Brasil está se tornando um balcão de negócios de armas, diz CEO da Taurus
Em 2019, a fabricante de armamentos registrou seu primeiro lucro em sete anos e acelerou os planos de internacionalização
Rodrigo Caetano
Publicado em 31 de março de 2020 às 13h09.
Última atualização em 1 de abril de 2020 às 15h52.
Na segunda-feira, a Taurus divulgou seus resultados referentes a 2019. Desde então, Salesio Nuhs, presidente da companhia, aprecia o sentimento de dever cumprido. A maior fabricante de armas do Brasil registrou seu primeiro lucro em sete anos. “Tinha muito analista no mercado que duvidava da nossa capacidade”, afirma Nuhs. “Não vejo a hora de ligar para eles”.
A fabricante de revólveres e pistolas reverteu um prejuízo de quase 60 milhões de reais em 2018 e alcançou um lucro líquido de 43,4 milhões de reais no ano passado. Foi uma vitória para a atual administração, que assumiu o comando da companhia há dois anos em um momento difícil. A Taurus vinha enfrentando críticas do mercado em razão de uma série de defeitos apresentados em seus equipamentos, que chegaram a ocasionar acidentes fatais.
“Quando assumimos, nossa primeira medida foi retirar do mercado toda a linha que havia apresentado defeito”, afirma Nuhs. “Ao mesmo tempo, criamos duas frentes de trabalho, uma interna, de melhoria dos processos industriais, e outra externa, de desenvolvimento de novos produtos e abertura de mercados.” Nos últimos dois anos, a Taurus lançou 50 produtos, a maioria nos mercados internacionais.
Saíram das linhas de produção da companhia, em 2019, 5.000 armas por dia, totalizando mais de 1,2 milhão de produtos fabricados no ano. Esse ritmo foi possível graças à inauguração de uma fábrica nos Estados Unidos, no estado da Geórgia, que dobrou a capacidade de produção da companhia no país, maior mercado armamentista do mundo. “Avançamos no nosso plano de internacionalização”, diz Nuhs. Além da nova unidade, a Taurus firmou uma joint venture com uma empresa siderúrgica na Índia para a produção de pistolas no país.
Conquistar mercados internacionais é a nova meta da companhia. Num momento em que o governo brasileiro facilita a importação, com a flexibilização das regras para aquisição de armas de fogo, e autoriza a instalação de uma nova fabricante no país, algo que não acontecia há 80 anos, a maior fabricante de armamentos brasileira mira o exterior. “Hoje, compensa mais importar da nossa fábrica na Geórgia do que produzir aqui”, diz o executivo.
A Taurus foi criticada pelo presidente Jair Bolsonaro e por seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro, diversas vezes. Eduardo chegou a afirmar que o governo “quebraria o monopólio da Taurus” e questionou a qualidade dos produtos da empresa. Apesar disso, Nuhs afirma que a relação com o governo é muito boa. “Com os órgãos que lidamos diretamente, os ministérios da Defesa e das Relações Exteriores, nunca tivemos problema”, afirma.
Já em relação ao arcabouço tributário e às políticas de liberalização da compra de armas no país, que favorecem a importação, Nuhs é crítico. “Com essa estrutura de impostos, simplesmente não compensa produzir no Brasil. O país está se transformando num balcão de negócios de armas. As empresas que vierem para cá vão apenas importar ou montar aqui. O certo seria fazer como na Índia, onde a Taurus é obrigada a transferir tecnologia”, diz ele. De acordo com Nuhs, as empresas estrangeiras quando exportam para o Brasil não pagam os mesmos impostos que as fabricantes locais, cuja tributação é de cerca de 70% do preço bruto do produto, e não passam pelo mesmo processo de homologação. "Eu demoro até 20 anos para homologar um produto", afirma.
Sobre a crise do novo coronavírus, o executivo afirma que a empresa dá prioridade à saúde de seus funcionários, por isso estabeleceu uma série de medidas preventivas. A fabricação não parou, no entanto, pelo fato da companhia ser reconhecida como empresa estratégica de defesa. “Estamos tomando todos os cuidados nas fábricas, como manter uma distância mínima, e fizemos alterações, especialmente na área de refeitórios”, diz ele. Por enquanto, também não há interrupções na cadeia de fornecimento.