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ARTIGO: O que aprender com a Capital Nacional das Startups

Florianópolis tem muitas lições a oferecer às cidades brasileiras. Foi ali que surgiu a primeira incubadora tecnológica do país. A cidade hoje lidera o ranking de startups e tem um prefeito ‘tiktoker’ oriundo do setor de TI, o que faz toda a diferença, segundo a colaboradora de EXAME Cláudia Rosa

O prefeito de Florianópolis, Topázio Neto, e Cláudia Rosa, no gabinete dele na prefeitura: luta contra 'complexo de vira-lata' do brasileiro (Divulgação/Divulgação)

O prefeito de Florianópolis, Topázio Neto, e Cláudia Rosa, no gabinete dele na prefeitura: luta contra 'complexo de vira-lata' do brasileiro (Divulgação/Divulgação)

Cláudia Rosa
Cláudia Rosa

CEO do Ela Investe e colaboradora em

Publicado em 15 de dezembro de 2024 às 08h00.

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Confesso que quando Florianópolis recebeu o título oficial de Capital Nacional das Startups, no início de setembro deste ano, fiquei em dúvida sobre o mérito, mesmo que eu própria tivesse uma forte ligação com a cidade desde 2016, quando comecei a fazer investimento anjo e participar de eventos do ecossistema.

Aproveitando as novas parcerias que venho fazendo ao longo dos anos com hubs de inovação e startups catarinenses – recentemente investi na Toodo, TravelTech de Blumenau - e algumas reuniões agendadas, resolvi percorrer a história, conversar com líderes do setor tecnológico e não só entender os motivos que levaram o Congresso Nacional a aprovar esse título, mas principalmente aprender algumas lições para transmitir a todo o nosso ecossistema.

Florianópolis, de acordo com o mapeamento do Sebrae Startup SC, tem 676 startups, representando 42% dos 1.604 novos negócios inovadores de todo o Estado.

O setor de TI na Capital soma 6.099 empresas, que faturam anualmente R$ 12 bilhões, empregam 38,4 mil colaboradores e geram uma receita de quase R$ 100 milhões em ISS. Isso numa cidade que tem pouco mais de 500 mil habitantes, ou seja, é dez vezes menor do que São Paulo em população, mas com excelente visibilidade e oportunidades de crescimento.

Complexo de vira-lata

Mesmo com todos esses números significativos, fiquei surpresa quando fui apresentada ao famoso “prefeito tiktoker” de Floripa, Topázio Neto, que todas as manhãs se comunica com a cidade pelas redes sociais (onde tem mais de 350 mil seguidores) e ele me disse: “Cláudia, como é que nós fazemos para acabar com nosso complexo de vira-lata?”.

Para quem não se lembra, foi o dramaturgo Nelson Rodrigues que inventou essa síndrome quando o Brasil perdeu a Copa de 1950 para o Uruguai em pleno Maracanã, explicando que “por ‘complexo de vira-lata’ entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo”.

Quando me fez essa pergunta, Topázio e eu estávamos no lançamento de mais um espetacular espaço cultural de Floripa, a A. Galeria, que não por acaso fica num dos quatro hubs de inovação da cidade, o Primavera/Acate (Associação Catarinense de Tecnologia), e como fiquei perplexa com a pergunta que ele me fez, deixamos como tema para a nossa reunião que já estava agendada para o dia seguinte no gabinete dele.

Um gabinete, aliás, que tem uma das mais belas vistas da cidade, com as três pontes que ligam o Continente à Ilha, o Aterro da Baía Sul e uma parte do centro histórico. Ali estavam também, para nossa conversa, a secretária de Turismo Zena Becker, uma das grandes lideranças de mulheres de Floripa, e o secretário de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia, Juliano Pires.

E logo que voltamos à conversa sobre o “complexo de vira-lata”, o prefeito – um empresário que vem do ecossistema de TI – me explicou que considera essa uma enfermidade nacional, mas que especificamente atinge Florianópolis, “que parece não saber o tamanho e a importância que tem”, segundo ele.

A partir daí a conversa fluiu, também porque me coloquei à disposição para ajudar a resolver um outro problema também mencionado por ele, que é como apoiar empreendedores a serem mais efetivos na área comercial, ou seja, como vender mais.

