Aneel pode autorizar Celg-D a trocar multas por investimentos
Antes sob comando da Eletrobras, a Celg-D teve a concessão arrematada pela Enel por cerca de 2,2 bilhões de reais em um leilão de privatização
Reuters
Publicado em 23 de março de 2017 às 17h04.
Última atualização em 23 de março de 2017 às 17h10.
São Paulo - A Agência Nacional de Energia Elétrica ( Aneel ) pode autorizar que compensações devidas pela distribuidora de eletricidade goiana Celg-D a clientes devido ao descumprimento de metas de qualidade sejam convertidas em obrigações de investimento na empresa por sua nova controladora, a italiana Enel, segundo nota técnica vista pela Reuters.
Antes sob comando da estatal federal Eletrobras, a Celg-D teve a concessão arrematada pela Enel por cerca de 2,2 bilhões de reais em um leilão de privatização em novembro passado.
O pleito da Enel por alívio nas penalidades impostas à Celg-D vem em um momento em que o governo federal tem falado em flexibilizar condições para encontrar compradores para outras seis distribuidoras de energia que a Eletrobras pretende vender até o final deste ano.
A área técnica da Aneel propôs que recursos que a Celg-D pagaria em compensações pelo descumprimento de limites de qualidade possam ser destinados a investimentos na área de concessão entre julho de 2017 e dezembro de 2018.
Originalmente, a Enel pedia um "período de transição" maior, de três anos.
Em 2016, a distribuidora goiana gastou 66 milhões de reais em compensações, ante 98,4 milhões de reais no ano anterior.
"Entende-se que o regime diferenciado... deve ser aplicado à Celg-D, baseando-se na premissa de que os investimentos serão aplicados visando à melhoria da qualidade, beneficiando os consumidores e atendendo, em última análise, o interesse público", afirmam técnicos da Aneel em documento publicado na quarta-feira.
Eles propõem ainda que, se a Celg-D conseguir reduzir a partir de julho deste ano as falhas que obrigam a compensação de clientes, parte dos valores que deveriam ser pagos poderá ser considerada um investimento remunerável da distribuidora.
Se a qualidade cair ante 2016, no entanto, a Celg-D poderá ser obrigada a investir mais na concessão.
A Aneel ressaltou que entre 2012 e 2015 a Celg-D investiu 780 milhões de reais, enquanto no mesmo período as compensações sugaram quase 270 milhões de reais da empresa.
Em carta enviada ao regulador, a Enel disse que esses pagamentos geram "um ciclo vicioso e destrutivo onde os requisitos regulatórios drenam recursos imprescindíveis para o esforço de recuperação da concessão".
Procurada, a Enel disse à Reuters que mantém a estimativa de investir 800 milhões de dólares na Celg-D entre 2017 e 2019 para alcançar os níveis de qualidade exigidos pela Aneel.
"Isso é uma estimativa preliminar, uma vez que vamos conhecer melhor as necessidades da companhia conforme o processo de integração for levado adiante", complementou a elétrica italiana, em nota.
Nos documentos trocados com a Aneel, a Enel disse que a situação da Celg-D "requer, por parte do novo acionista, que sejam tomadas medidas urgentes e até mesmo aporte de capital para execução de um projeto arrojado". A companhia também falou que a situação da elétrica goiana "é crítica".
Um regime semelhante ao que poderá ser adotado para a Celg-D já havia sido permitido para as distribuidoras de energia Celpa, Cemat e Celtins, que pertenciam ao Grupo Rede, após a holding entrar em crise financeira e ser obrigada a se desfazer das concessões.
A proposta de flexibilização apresentada pelos técnicos da Aneel para a Celg-D deverá ser analisada pela diretoria da agência após uma consulta pública ainda a ser iniciada.