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Agnelli deixa marca da internacionalização na Vale

Maior tacada de Agnelli foi a compra da canadense Inco, em 2006 – um marco para a Vale

Agnelli: compra da Inco, por 18,2 bilhões de dólares, foi uma das 27 aquisições realizadas pela empresa durante a gestão Agnelli (Matt Writtle/ Vale)
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Da Redação

Publicado em 31 de março de 2011 às 22h48.

São Paulo - Roger Agnelli vai deixar a cadeira de CEO da Vale, após quase dez anos à frente da empresa. Sua passagem pela companhia inclui lucros recordes e um grande trabalho de internacionalização – e passa pela crise econômica mundial e por algumas desobediências a recomendações do governo.

Uma das principais marcas da gestão de Roger Agnelli à frente da presidência da Vale é a internacionalização da empresa. Sob o comando do executivo, a mineradora comprou a canadense Inco, em 2006, e consolidou seu processo de internacionalização. “A aquisição da Inco foi um divisor de águas na história da Vale”, disse a EXAME.com uma fonte ligada à mineradora.

A compra da Inco, por 18,2 bilhões de dólares, foi uma das 27 aquisições realizadas pela empresa durante a gestão Agnelli. No total, o executivo investiu 33,285 bilhões de dólares em compras.

Mas a aquisição da Inco foi a grande tacada na trajetória de internacionalização da mineradora, mesmo não tendo sido a primeira iniciativa. “O Agnelli conseguiu aproveitar algo que a empresa já havia feito no passado. Ele expandiu muito a Vale, aproveitando aquisições que já haviam sido feitas”, afirmou a fonte.

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Com a  aquisição, a Vale passou, na época, de quinta para segunda maior empresa de mineração diversificada do mundo – ultrapassando Rio Tinto e Anglo American, e ficando atrás apenas da BHP Billiton. Após a aquisição, as vendas de níquel responderiam por 20% do faturamento estimado para 2005, perdendo somente da participação do minério de ferro. Entre dezembro de 2001 e fevereiro de 2007, o valor de mercado da Vale aumentou em mais de 75 bilhões de dólares.

Antes da aquisição, o Brasil ainda respondia por 98% dos ativos da Vale, e a Europa, por 2%. A empresa estimou que, se a Inco já estivesse incorporada à Vale em 2005, o Brasil passaria a representar apenas 60% dos ativos da mineradora. A América do Norte ficaria com 27%, a Ásia, com 5% e a Europa com 3%.

Sob a gestão de Agnelli, a Vale vivenciou um grande crescimento. O executivo recebeu uma empresa que havia encerrado o ano de 2000 com lucro líquido de 2,133 bilhões de reais. E a entrega com um lucro líquido de 30,1 bilhões de reais (resultado consolidado de 2010).


“A Vale vive um dos melhores períodos da sua vida, e isso decorre de muitos fatores, muitos que antecedem a gestão Agnelli, mas ele aparece na foto”, disse uma fonte ligada ao setor. Como o setor de mineração é cíclico, além do talento do presidente da empresa, os resultados também são impactados pelo momento que o setor enfrenta. “Ele surfou bem a onda”, disse a fonte.

Tchau, tchau

A cabeça de Agnelli já estava em jogo a um tempo. Desde o ano passado, pululavam rumores sobre uma possível saída adiantada do cargo. Durante o período eleitoral, quando Dilma despontava como favorita, cresciam as conversas de que uma ala do PT queria substituir Agnelli por um nome “mais político”. Desde o segundo mandato de Lula , a avaliação no Planalto é de que Agnelli privilegia as exportações em detrimento da indústria nacional.

A Vale foi privatizada em 1997, mas o governo ainda exerce influência sobre a empresa através do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e de fundos de pensão de empresas estatais - Previ (dos funcionários do Banco do Brasil), Funcef (Caixa Econômica Federal) e Petros (servidores da Petrobras) - que são acionistas da mineradora.

Em meio aos rumores, o executivo chegou a declarar que o cargo de presidente da Vale pertence ao conselho de administração. “Se os acionistas da Vale desejarem mudanças, eles vão mudar. É natural”, disse durante uma entrevista coletiva na Bolsa de Nova York, na comemoração do Vale’s Day.

Agnelli também rasurou sua imagem quando, perante a crise econômica mundial foi instruído pelo governo a evitar demissões – e não aproveitou o ‘conselho’. O executivo anunciou um plano de demissões na época, com o objetivo de cortar custos, ao mesmo tempo em que encomendou supercargueiros a estaleiros chineses. Nas duas ocasiões, Lula manifestou publicamente seu descontentamento.

Durante sua gestão, Agnelli também teve que enfrentar a insatisfação de funcionários, que resultou em greves em duas operações de níquel no Canadá. Os prejuízos da paralisação foram estimados em um bilhão de reais.


No mês de março, Agnelli teve uma nova rusga com o governo. O executivo criticou a cobrança de uma multa relativa ao royalty dos minérios (a CFEM) à Vale estimada em 5 bilhões de reais. Para o executivo, o valor era inferior a esse e a empresa já havia quitado a dívida.

Roger Agnelli renunciou aos cargos de presidente do conselho de administração da Vale, diretor presidente da Bradespar e a posições nos conselhos de administração de outras empresas para substituir o embaixador Jorio Dauster na presidência da Vale em julho de 2001. Surfou bem a onda, mas, por enquanto, ficou sem prancha.

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