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Após crise de R$ 5,7 bi, incorporadora PDG trabalha para restaurar confiança do cliente e do mercado

Empresa espera que, com a entrega de primeiros lançamentos, a confiança pela companhia se fortaleça e o crédito fique mais acessível

Augusto Alves dos Reis Neto, CEO da iX: "Você sai da recuperação judicial, mas a recuperação judicial não sai de você” (iX./Divulgação)

Augusto Alves dos Reis Neto, CEO da iX: "Você sai da recuperação judicial, mas a recuperação judicial não sai de você” (iX./Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 19 de julho de 2024 às 10h20.

Três anos depois de sair de uma recuperação judicial com uma dívida de mais de 5 bilhões de reais, a incorporadora carioca PDG, agora sob novo nome, iX, trabalha para se reerguer no mercado imobiliário.

O foco da companhia, que já chegou a ser a maior do Brasil com um faturamento de 10 bilhões de reais, agora é lançar empreendimentos mirando a classe média paulistana, onde a incorporadora já tinha terrenos comprados antes da crise.

Mesmo assim, se reerguer depois de um tombo bilionário é uma missão difícil, principalmente num setor que depende muito de crédito para tocar e erguer os empreendimentos.

“Para construir, você precisa de dinheiro”, diz Augusto Alves dos Reis Neto, CEO da companhia. “Mas para uma empresa que saiu de uma recuperação judicial, é tão difícil conseguir crédito como para aquelas que estão no processo. Você sai da recuperação judicial, mas a recuperação judicial não sai de você”.

Apesar da tormenta, dois empreendimentos já foram lançados, um no Tatuapé, na zona Leste da capital paulista, e outro em Santana, na zona Norte. Eles foram financiados com a emissão de CRIs, recebíveis imobiliários que atestam o pagamento futuro da operação.

A expectativa da empresa é que, com a entrega destes primeiros imóveis, a confiança do mercado volte a andar ao lado da companhia.

“Costumamos falar algum prazo de obra e entregar antes. A ideia é surpreender o cliente, dar boas notícias, para reforçar a confiança e a credibilidade”, diz Reis. “Sabemos que é importante a gente lançar, construir e entregar. Antes de completar essas três etapas, nossa credibilidade vai ficar restrita”.

Hoje, 17% da obra do Tatuapé já está pronta. Em Santana, as obras ainda não começaram. A companhia fatura algo em torno de 100 milhões de reais. Desse total, 60% vem das vendas de novos projetos, e 40% de empreendimentos antigos, da época da PDG.

Qual foi a crise da empresa

O início dos anos 2010 representou o auge da PDG, empresa fundada em 2003 como um braço de um banco de investimentos. Em 2006, tornou-se uma unidade de negócio independente e, nos anos seguintes, foi comprando outras construtoras, como a Goldfarb, a CHL e a AGRE.

Em 2013, a empresa chegou a ter 300 canteiros de obras simultâneos pelo país, com 10.000 funcionários. Naquela época, passou nomes importantes, como a Cyrela, e se tornou a maior incorporadora do Brasil.

“O processo de fusão com outros negócios trouxe uma série de passivos que fomos descobrindo ao longo do tempo”, diz Reis. “Somado a isso, tivemos uma crise econômica e institucional. A economia virou de cabeça para baixo. Como nosso setor é muito dependente da macroeconomia, sentimos muito”.

Com muitas obras em andamento e um freio nas compras, a dívida da empresa foi às alturas. Em 2015, já num cenário bem mais desafiador, a empresa tinha reduzido de 300 para 30 o número de obras. Mesmo assim, precisou paralisar as construções enquanto tentava negociar com bancos.

O resultado foi uma recuperação judicial vinda em 2017 com uma dívida que beirava os 6 bilhões de reais.

“Com isso, começou o trabalho de negociação com os credores, que foi surpreendentemente positivo”, diz Reis. “No mesmo ano, mesmo com toda complexidade do plano, a assembleia o aprovou”.

Como foram os anos de recuperação judicial

Apesar do plano ter sido rapidamente aprovado, a recuperação judicial em si aconteceu em anos difíceis para a PDG. Sem lançar nada desde 2015, a companhia passou a última metade dos anos 2010 rentabilizando com a venda de apartamentos já prontos — ou seja, de seu estoque.

“O volume do endividamento era alto, mas como era uma companhia grande, tinha ativo pronto. Fomos vendendo, e ainda temos parte desses ativos para comercializar”.

A partir de 2019, quando as coisas começaram a se ajeitar um pouco e com o plano de reestruturação já aprovado e encaminhado, a empresa entendeu que era hora de retomar os lançamentos.

“Já tinha passado o primeiro momento mais difícil e começamos a avaliar novas fontes de receita, de prestação de serviços. Estávamos estudando várias alternativas”, afirma o CEO. “Ao longo da recuperação judicial, seguramos alguns terrenos que julgamos estratégicos e começamos a trabalhar em novos projetos”.

Mas no meio do caminho, tinha uma pandemia.

Como a PDG atravessou a pandemia

Se por um lado a pandemia trouxe apreensão para a companhia, por outro, foi o momento de surfar em novas oportunidades e aprendizados. Reis citou três:

  • Trabalhar projeto de jornada digital: digitalizar o processo de compra do cliente.
  • Comercializar: com um setor aquecido e pessoas procurando por novos locais para morar, a empresa conseguiu vender boa parte de seu estoque
  • Comunicação interna: aperfeiçoar questões como clima, ambiente, cultura e diversidade

Mas o ponto mais importante, internamente pelo menos, foi a mudança de marca para iX.

“A PDG já era uma marca desgastada, com uma memória negativa por trás. Já não era mais o caminho”, diz o CEO.

O novo nome é uma referência a UX - sigla em inglês para o termo “experiência do usuário”. O “i” no lugar do “u” faz menção ao setor que a empresa está incluída: o imobiliário.

Qual é a situação da iX hoje

Agora, já fora da recuperação judicial, a empresa trabalha para se reerguer. A grande questão é o crédito, algo a ser superado a partir do momento em que as obras começarão a ser entregues.

“Fizemos um trabalho interno muito legal, temos baixa rotatividade, atraímos funcionários do mercado”, diz Reis. “O nosso grande desafio, no momento, é o crédito”.

Enquanto trabalham para se reerguer, ainda vão pagando as dívidas do plano de recuperação judicial, principalmente por meio da conversão da dívida em ações. Neste momento, a dívida da empresa está na casa dos 1,7 bilhão de reais.

“E estamos trabalhando para gerar caixa, e faremos isso quando conseguirmos entregar o empreendimento”, afirma o CEO. “É importante que a gente volte a lançar, para voltar a operar de fato”.

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