Gloria Pires ao lado da sócia, a ex-modelo Betty Prado: negócio reúne marcas independentes, e que causam algum tipo de impacto socioambiental positivo (Bemglô/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 9 de agosto de 2022 às 08h00.
Última atualização em 18 de agosto de 2022 às 17h29.
Sobre consumo consciente, a atriz Gloria Pires é capaz de opinar com propriedade. E em parte graças à Bemglô, plataforma colaborativa que ela lançou em novembro de 2014 em parceria com o marido, o cantor Orlando Morais, e a amiga, atriz e ex-modelo Betty Prado.
O intuito é promover e rentabilizar marcas comprometidas com a sustentabilidade — só entram as de baixo impacto ambiental — e com o chamado slow fashion, que se opõe ao deletério fast fashion.
Focada em decoração, arte, moda, design, artesanato, cosméticos e produtos de beleza e bem-estar, além de cafés de pequenos produtores, a Bemglô dispõe de uma loja física desde 2019. Fica no número 1.105 da Rua Oscar Freire, em São Paulo, conhecida pelas grifes de luxo e pelos preços pouco acessíveis para a maioria das pessoas.
“A escolha da Oscar Freire foi muito nesse sentido, de furar a bolha: vamos falar de consumo consciente numa rua de consumo por consumo”, declarou Betty na época da inauguração do endereço físico. “Poderíamos estar na Vila Madalena, por que estamos aqui? Para fazer com que as pessoas que entrem passem a refletir sobre consumo. Você vai entrar porque tem um super astral, porque é um lugar gostoso e você veio tomar um café. Não precisa comprar nada. Precisa? Então saiba o que você está comprando e de quem está comprando.”
A loja é conhecida por vender kokedamas da marca Kokê, joias da grife Ikuno Handmade e bolsas da Rede Asta, uma organização social cujo objetivo é criar oportunidades de formação e geração de renda para micro empreendedoras.
Roupas atemporais de Ale Valois, FOZ e da grife Irrita, que pertence à Rita Comparato, também têm espaço garantido, assim como as joias de Marina Sheetikoff e as cerâmicas da Fátima Moreira.
Está de olho em cosméticos naturais? Tem os da Four Elements, da BO Cosméticos e os da Terral. As peças da Kite Coat recorrem a um conceito sobre o qual se fala muito na Bemglô: upcycling, que nada mais é que a reutilização de materiais que provavelmente terminariam no lixo ou nos oceanos. As jaquetas dessa marca são feitas com velas de kitesurf, que levam 300 anos para se decompor – e, ironicamente, precisam ser substituídas a cada 300 horas, para não comprometer a prática desse esporte.
Amigos há mais de 30 anos, Glória, Moraes e Betty decidiram tirar a Bemglô do papel depois que o cantor manifestou o desejo de criar uma linha de produtos que espelhasse a imagem de sua mulher. A ideia veio antes da global virar meme com o impagável bordão “Não sou capaz de opinar”, que proferiu na condição de comentarista da TV Globo durante a premiação do Oscar de 2016. Com 6,2 milhões de seguidores no Instagram, a atriz adora dar dicas para quem se preocupa com o meio ambiente e busca um estilo de vida saudável.
A Bemglô também dispõe de uma seção de conteúdos em seu ecommerce e de um podcast. O terceiro episódio, comandado por Glória, defende que o lixo não é semente. “O que você tem plantado no seu dia a dia?” pergunta a atriz, de voz inconfundível, no início. "Você já parou para pensar o quanto nossas atitudes impactam em outras vidas? E não só nas vidas humanas, mas na vida dos rios e das florestas?”.
Em novembro de 2020, a marca foi classificada como uma empresa B, que deixou a atriz toda orgulhosa. Companhias do tipo são aquelas que estão comprometidas em construir um mundo melhor para a sociedade e o planeta. A certificação cabe ao Sistema B International, organização que foi fundada em 2011 e hoje engloba mais de 4.500 companhias — de 153 setores — em 77 países.
A plataforma da atriz parece ter inspirado duas outras iniciativas parecidas. Uma delas é a FromFuture.com.br. Trata-se de um marketplace que reúne apenas marcas independentes, e que causam algum tipo de impacto socioambiental positivo. Vegano, orgânico, natural e reciclado são termos caros à plataforma, que se encarrega de checar se as marcas oferecidas colocam em prática o que prometem. Uma delas é a Amarsi, criada pela estilista Luiza Pitliuk, que diz só utilizar tecidos sustentáveis e recorrer ao ateliê de uma costureira trans.
A segunda iniciativa similar é a Nordestesse, plataforma colaborativa cuja missão é documentar, amplificar e fomentar o talento de empreendedores e criativos de todos os estados do Nordeste. É o caso do estilista baiano Gefferson Vila Nova, que une a alfaiataria ao vestuário esportivo. Design, artes visuais, gastronomia e turismo são outros pilares dessa plataforma.