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Dono da Centauro compra Nike no Brasil e será único distribuidor da marca

Negócio custará ao grupo varejista SBF 900 milhões de reais

Centauro: varejista terá direito a distribuição exclusiva da Nike por dez anos (Centauro/Divulgação)

Centauro: varejista terá direito a distribuição exclusiva da Nike por dez anos (Centauro/Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 6 de fevereiro de 2020 às 11h01.

Última atualização em 7 de fevereiro de 2020 às 12h26.

O Grupo SBF, dono da varejista de material esportivo Centauro, comprou a operação da Nike no Brasil. Com a aquisição, a varejista se torna distribuidora exclusiva dos produtos Nike no varejo online e físico no país por um período de dez anos.

A aquisição custará ao SBF 900 milhões de reais. O valor está sujeito a ajuste, conforme o grupo informou em comunicado ao mercado financeiro. A compra da subsidiária brasileira da Nike inclui o estoque e as lojas, mas não direitos de propriedade intelectual sobre a marca.

Agora, o Grupo SBF passa a atuar como uma holding, com a Centauro e a Nike do Brasil como unidades de negócios separadas. Pedro Zemel, presidente da Centauro, assume como presidente da holding.

Especializada em artigos esportivos, a marca Nike continuará sendo distribuída a outros varejistas no Brasil, embora ainda não tenha ficado claro os termos desses contratos a partir de agora. A Nike já tinha desde 2017 um contrato preferencial com a Centauro, de modo que os produtos chegavam primeiro na varejista antes de concorrentes (como a Netshoes, que desde o ano passado pertence ao Magazine Luiza).

Além da distribuição por meio de outras redes de varejo, a Nike tem 24 lojas no Brasil e 15 lojas de parceiros, que agora serão da nova holding.

“Nos últimos anos, fizemos uma série de investimentos em diversas frentes e, principalmente, em tecnologia e multicanalidade, o que nos possibilitou avançar expressivamente no nosso setor e nos transformar em uma plataforma do esporte. Estamos muito entusiasmados com a oportunidade de servir ainda mais a comunidade esportiva por meio de uma marca tão poderosa. Seguimos comprometidos com a missão de aprimorar o ecossistema do esporte no nosso país através de diferentes caminhos e modelos de negócios”, disse Zemel em comunicado.

Com a notícia, as ações do Grupo SBF subiram mais de 11% logo após o anúncio pela manhã e ao longo de toda a tarde desta quinta-feira, negociada acima de 48 reais.

O que a Centauro tem a ganhar

A compra é vista como uma parceria estratégica por especialistas em varejo. "O grupo dono da Centauro será fornecedor de todo mundo que quiser comprar Nike, que é a marca predileta dos brasileiros. E ainda vai ter o privilégio de fazer lançamentos de produtos e categorias na plataforma deles. É uma grande sacada", afirma Ana Paula Tozzi, CEO da AGR Consultores. Com a compra, a Nike do Brasil passa a ter, por meio da Centauro, a possibilidade de ter maior acesso aos dados de seus clientes, o que é cada vez mais importante para o desenvolvimento dos negócios das marcas no varejo. "O grande futuro do varejo está nos dados do consumidor", afirma Tozzi. O Grupo SBF afirma que ainda não tem planos concretos nesse sentido.

A Nike é a maior marca de artigos esportivos em operação no Brasil. A americana tem 21,9% de participação nesta categoria no mercado brasileiro, enquanto a rival alemã Adidas tem 17,3%, segundo a empresa de inteligência de mercado Euromonitor. Em seguida vem a japonesa Asics (6% do mercado nacional), a brasileira Vulcabrás Azaléia (5,6%) e a japonesa Mizuno (5,5%). O segmento de moda esportiva teve receita de 24,5 bilhões de reais em 2019.

O movimento feito pelo Grupo SBF não é isolado. Recentemente, a fabricante de calçados Arezzo comprou a operação no Brasil da americana Vans, famosa pelos tênis, por 50 milhões de reais. Uma das vantagens da transferência da operação de uma marca global para um player local é aproximar mais essa estrangeira do cliente brasileiro. A aquisição na Nike pelo Grupo SBF acende um alerta para as marcas concorrentes da Nike, na visão de Mauro Nomura, master franqueado da Adidas no Brasil. "O principal impacto para as concorrentes é que a gestão da Nike no Brasil ficará mais ágil e a marca deve ganhar valor", diz.

O Grupo SBF vinha de uma novela que marcou o ano de 2019 no varejo, quando o varejista disputou (e perdeu) a compra da concorrente Netshoes com o Magazine Luiza. A Netshoes, que quase quebrou após sucessivos prejuízos, terminou vendida ao Magalu por 115 milhões de dólares. O SBF chegou a fazer uma oferta maior, de 127 milhões de dólares, mas a proposta foi rejeitada – à época, EXAME apurou que havia uma resistência do fundador da Netshoes, Marcio Kumruian, em vender sua empresa para a principal concorrente.

Desde então, o Grupo SBF vem se esforçando para mostrar que é capaz de vencer no varejo mesmo sem a Netshoes. Uma das principais tacadas veio em outubro, quando anunciou uma parceria com a B2W – dona de Submarino, Americanas.com e Shoptime – para vender seus produtos no site da Americanas.com, mas com logística e plataforma próprias, o que chamou de "marketplace diferenciado". No dia do anúncio, as ações do SBF chegaram a subir 5%, com analistas de mercado animados pela exposição dos produtos da Centauro na vitrine online da Americanas.

O Grupo SBF também vem sendo elogiado pela estratégia multicanal, com boa integração entre lojas físicas e comércio eletrônico. Essas medidas fizeram os investidores continuarem apostando no grupo, cujas ações avançaram mais de 250% desde que abriu capital na bolsa, em abril.

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