para garantir a saúde dos trabalhadores, que agora usam luvas e máscara e têm sua temperatura medida periodicamente. A Mitre tem oito projetos em andamento, todos em São Paulo.
Por enquanto, a Mitre não prevê desenhar promoções para ampliar as vendas em meio à crise. Para manter ao menos parte dos negócios, a construtora aposta em tecnologia. A Mitre tem capacidade para realizar todas as etapas da venda de forma digital, do tour virtual à assinatura digital do contrato. No primeiro trimestre de 2020, 39% das vendas realizadas pela Mitre Vendas (braço de comercialização da construtora) tiveram o processo iniciado por um contrato online.