Presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto, espera repetir dezena de vezes neste ano a tradicional cerimônia de IPOs como a do Grupo Fleury, realizada no ano passado (.)
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h10.
<hr> <p class="pagina">Richard Wahba, estrategista para pessoa física da Fator Corretora, vê outros dois pontos de contenção a uma avalanche de IPOs neste ano. O primeiro será a megacapitalização da Petrobras. O mercado acredita que a estatal poderá levantar até julho cerca de 30 bilhões de dólares - a maior operação da história do mercado brasileiro. "Essa oferta deverá concentrar todas as atenções dos investidores. O grande boom de IPOs deve ficar só para o ano que vem", avalia Wahba. Outra grande operação que vai chamar a atenção do mercado é a do Banco do Brasil. A instituição planeja levantar 10 bilhões de reais nas próximas semanas.<br><br>O segundo entrave aos IPOs, diz Wahba, deverá ser a eleição presidencial, marcada para outubro e novembro. "Até que seja definido o próximo comandante do país, alguns executivos vão pensar bem antes de abrir capital", afirma o especialista. A expectativa do mercado é de que a vitória seja do tucano José Serra ou da petista Dilma Rousseff. Serra é visto como um homem capaz de fazer reformas importantes ao país, mas também gera temores de maior intervenção no câmbio e nos juros. Já Dilma deixaria o Banco Central continuar a trabalhar com independência, mas ao mesmo tempo manteria a atual trajetória de aumento dos gastos públicos. Para o banco de investimentos BofA Merrill Lynch, até agora o mercado tem subestimado o risco político de que o próximo presidente tome medidas desfavoráveis aos investidores.<br><br> <br><br><strong>Nem tudo são trevas</strong><br><br>Apesar das incertezas, o mercado aposta que as empresas poderão aproveitar os períodos de otimismo durante este ano para captar recursos na bolsa. As duas ofertas já realizadas somaram 1,3 bilhão de reais - 629,4 milhões de reais do Multiplus e 672,75 milhões de reais da Aliansce. No mesmo período de 2009, não houve nenhum IPO. Ao longo do ano passado, foram realizadas seis operações responsáveis por levantar 13,2 bilhões de dólares. É um volume bem menos expressivo do que os 37,4 bilhões de dólares negociados nas 68 ofertas iniciais de 2007, período recorde no Brasil. "Este ano não teremos uma safra de IPOs como há três anos, mas, sem dúvida, haverá uma retomada nesse tipo de operação", diz Alexandre Pierantoni, da consultoria PricewaterhouseCoopers.<br><br>É consenso entre os executivos que este ano superará o de 2009 não só na quantidade de transações realizadas mas também no volume financeiro. Antes da crise econômica mundial, que eclodiu no segundo semestre de 2008, cerca de 40 empresas estavam com processos de abertura de capital registrados na CVM. Mas, devido às incertezas do cenário global, todas essas operações foram canceladas. "Considerando que somente seis empresas fizeram IPOs no ano passado, há um grande potencial para a listagem de novas companhias durante este ano", aposta o advogado Nazir Takieddine, do escritório Trench, Rossi e Watanabe. (Continua).</p> <hr> <p class="pagina">Especialistas acreditam que as ofertas públicas mais relevantes possam ocorrer nos setores de varejo e consumo. Como há perspectivas de expansão da renda no Brasil e de crescimento da classe C, o segmento passará por intensas consolidações para atender à demanda nos próximos anos. Depois da fusão do Ponto Frio com a Casas Bahia, articulada pelo Grupo Pão de Açúcar no ano passado, as concorrentes deverão captar recursos para financiar o contra-ataque no mercado. "Para tanto, o IPO é uma forma interessante de levantar investimentos", diz Reinaldo Grasson, sócio da consultoria Deloitte.<br><br>No mercado, circula a informação de que, entre os possíveis calouros da Bolsa, estaria o fabricante de perfumes e cosméticos O Boticário. A intenção seria atrair recursos com investidores para injetá-los na expansão de suas franquias no Brasil e em países como Japão, Portugal, Bolívia, Peru e Paraguai. Especialistas comentam também sobre o potencial da CVC Turismo. Após vender 63,6% de suas ações para o fundo de private equity americano Carlyle no começo deste ano, a operadora de viagens poderá abrir capital antes mesmo do período de cinco anos estipulado para o crescimento do negócio. O IPO da CVC poderia ter boa receptividade por dois motivos: há cada vez mais pacotes turísticos acessíveis às classes mais populares e, além disso, não há nenhum empreendimento desse tipo listado na BM&FBovespa.<br><br>"Este ano viveremos um cenário propício tanto para as empresas de médio porte como para as grandes multinacionais que desejam seguir o exemplo do banco Santander, que levantou no ano passado 7,5 bilhões de dólares", avalia o advogado Alberto Murray Neto, sócio do escritório Paulo Roberto Murray. Com a economia aquecida, o Brasil tem se destacado no mundo. O Ibovespa teve valorização de mais de 80% no ano passado e a maioria das corretoras projeta que o índice possa ao menos chegar no patamar inédito de 80.000 pontos durante 2010. Se depender da lista de pedidos do presidente da BM&FBovespa, a campainha da Bolsa ainda será pressionada diversas vezes ao longo deste ano. "Temos tudo para estampar as capas das revistas internacionais", diz ele. Se o mercado brasileiro vencer as dificuldades, quem sabe neste ano a revista britânica Economist não coloque para decolar em sua capa o prédio histórico da bolsa no centro de São Paulo?</p>