E Topázio colocou na mesa o desafio que considera fundamental para que Florianópolis dê um salto, especialmente no ecossistema de Startups: “Precisamos de cheques de investimento mais altos, muito mais altos, porque eles hoje ficam em São Paulo”. Foi o que bastou para que ali mesmo traçássemos alguns planos e diretrizes básicas para levar os tais “grandes cheques” para Floripa, a começar pela atração dos grandes líderes nacionais de Venture Capital.

Rede de suporte a empreendedores

Ainda não posso adiantar quais são os nossos planos, mas posso revelar alguns interlocutores que buscamos para dar cabo dessa nova missão. Por exemplo: Sérgio Ribas, presidente da Irani Papel e Embalagem, uma das maiores empresas do setor do país e que tem DNA catarinense, e também do Grupo Habitasul, que desenvolve o famoso Jurerê Internacional em Florianópolis desde 1980.

Além da Irani Venture, Sérgio estabeleceu parceria para a criação no bairro da Founder Haus, um hub de inovação global, do qual são líderes meus antigos parceiros Nima Kaz e Paloma Lecheta, oriundos da renomada Jupter, juntamente com Bruno Dequech.

Assim como foram importantes essas reuniões de trabalho como esses players, também entendi muito sobre o motivo do prêmio de Capital Nacional das Startups ao visitar o icônico Sapiens Parque, uma cidade de inteligência tecnológica que abriga mais de 550 empresas, no Norte da Ilha, onde desponta a Softplan, 34 anos de mercado, 15 mil clientes, três mil colaboradores e uma infinidade de prêmios nacionais e internacionais. E ali estão presentes também a UFSC e a Federação das Indústrias (Fiesc), além de um Centro de Inovação da Acate, o CIA Sapiens.

Aliás, a Acate é um capítulo à parte nessa história. Fundada há 38 anos e recém-eleita, pela quarta vez, como Hub de Tecnologia do Ano no Startup Awards, a entidade tem mais de 1700 empresas associadas em oito polos de inovação em cidades estratégicas de Santa Catarina. Mas você pode encontrar “embaixadas” da Associação também em Boston, em Toronto, nos Emirados Árabes e representantes na Itália, Alemanha e Portugal.

A Acate é acima de tudo uma rede de suporte, capacitação e inspiração aos empreendedores: a sua incubadora Miditec, criada há 25 anos, foi escolhida como uma das cinco melhores do mundo por três vezes e já ajudou a formar mais de 300 empresas e gerar milhares de postos de trabalho.

E foi no hub de inovação Primavera da Acate que encontrei também outro importante interlocutor para a execução das missões pautadas pelo prefeito: Delton Batista, presidente do LIDE Santa Catarina e Rio Grande do Sul, com quem também já estou dando andamento a três projetos.

Foi muito interessante a visita à “mãe” das incubadoras tecnológicas do Brasil, o Celta, que é parte da estrutura da Fundação Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras (Certi), criada em 1984, quando a palavra “startup” ainda não fazia parte do nosso dicionário. E lá pude ver a plaquinha com o logotipo da Conpass, minha primeira investida de Floripa, agora foi adquirida pela plataforma de gestão Ômie.

Depois de todas essas experiências, não tenho como continuar a ter dúvidas se Floripa é mesmo a Capital Nacional das Startups. Aliás, quando eu estava voltando para São Paulo recebi a notícia de que mais uma vez a Capital catarinense foi eleita a cidade mais inteligente e conectada do Brasil no Ranking Connected Smart Cities.

Esse título vem se juntar a outros: cidade mais competitiva do país no Ranking Competitividade dos Municípios e também Cidade Unesco da Gastronomia, obtido em 2014.

Portanto, em 2025, vou voltar muitas vezes a Floripa. O que não é nenhum sacrifício, não é mesmo? Além de bons negócios, são 42 praias paradisíacas, espaços espetaculares de convivência, entretenimento e esportes e, melhor de tudo, estar perto dos “manezinhos”, como eles amam ser chamados.

Conselheira e maior investidora-anjo em startups do Brasil 2022, CEO do Ela Investe - @claudiarosa_vc

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