Camargo Corrêa coloca ativos à venda
A construtora, uma das 23 empreiteiras envolvidas na Operação Lava Jato, fechou acordo de leniência para devolver R$ 700 milhões aos cofres públicos
Da Redação
Publicado em 5 de outubro de 2015 às 09h52.
São Paulo - O grupo Camargo Corrêa colocou à venda parte de seus negócios, entre eles a Alpargatas (dona da Havaianas), uma fatia da divisão de cimento InterCement e não descarta se desfazer da participação que tem na CPFL, de energia, segundo apurou a reportagem.
Os recursos serão usados para reduzir seu endividamento e como reserva para pagamento de pesadas multas.
A construtora, uma das 23 empreiteiras envolvidas na Operação Lava Jato , que investiga corrupção na Petrobrás, fechou acordo de leniência (espécie de delação premiada de empresas) para devolver R$ 700 milhões aos cofres públicos.
Além de fazer frente a obrigações financeiras, as vendas também estão ligadas à intenção da família - cuja terceira geração está praticamente fora do dia a dia dos negócios - de reduzir a dependência da construtora de obras públicas e de buscar opções de investimento mais rentáveis dentro e fora do Brasil.
Apesar de manter residência oficial no país, parte da família passa parte do tempo em Londres.
Fundado em 1939 como construtora por Sebastião Camargo, o grupo participou de momentos importantes da história do país - como a construção de Brasília -, mas trilhou caminho diferente de boa parte das empreiteiras, com diversificação de negócios.
Essa característica hoje põe a Camargo Corrêa em situação financeira mais confortável do que as demais envolvidas na Lava Jato.
"O grupo tem entre seus ativos CPFL e CCR (concessionária de infraestrutura), dois caminhões de dinheiro, geradores de dividendos, que podem dar liquidez à empresa", disse uma fonte.
Apesar dessa posição relativamente confortável, há também problemas. O primeiro é o endividamento do grupo, de R$ 15,7 bilhões (descontado o fluxo de caixa) - a maior parte concentrada na cimenteira.
Há ainda negócios em dificuldades, como o Estaleiro Atlântico Sul (EAS), considerado um "erro estratégico" que passa por reestruturação pelas mãos da RK Partners (a ordem é vendê-lo o mais rápido possível).
E, por fim, vêm as multas. Além dos R$ 700 milhões da Lava Jato, a empresa também tem obrigações referentes à participação na formação de um cartel entre as cimenteiras brasileiras. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aplicou multa de R$ 241,7 milhões à InterCement, mas a empresa tenta reverter a decisão na Justiça.
'Vende-se'
A venda de ativos do grupo Camargo Corrêa está em diferentes estágios. No caso da Alpargatas, fundos como Carlyle e KKR estão em processo competitivo pelos 44% da Camargo Corrêa, que garantem o controle do negócio. Fontes dizem que o Advent teria sido procurado, mas não se interessou.
A CPFL, que começou a ser oferecida ao mercado há cerca de dois meses, não deve ter problemas para atrair interessados. "Vendem a hora que quiserem", disse um banqueiro sobre o ativo de energia.
Já a InterCement, que concentra um terço da receita do grupo, de R$ 26 bilhões, até agora não conseguiu atrair interessados, segundo fontes.
A dívida alta (de ¤ 2,5 bilhões), a baixa demanda por cimento no Brasil e a fusão global entre Holcim e Lafarge, que pôs vários ativos à venda, reduzem o apelo do negócio neste momento.
Analista sênior da agência de classificação de risco Fitch, Phillip Wreen diz que qualquer movimento de capitalização do grupo é bem-vindo, embora o momento difícil da economia brasileira possa ser um empecilho.
A Camargo Corrêa informou, em nota, que "está sempre atenta às oportunidades de investimento que criem valor no longo prazo". Procurados, Advent, Carlyle, CCR e CPFL não quiseram comentar. RK e KKR não retornaram os contatos.
São Paulo - O grupo Camargo Corrêa colocou à venda parte de seus negócios, entre eles a Alpargatas (dona da Havaianas), uma fatia da divisão de cimento InterCement e não descarta se desfazer da participação que tem na CPFL, de energia, segundo apurou a reportagem.
Os recursos serão usados para reduzir seu endividamento e como reserva para pagamento de pesadas multas.
A construtora, uma das 23 empreiteiras envolvidas na Operação Lava Jato , que investiga corrupção na Petrobrás, fechou acordo de leniência (espécie de delação premiada de empresas) para devolver R$ 700 milhões aos cofres públicos.
Além de fazer frente a obrigações financeiras, as vendas também estão ligadas à intenção da família - cuja terceira geração está praticamente fora do dia a dia dos negócios - de reduzir a dependência da construtora de obras públicas e de buscar opções de investimento mais rentáveis dentro e fora do Brasil.
Apesar de manter residência oficial no país, parte da família passa parte do tempo em Londres.
Fundado em 1939 como construtora por Sebastião Camargo, o grupo participou de momentos importantes da história do país - como a construção de Brasília -, mas trilhou caminho diferente de boa parte das empreiteiras, com diversificação de negócios.
Essa característica hoje põe a Camargo Corrêa em situação financeira mais confortável do que as demais envolvidas na Lava Jato.
"O grupo tem entre seus ativos CPFL e CCR (concessionária de infraestrutura), dois caminhões de dinheiro, geradores de dividendos, que podem dar liquidez à empresa", disse uma fonte.
Apesar dessa posição relativamente confortável, há também problemas. O primeiro é o endividamento do grupo, de R$ 15,7 bilhões (descontado o fluxo de caixa) - a maior parte concentrada na cimenteira.
Há ainda negócios em dificuldades, como o Estaleiro Atlântico Sul (EAS), considerado um "erro estratégico" que passa por reestruturação pelas mãos da RK Partners (a ordem é vendê-lo o mais rápido possível).
E, por fim, vêm as multas. Além dos R$ 700 milhões da Lava Jato, a empresa também tem obrigações referentes à participação na formação de um cartel entre as cimenteiras brasileiras. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aplicou multa de R$ 241,7 milhões à InterCement, mas a empresa tenta reverter a decisão na Justiça.
'Vende-se'
A venda de ativos do grupo Camargo Corrêa está em diferentes estágios. No caso da Alpargatas, fundos como Carlyle e KKR estão em processo competitivo pelos 44% da Camargo Corrêa, que garantem o controle do negócio. Fontes dizem que o Advent teria sido procurado, mas não se interessou.
A CPFL, que começou a ser oferecida ao mercado há cerca de dois meses, não deve ter problemas para atrair interessados. "Vendem a hora que quiserem", disse um banqueiro sobre o ativo de energia.
Já a InterCement, que concentra um terço da receita do grupo, de R$ 26 bilhões, até agora não conseguiu atrair interessados, segundo fontes.
A dívida alta (de ¤ 2,5 bilhões), a baixa demanda por cimento no Brasil e a fusão global entre Holcim e Lafarge, que pôs vários ativos à venda, reduzem o apelo do negócio neste momento.
Analista sênior da agência de classificação de risco Fitch, Phillip Wreen diz que qualquer movimento de capitalização do grupo é bem-vindo, embora o momento difícil da economia brasileira possa ser um empecilho.
A Camargo Corrêa informou, em nota, que "está sempre atenta às oportunidades de investimento que criem valor no longo prazo". Procurados, Advent, Carlyle, CCR e CPFL não quiseram comentar. RK e KKR não retornaram os contatos.