A Azul anunciou a aquisição da Two Flex, companhia regional com 17 aviões para até nove assentos (NurPhoto / Contributor/Getty Images)
Karin Salomão
Publicado em 31 de agosto de 2020 às 13h00.
Última atualização em 31 de agosto de 2020 às 14h00.
No lugar de aeroportos saturados em grandes cidades, municípios menores com uma infraestrutura mais enxuta. No lugar de longas viagens internacionais, turismo doméstico e mais próximo. A aposta da Azul na aviação regional, que é um foco desde sua criação e se intensificou durante a pandemia, pode ser uma grande vantagem com a retomada da demanda por voos.
A companhia acaba de lançar sua nova subsidiária para o mercado regional, a Azul Conecta, para ter ainda mais presença nesse setor. "A Azul sempre apostou na capilaridade. Sempre acreditamos que o Brasil é muito grande e com muitos mercados pouco servidos", diz Marcelo Bento, diretor de relações com investido diretor de RI da Azul.
De acordo com ele, esse é um dos motivos que levaram a empresa a criar um hub no aeroporto de Viracopos, em Campinas, SP. Os principais aeroportos do país, como Congonhas e Guarulhos, em São Paulo, e Santos Dumont, no Rio de Janeiro, são muito concorridos e saturados, sem espaço para aeronaves pequenas que voam a destinos regionais. "As pessoas não precisam só viajar para as cidades grandes, elas querem chegar ao Brasil inteiro", afirma Bento.
O foco na aviação regional ficou ainda mais intenso a partir do começo deste ano. Em janeiro, a Azul anunciou a aquisição da Two Flex, companhia regional com 17 aviões no modelo Cesna Gran Caravan, um turboélice regional monomotor com capacidade para até nove assentos. De cerca de 104 cidades e destinos nacionais que a Azul opera, a aérea quer chegar a 150 até o final do ano e eventualmente a 200.
Nem todas essas cidades têm uma infraestrutura adequada de aeroportos para receber grandes aeronaves. Às vezes, o mercado também não foi desenvolvido e não há demanda que justifique a operação com aviões para dezenas de passageiros. As aeronaves pequenas também servem o propósito de testar e preparar um mercado.
Por isso, de acordo com o diretor, é importante ter uma frota diversa de aviões para destinos e funcionalidades diferentes. Com a aquisição da aérea regional, a Azul passa a operar dos monomotores da Two Flex até o Airbus A321neo, com capacidade para 214 passageiros. "Ter uma flexibilidade muito grande na frota nos ajuda a ter mais velocidade na retomada", afirma o diretor.
Os aeroportos mais saturados do país estão na Região Sudeste, mas não é onde a demanda está mais aquecida no momento. As regiões Norte e Centro-Oeste lideram a retomada, de acordo com o diretor.
A Região Norte tem cidades isoladas nas quais o transporte aéreo acaba sendo a opção mais rápida — na comparação com o trajeto por estradas ou mesmo pelos rios. Já no Centro-Oeste há uma grande demanda do setor agropecuário, com poder econômico grande, mas sem a necessidade de transportar muitos passageiros. Além disso, o interior do país foi menos impactado pelo coronavírus e, por isso, o foco na aviação regional dá vantagens para a Azul.
Outro segmento que pode ajudar na retomada da Azul é o transporte de cargas. A empresa tem dois aviões cargueiros puros, além de alguns aviões conversíveis. A receita da Azul Cargo caiu apenas 0,8% no segundo trimestre do ano comparado com o mesmo período do ano passado, mesmo com a redução de 83% na capacidade ano contra ano. A aérea espera um aumento na receita de carga ano contra ano no terceiro trimestre. "A receita de carga cresceu mais de 120% entre abril e junho, e continuamos a ver forte tendência de melhoria, com a receita de julho aumentando mais de 45% ano contra ano", diz a empresa em seu relatório de resultados.
A Two Flex deverá impulsionar o segmento de cargas, com três aviões dedicados. "A Two Flex tem contratos grandes de carga, para transportes de documentos bancários, amostras para exames, entre outros, e pode complementar bem o negócio de carga", diz Bento. No segundo trimestre, a Azul apresentou um prejuízo líquido de 2,9 bilhões de reais e a receita da aérea chegou a 402 milhões de reais, queda de 85% em relação ao mesmo período do ano passado.
O olhar para as oportunidades regionais e de carga podem ser o diferencial nessa retomada.