Edgar Corona, da Smart Fit: com cerca de dois milhões de clientes, a rede está com suas unidades na América Latina fechadas temporariamente desde o dia 19 de março (Germano Lüders/VOCÊ S/A)
Carolina Ingizza
Publicado em 13 de abril de 2020 às 12h20.
Última atualização em 13 de abril de 2020 às 13h26.
O setor de academias de ginástica foi um dos primeiros a ser afetado pela crise causada pela pandemia de coronavírus. A Smart Fit, maior rede de academias da América do Sul, com cerca de dois milhões de clientes, anunciou em meados de março o fechamento temporário de todas as suas unidades no Brasil e na América Latina, o que poderá resultar em um prejuízo de cerca de 160 milhões de reais ao mês. Para discutir como o segmento está se reinventando, Edgar Corona, fundador e presidente do Grupo Bio Ritmo, dono da rede Smart Fit, fala à EXAME em entrevista ao vivo da série exame.talks.
Foi durante o Carnaval que Corona percebeu que a situação do era grave. Fora do Brasil, o executivo viu o que acontecia na Itália e percebeu que a crise seria diferente da de 2008. "A crise de 2008 foi de liquidez, essa é uma crise do cara que vende coco no Ibirapuera. Não tem como irrigar a economia, porque você abastece o coração com sangue, mas não chega a artéria do pé", afirma Corona.
Imediatamente, o presidente ligou para sua equipe e pediu para que se preparassem. A partir do dia 15 de março, as unidades começaram a ser fechadas e a cobrança da mensalidade dos alunos foi congelada. Neste contexto, as principais preocupações do executivo são como equacionar o caixa, cuidar dos 2,7 milhões de alunos e manter a equipe de funcionários.
Para engajar os mais de um milhão de alunos que frequentavam as academias da rede diariamente, a Smart Fit lançou um projeto digital que já estava em produção antes da crise. A empresa disponibilizou gratuitamente uma série de aulas online, usando pesos e materiais encontrados em casa, para estimular a prática de atividade física durante a quarentena. “Atingimos 8 milhões de pessoas no Brasil, são cerca de 800.000 pessoas diferentes por dia usando os treinos”, afirma Corona.
Corona tinha grandes planos para a Smart Fit em 2020. A empresa fechou 2019 com 797 academias espalhadas pelo Brasil e América Latina. A meta para este ano era abrir mais 238 unidades e chegar ao total de 1.035. A rede planejava desembolsar 1 bilhão de reais em investimentos – cada unidade custa cerca de 4 milhões de reais. Com o coronavírus, os planos foram pausados.
Imaginando um contexto de paralisação de 60 a 90 dias, será impossível abrir o número planejado de novas unidades, segundo afirma o executivo. Ele estima que sejam abertas somente 170 novas academias em 2020. “O caixa será usado para um propósito que não é gerar emprego e crescer, mas sim se proteger. É triste”, afirma o empresário.
Apesar do prejuízo com as unidades fechadas, a empresa está capitalizada. No fim de novembro de 2019, o fundo canadense CPPIB adquiriu 12,4% da empresa por 1 bilhão de reais. Um mês antes, a Smart Fit fechou um acordo de aumento de capital de 500 milhões de reais com fundos geridos pelo grupo Pátria, o seu principal acionista. Além disso, a companhia tem um grau de endividamento considerado baixo pelo mercado: 1,7 vezes a relação entre dívida líquida e o EBITDA.
"Para o brasileiro, gestor de empresas, é um ano muito duro", diz o presidente da Smart Fit. Tentando antecipar como serão os meses futuros, a companhia acompanha as tendências de outras grandes redes de academia do exterior. Corona diz que faz uma reunião semanal com outros empresários do mundo para trocar experiências. “Pegando tudo que foi feito de bom nos outros países em termos de segurança, temos um mapa de procedimento para reabertura”, afirma.
De acordo com o executivo, em um primeiro momento, as unidades terão que medir a temperatura dos clientes na entrada e recomendar o uso de máscaras. As esteiras vão ser espaçadas, haverá menos máquinas de musculação, tudo para evitar a proximidade entre os alunos. O horário de funcionamento será estendido, para tentar diluir a concentração de clientes no espaço. "Podemos mandar um e-mail para os clientes do grupo de risco, sugerindo que a pessoa mantenha a mensalidade congelada neste momento", diz.
Com base na experiência chinesa, o fundador está otimista. Na China, na primeira semana de reabertura, a frequência foi de 50% em relação à demanda normal. Na quarta semana, o movimento já está na casa de 70%. A taxa de cancelamento foi baixa e o ritmo de vendas está praticamente igual ao que era em dezembro e janeiro, antes do surto.
De acordo com Corona, 34% dos novos clientes de um operador chinês de academias nunca tinham praticado atividade física antes, o que pode indicar um maior grau de conscientização das pessoas depois da pandemia. A expectativa do executivo é que haja mais procura por academias no futuro no Brasil. “Depois desse inverno tenebroso, com zero de receita, acho que vai aumentar a prática. As pessoas entenderam que estar fisicamente ativo é melhor, houve um aumento de consciência”, diz o fundador da Smart Fit.
Na visão do executivo, a reabertura do comércio vai acontecer aos poucos. "Imagino que até 31 de maio, muita coisa deve estar reaberta. Não sei se o país aguenta muito mais do que isso", afirma.
O desafio da empresa será operacionalizar a reabertura segmentada das unidades. "Quando reabre por praça, precisa estudar como fazer isso isoladamente. Precisa de mais gente de TI e operações para entender como colocar isso no ar", diz.
Para Corona, os empresários que estão enfrentando a crise devem pensar e se planejar tendo em vista o curto prazo. O desarranjo da economia aconteceu, mas a realidade de hoje pode não ser a mesma de daqui a 15 dias. “Tem gente muito boa pensando soluções”, diz.
Também é necessário pensar no cliente. “É o dinheiro dele que paga os funcionários”, afirma. Na visão do empresário, os empreendedores precisam se antecipar e planejar o que vão oferecer aos clientes na reabertura do comércio.
Em última instância, os empresários deveriam pensar em como podem ajudar o país durante a crise. “Vai passar, no final do ano vamos olhar para trás e ver o quanto aprendemos, diz Corona.
A entrevista foi conduzida pela editora Denyse Godoy.
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