(AFYA/Divulgação)
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Publicado em 3 de dezembro de 2025 às 18h20.
Última atualização em 3 de dezembro de 2025 às 18h20.
A COP30 marcou a inclusão definitiva da saúde como tema crucial da agenda climática. Entre as ações propostas está o Plano de Ação de Belém, primeiro documento global para ajudar os países a adaptarem seus sistemas de saúde aos efeitos das mudanças climáticas.
Lançado pelo Ministério da Saúde do Brasil, inclui medidas práticas de vigilância e monitoramento em saúde, políticas baseadas em evidências e fortalecimento de capacidades, além de inovação e produção sustentável em saúde.
“Diante de um clima alterado, não há alternativa senão implementar políticas públicas de adaptação, tratadas com a mesma seriedade que a mitigação. Para muitos países, isso é uma questão de sobrevivência”, disse o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, no lançamento do plano.
Bem antes do compromisso com a saúde na COP30, a Afya, maior ecossistema de educação e tecnologia em medicina do Brasil, já vinha comprometida com o tema, em resposta às demandas vindas de seus médicos, professores e alunos que moram e atuam na Região Norte.

“As populações de ribeirinhos, quilombolas e povos indígenas muitas vezes não têm o básico: saneamento, água encanada, controle de vacinas e programas de saúde bucal. E a subsistência deles vem da água e da terra, afetadas pelas mudanças climáticas”, diz Cíntia Marin, diretora de Sustentabilidade e Relações Públicas da Afya. “E isso precisa estar na teoria e na prática da Medicina nessas regiões.”
A Afya vem integrando conteúdos sobre clima e saúde no currículo das suas escolas e plataformas de atualização médica. Além disso, a instituição realiza ações, organiza fóruns e projetos de pesquisa e extensão voltados ao tema. Em uma das escolas de medicina, no interior da Bahia, por exemplo, os futuros médicos contam com a disciplina Meio Ambiente, Saúde e Sustentabilidade e são estimulados a realizar pesquisas no âmbito do Observatório da Saúde e Meio Ambiente do Sertão Produtivo e Semiárido Baiano. “Nossas escolas e clínicas de saúde — que atendem gratuitamente pelo SUS — criam um círculo virtuoso com estrutura, profissionais e insumos importantes para a saúde desses locais”, afirma Marin.
Recentemente, o grupo lançou uma cartilha sobre calor extremo e saúde para apoiar médicos e estudantes de medicina sobre o tema. A tecnologia também pode ser uma grande aliada para apoiar a rotina médica. Por meio do aplicativo Afya Whitebook, utilizado por 1 a cada 3 médicos brasileiros, é possível monitorar surtos de doenças, como a dengue, em tempo real em diferentes localidades do país, a partir da análise de um grande volume de dados. “A ferramenta não apenas ajuda a antecipar a detecção de picos de doenças, mas sobretudo auxilia o fechamento do diagnóstico e em tratamentos”, explica Cíntia Marin.

Um estudo encomendado pela Afya com dados do IBGE e do DataSUS, de 2004 a 2021, mostrou que as escolas do grupo aumentaram em 12% no número de médicos por mil habitantes. Já as internações por coqueluche, sarampo e hepatite B caíram 15% e as mortes por doenças evitáveis por vacinação reduziram 20,5%. Das 20 faculdades que fizeram parte do estudo, seis estão na região Norte.
Cássia Lopes, coordenadora do curso de Medicina da Afya em Abaetetuba (PA), aponta que a crise climática é extremamente sensível na Amazônia por várias questões, de qualidade de vida à geografia. “A Amazônia tem o pior Índice de Progresso Social (40%) do país e muitas pessoas estão longe de serviços de saúde”, explica.
Enchentes ou secas prolongadas pioram o bem-estar físico, social, emocional e econômico das populações mais vulneráveis, que dependem do rio e da floresta para se sustentar e para se locomover. Algumas são obrigadas a se deslocar, desestruturando o ambiente familiar e gerando violência contra crianças e mulheres. “A taxa de feminicídio na Amazônia Legal é de 37%, contra 3% no país, e a de gravidez na adolescência é de 21,5%, enquanto no Brasil é de 10,5%", diz Lopes.
Como não há saneamento, com alagamentos surgem focos de diarreia e leptospirose. Há também a proliferação de arboviroses (causadas por mosquitos), como dengue e malária. E, por conta das queimadas, pneumonia e asma duram mais tempo.
Por isso, é importante ter médicos que compreendam esses problemas para atuar na região. “Nossos alunos precisam entender as regionalidades e serem sensíveis a diferenças na alimentação, comportamento, forma de tratar e até o tempo gasto para chegar a um centro médico”, justifica Lopes.