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Cedeu ou não cedeu? O purgatório de Pedro Parente

Pressionada pelo governo, a petroleira reduziu o preço do diesel. Para analistas, foi uma capitulação. Para especialistas ouvidos por EXAME, uma trégua

Furacão: o governo tem nova reunião com representantes dos caminhoneiros na tarde desta quinta-feira (Sergio Moraes/Reuters)
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Da Redação

Publicado em 24 de maio de 2018 às 12h56.

Última atualização em 24 de maio de 2018 às 16h05.

Há um mês Pedro Parente , presidente da Petrobras , foi confirmado como novo presidente do conselho da fabricante de alimentos BRF . Uma semana depois se deu ao luxo de tirar três dias de licença para se aprofundar na situação financeira da dona das marcas Sadia e Perdigão. O foco dividido era sinal de que ia tudo bem com a maior estatal do país.

Em dois anos no cargo, Parente adotou uma política de preços de combustível com base na cotação internacional do petróleo, blindou a empresa de interferências estatais e voltou a analisar projetos com base em seu potencial de retorno. No período, a Petrobras triplicou seu valor de mercado e, cotada em 388,8 bilhões de reais, voltou a ser a maior companhia do país. Parente estava no céu, até o início da greve dos caminhoneiros na segunda-feira.

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De lá pra cá, uma sucessão de eventos mal explicados jogou a estatal outra vez no olho do furacão. A interferência política voltou à pauta e analistas mais alarmistas voltaram a prever a volta das piores práticas do governo de Dilma Rousseff. Na terça-feira, após reunião no Ministério da Fazenda, Parente, visivelmente constrangido, explicou a jornalistas que a política de preços estava mantida, e que o governo queria apenas maiores explicações sobre a dinâmica de aumentos (foram 15 apenas em maio). Mas a greve continuou e, na noite de quarta-feira, Parente anunciou um corte temporário de 10% no preço do diesel por 15 dias. Ainda assim, explicou, a política de preços estava mantida. Era apenas um gesto de “boa vontade”.

O mercado não analisou desta forma. As ações da companhia abriram a quinta-feira em queda de até 14% na bolsa brasileira, depois de cair 5,8% ontem. Na madrugada, as ADRs da companhia negociadas na bolsa de Nova York chegaram a cair 11%. Para os analistas, os tempos de interferência política voltaram. O banco UBS divulgou relatório na manhã desta quinta-feira com o título “Sim, aconteceu de novo”.

O UBS lembra que, de 2010 a 2014 o governo controlou os preços de combustível no país para controlar a inflação, o que levou a perdas de 40 bilhões de reais no período. A prática mudou em junho de 2017, quando Parente anunciou os ajustes diários. O problema é que, desde então, o real desvalorizou 12% e o petróleo Brent subiu 57%. A consequência é uma natural queda no Ebitda (lucro antes de impostos e amortizações) e aumento na percepção de risco, que tende a encarecer o dinheiro para a companhia. No início da semana, o UBS já havia publicado um relatório com o título “Eles podem fazer de novo”, afirmando que não havia solução simples para a questão do preço.

O banco Itaú BBA afirmou que a redução do preço do diesel “marca uma mudança estrutural na política de preço da companhia” e que esse era um dos pilares da tese de investimento do banco. Segundo o banco, a extraordinária valorização da Petrobras no último ano se deve justamente à alta do petróleo. O BBA informa que prefere esperar o desdobramento dos acontecimentos nas próximas semanas antes de alterar suas estimativas para a companhia.

Para complicar a situação, outra grande estatal também vive dias conturbados por causa de decisões políticas. É a Eletrobras, cuja privatização, tida até pouco tempo como prioridade em Brasília, foi, na visão de investidores, abandonada definitivamente na terça-feira. Na data, o Ministério do Planejamento retirou do Orçamento de 2018 a previsão de arrecadação de 12,2 bilhões de reais com a privatização da Eletrobras, devido à demora na tramitação do projeto.

No interesse dos acionistas?

Diante deste cenário, o presidente da Petrobras afirma que sua decisão de reduzir os preços é tomada, inclusive, com base no melhor interesse de seus acionistas, já que uma paralisação prorrogada poderia impactar as refinarias e levar a perdas de 90 milhões de reais por dia. “O mercado tem de parar de falar essa bobagem de que a Petrobras perdeu a liberdade de fixar os preços”, diz Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura. “Parente está fazendo conta. Reduzir em 10% o preço do diesel é mais barato do que correr o risco de parar refinaria e mesmo o Pré-Sal. Ele preservou os interesses da companhia”.

Para Elena Landau, ex-presidente do conselho de administração da Eletrobras, a mudança anunciada por Parente não significa uma interferência política. “Parece mais uma trégua por parte da Petrobras. Agora, é preciso ver o que mais vai ser feito nos próximos 15 dias. Metade do preço da gasolina é de impostos. Está na mão dos políticos, incluindo governadores, reduzir esses impostos. O que não dá é para a Petrobras arcar sozinha com tudo isso”, afirma.

A solução mais bem aceita pelo mercado é a redução de impostos, como a Cide, definida na noite de ontem pelo Congresso de forma emergencial. Mas isso não parece o suficiente para encerrar a paralisação dos caminhoneiros, e ainda impactará negativamente a frágil situação fiscal do país. O debate voltou a jogar luz sobre a exorbitante carga fiscal do país — a carga de impostos sobre os combustíveis chega a 56%, mas apenas 12% do custo final na bomba representa a margem da petroleira. Ou seja, a solução da equação não está nas mãos de Parente.

O governo tem nova reunião com representantes dos caminhoneiros na tarde desta quinta-feira. Durante a manhã, os principais ministros do governo se reuniram com Pedro Parente em busca de novas soluções. A essa altura do campeonato ninguém em Brasília está ignorando o potencial do movimento. Greves de caminhoneiros já derrubaram presidente. Em agosto de 1973, uma greve de caminhoneiros que se estendeu por 23 dias acabou precipitando o fim do governo de Salvador Allende, deposto em setembro. Um relatório do governo afirmou que “a agricultura estava seriamente ameaçada, a indústria havia desacelerado e os suprimentos de commodities haviam chegado a um ponto crítico”.

Com que cicatrizes a Petrobras sairá deste episódio? Segundo o Bradesco BBI, projetando o corte de preços no segundo trimestre e mais nenhum reajuste até o final do ano, a empresa terá queda de 9% do Ebitda no próximo trimestre e de 7% no ano. Relatório assinado por Osmar Camilo reconhece que o mercado não está dando a Parente “o benefício da dúvida” e questionando sua afirmação de que a política de preços não será alterada. O Bradesco prevê que o piso para as ações da petroleira, neste novo cenário, é de 19 a 20 reais. Até as 12h desta quinta-feira, as ações estavam em 20,50 reais, depois de ter batido 27 reais no dia 16 de maio.

“O cenário atual é uma soma de governo fraco com ano eleitoral”, diz Celso Toledo, economista da consultoria LCA e colunista de EXAME. “A perspectiva de médio prazo do petróleo é de queda, o que é uma boa notícia. A questão é ver o que acontece nos próximos 15 dias.”

Os dilemas de Parente se estendem por mais 15 dias. Os do governo Temer, por mais sete meses.

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