Exame Logo

Carlos Lisboa, CEO da Ambev a partir de janeiro, fala da busca pela melhor versão da companhia

Na primeira entrevista ao mercado brasileiro antes de assumir o novo posto, o executivo fala dos planos para a companhia e do sentimento de voltar para onde sua carreira começou, após 15 anos no exterior

Carlos Lisboa: “Chego com muita humildade para reaprender o que é ser parte desse grupo, mas confiante depois de todos esses anos de casa” (Ambev/Divulgação)

Publicado em 9 de dezembro de 2024 às 11h06.

Última atualização em 9 de dezembro de 2024 às 16h26.

O pernambucano Carlos Lisboa, anunciado como CEO da Ambev a partir de 2025, costuma dizer que teve duas grandes decisões na vida, duas relações com efeitos profundos em quem ele é hoje: o casamento com a sua esposa Edí e o “casamento” com a Ambev. Ambas as histórias de amor bem-sucedidas, que perduram há mais de 30 anos, geraram frutos, amadureceram, trouxeram crescimento, proporcionaram muitos momentos inesquecíveis e outros desafiadores.

Com uma brilhante trajetória profissional dentro da companhia, metade dela em unidades fora do Brasil, Lisboa ocupou altas posições na área de trade, vendas e marketing. Foi presidente das operações da Ambev na América Latina Sul e Canadá, VP Global de Marketing nos Estados Unidos e, até esse ano, CEO de MAZ (Middle America Zone) no México.

Veja também

Em sua primeira entrevista ao mercado brasileiro, Carlos Lisboa fala sobre esse momento único na carreira, relembra sua jornada na companhia e compartilha seu olhar sobre a Ambev de hoje e aquela que ele quer ajudar a construir para o futuro.

Você está na companhia há 31 anos, antes mesmo de se tornar a Ambev. Como começou essa história?
Eu ingressei na Brahma, uma empresa de consumo mais tradicional, mas com um toque muito moderno para a época. Isso me encantou e permitiu um importante crescimento profissional: em cinco anos e ainda muito novo, cheguei a uma posição de sociedade. Também foi um privilégio poder trabalhar em uma empresa de cerveja, algo tão representativo do brasileiro, ligado com a nossa cultura. Na verdade, eu era um fã de Antarctica na época, como um bom pernambucano, já que havia uma cervejaria emblemática em Olinda. Aí, me vejo na concorrência, com o desafio de competir com a marca com que eu tinha uma relação emocional. Então, quando aconteceu a fusão de Brahma e Antarctica, foi a oportunidade de me aproximar da marca pela qual entrei na categoria.

Como se recorda do período da fusão?
Foi o nosso primeiro “sonho grande”. Imagine, unir duas companhias centenárias e icônicas no Brasil e eu ter tido a possibilidade de participar disso. Principalmente viver o desafio, muito rico para um líder, de unir duas culturas. Eram duas equipes com uma longa trajetória e perfis diferentes, que precisavam encontrar mais pontos de intersecção do que diferenças. Foi uma experiência que nunca me esqueci e me acompanha até hoje, porque a criação da Ambev me mostrou que é possível eliminar as barreiras mentais que a gente tem.

Como a sua trajetória, tão plural, dentro da companhia, contribui para a posição de CEO da Ambev que assume em 2025?
O principal aprendizado que a experiência me trouxe foi manter minha mente aberta. Todas as vezes que mudei – seja de posição, de área ou de país –, eu aprendi a importância de ficar confortável mesmo fora da minha zona de conforto. Eu busco educar meus filhos assim. Como a família se mudou muitas vezes, eles também foram obrigados a renascer como indivíduos, a reaprender, a se introduzir dentro de uma cultura diferente da deles. Trazendo isso para o Lisboa líder, estou confortável em viver num contexto de diferentes pontos de vista, de deixar de fazer o que a gente sempre fez e buscar novas soluções.

“Todas as vezes que mudei eu aprendi a importância de ficar confortável mesmo fora da minha zona de conforto”

Que bagagem você levou do Brasil para os países em que atuou?
Levei em especial a inspiração de ter convivido com uma equipe muito talentosa e diferente. Isso é muito potente, porque te eleva. Outro ponto é que o mercado brasileiro sempre foi muito competitivo, o que me ensinou a importância da criatividade, da agilidade e da conexão emocional das marcas com as pessoas. É algo que nos diferencia e sempre levei comigo.

E o oposto: que aprendizados lá de fora você traz agora para o Brasi?
Quando você sai do Brasil, se dá conta de que os hábitos e atitudes dos consumidores na nossa categoria são mais semelhantes do que imaginávamos. Essa visão global é quase como ter uma bola de cristal na sua mão: você sabe para onde a categoria pode ir, dependendo do caminho que resolve tomar. Ter toda essa experiência internacional é algo único: traz a oportunidade de tomar decisões mais assertivas para levar a empresa na direção correta.

Que direção é essa que você vislumbra para a empresa?
A companhia me ensinou lá atrás, há 31 anos, que é possível ser ambidestro. Uma Ambev que executa muito bem no mercado, mas de forma criativa; que lidera a categoria e ao mesmo tempo a desenvolve; que se preocupa em performar hoje e também transformar o futuro; que tem espírito de dono, mas é empreendedora; que é uma grande empresa, mas com a inspiração de uma startup.

Como você enxerga a Ambev de hoje, que assumirá em breve?
Uma organização muito mais madura, que buscou transformar o ecossistema, levar crescimento para fora, para os parceiros. Hoje, a companhia é mais digital, mas também busca preparar e equipar seus clientes, mesmo que seja um pequeno armazém, para que seja também digital. É a Ambev que se conecta diretamente com os consumidores com o Zé Delivery, que ouve mais, que pensa no longo prazo. Que está em um processo importante de abertura. Estar aqui nesse momento da empresa não poderia ser mais empolgante.

Que perfil de liderança você traz para a companhia?
Um líder com essa mentalidade aberta, que constantemente provoca a organização para ter antenas cada vez mais aguçadas para escutar, observar e aprender. Compreender esses sinais que vêm de fora pra dentro e ter isso como diferencial competitivo.  E um líder que busca a melhor versão de si mesmo e dos nossos talentos. Vou tentar levar esse grupo à sua melhor versão, especialmente coletivamente. Individualmente, os talentos são diferenciados, mas quando conseguimos chegar nesse valor coletivo é que a magia acontece.

Quais os principais desafios que terá pela frente?
Unir continuidade e evolução contínua. Venho para buscar a evolução, garantindo ao mesmo tempo a continuidade do que tem sido bem feito. Quero escutar as pessoas, estimular que tragam as oportunidades e inspirem nossos novos passos.

Como a força das marcas da Ambev entre os brasileiros vão ajudá-lo nesse desafio?
O nosso portfólio de cervejas representa de modo único o que é o brasileiro. Temos marcas complementares e com uma relação muito profunda com os consumidores, que ainda podem ser lapidadas para serem cada vez mais potentes. É muito inspirador estar aqui neste momento e poder imaginar o que será a nossa categoria no futuro.

Pessoalmente, o que essa volta ao Brasil representa para você?
É a realização de um sonho. É voltar para onde tudo começou, voltar para casa. É buscar a minha melhor versão. Chego com muita humildade para reaprender o que é ser parte desse grupo, mas confiante depois de todos esses anos de casa, que me permitiram o conhecimento do negócio e da categoria. É um momento único na minha vida profissional e pessoal, o novo começo de um ciclo que eu sei que trará várias razões para brindar.

Acompanhe tudo sobre:Ambev

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Negócios

Mais na Exame