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Aéreas se preparam para transportar a vacina que pode reavivar o setor

O setor terá um papel fundamental no transporte de bilhões de doses em centenas de voos nos próximos meses

American Airlines: companhias conversaram com especialistas para saber onde as vacinas poderiam ser produzidas, como seriam enviadas e como posicionar pessoas e aviões para facilitar a movimentação (Robert Alexander/Getty Images)
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Carolina Ingizza

Publicado em 24 de dezembro de 2020 às 15h31.

Meses antes de qualquer pessoa saber quais vacinas candidatas contra o coronavírus se destacariam ou quando estariam disponíveis, as companhias aéreas já tentavam descobrir como transportar as doses para o mundo todo.

No meio do ano, a American Airlines, a Delta Air Lines e a United Airlines conversaram com autoridades do governo, indústrias farmacêuticas e especialistas para saber onde as vacinas poderiam ser produzidas, como seriam enviadas e como posicionar pessoas e aviões para facilitar a movimentação. Recentemente, companhias aéreas levaram lotes de vacinas para uso em testes e pesquisas ou para se prepararem para a distribuição em larga escala.

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O setor terá um papel fundamental no transporte de bilhões de doses em centenas de voos nos próximos meses, colocando tripulações e aviões subutilizados para trabalhar carregando o remédio que as companhias aéreas torcem para ser o responsável por trazer de volta os passageiros. Mas os voos são apenas parte de uma corrida internacional em que as companhias aéreas terão de estar preparadas para entrar em ação a qualquer momento.

"Quando um pedido chega, é urgente, e precisamos agir de imediato", disse Manu Jacobs, que supervisiona o transporte de cargas farmacêuticas e outros produtos especiais na United Airlines.

Um dos grandes desafios para as companhias aéreas é garantir que as vacinas sejam transportadas nas baixíssimas temperaturas exigidas. As da Pfizer devem ser armazenadas a impressionantes -70 ºC. As da Moderna podem ser mantidas a -20 ºC, temperatura um pouco mais fácil de manter.

Para sua vacina, a Pfizer criou caixas especiais que podem ser preenchidas com gelo seco, que é a forma sólida do dióxido de carbono. Contudo, as autoridades aeroviárias limitam a quantidade de gelo seco que pode ser transportada pelos aviões, já que ele se transforma em gás e pode tornar o ar tóxico para pilotos e tripulantes.

Em novembro, depois de realizar testes que comprovavam a segurança do transporte, a United pediu à Administração Federal de Aviação dos EUA (FAA, na sigla em inglês) que elevasse o limite de gelo seco nos aviões, para que fosse possível transportar a vacina da Pfizer do Aeroporto Internacional de Bruxelas ao Aeroporto internacional Chicago O'Hare, de acordo com uma carta da agência. A FAA concordou, permitindo que a companhia aérea carregasse até 6.800 quilos de gelo seco a bordo de um Boeing 777-224, em vez do limite anterior, que era de 1.360 quilos da substância, de acordo com a carta. Agora, um único 777 é capaz de carregar até um milhão de doses, de acordo com a companhia aérea.

A American e a Delta também estão trabalhando com a agência para aumentar os limites de gelo seco para o transporte das vacinas. Além disso, a Boeing divugou que está trabalhando em parceria com transportadoras de cargas e de passageiros e com órgãos internacionais de regulamentação para ajudar a transportar com segurança o máximo possível de vacinas. Em comunicados, simpósios on-line e videochamadas, a fabricante de aviões compartilhou suas descobertas sobre os índices de emissão de gelo seco e importantes procedimentos de segurança. A Boeing também está trabalhando com outras empresas do setor aeroespacial para definir as orientações que poderão fornecer às companhias aéreas.

A United não quis comentar o trabalho que tem feito com a Pfizer, mas declarou que está estabelecendo as bases para o transporte de vacinas desde o verão setentrional, iniciativa que envolve equipes formadas por integrantes de várias partes da empresa espalhados por todo o mundo. "Decidimos rapidamente que precisávamos unir mentes brilhantes para nos ajudar a pensar na preparação", disse Jacobs.

A escala e a urgência do transporte das vacinas contra o coronavírus são diferentes de tudo o que as companhias aéreas e empresas de logística já enfrentaram. A UPS, empresa de logística, abriu uma série de instalações com freezers de baixíssima temperatura – capazes de manter produtos a -80 ºC – no entorno de seus centros de distribuição nos EUA e na Europa. A divisão de saúde da empresa também aumentou a produção de gelo seco; as fábricas norte-americanas são capazes de produzir até 545 quilos por hora. A FedEx também instalou freezers ultrafrios em toda a rede de transporte dos EUA. Além disso, as duas empresas contam com frotas enormes de aviões de carga que ajudarão a transportar as vacinas.

Em tempos normais, cerca de metade de toda a carga aérea é transportada pelas companhias áreas, muitas vezes sob os pés dos passageiros. A queda drástica no número de voos este ano limitou essa capacidade, mas a necessidade urgente de máscaras, luvas e ventiladores pulmonares criou uma grande oportunidade para as companhias aéreas, permitindo que recuperassem ao menos parte do faturamento perdido. Muitas empresas, incluindo a United, a American, a Lufthansa e a Virgin Atlantic, começaram a fazer voos exclusivamente de carga, chegando até mesmo a colocar cargas e produtos onde os passageiros geralmente se sentam.

Agora, as companhias estão se preparando para realizar voos apenas para levar as vacinas, em aviões que estarão repletos de freezers e caixas térmicas, com o mínimo de tripulação.

"Para que isso funcione, acreditamos que todos no setor serão necessários – não apenas a indústria aeroviária, mas todos que fazem parte da rede de abastecimento logístico", comentou Jessica Tyler, presidente da área de transporte de cargas da American Airlines.

As companhias aéreas têm experiência no transporte das vacinas contra a gripe e, nos últimos anos, o setor tem buscado expandir os negócios com a indústria farmacêutica. Em 2015, por exemplo, a American Airlines construiu um armazém de mais de dois mil metros quadrados, no Aeroporto Internacional da Filadélfia, dedicado ao armazenamento de produtos farmacêuticos em baixa temperatura. Esse armazém, que é monitorado o tempo todo, pode manter os carregamentos a até -20 ºC, e é o maior desse tipo entre os operados pela companhia aérea em cerca de meia dúzia de aeroportos nos EUA e na Europa. A Delta e a United também contam com redes similares de armazenamento a frio.

Quando se trata de carga, as companhias aéreas geralmente trabalham com intermediários que organizam as cargas de antemão para clientes como fabricantes e distribuidoras de produtos farmacêuticos. Entretanto, as companhias aéreas esperam trabalhar diretamente com os clientes no caso do transporte da vacina, devido à urgência do envio até o destino final.

A American e a Delta estão trabalhando com a McKesson, grande fornecedora de produtos médicos, indicada pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA para funcionar como uma espécie de distribuidora centralizada de vacinas contra o coronavírus. Todos os grandes fabricantes da vacina – menos a Pfizer – confirmaram que utilizarão a McKesson para distribuir seu produto nos EUA, de acordo com Rob Walpole, vice-presidente da Delta Cargo.

Desde agosto, a Delta vem transportando cargas com vacinas, kits de teste e outros produtos tanto dentro dos EUA como provenientes da Bélgica e da América Latina para os EUA, declarou Walpole a um grupo de jornalistas por telefone. A companhia aérea também criou uma "torre de controle da vacina" para acompanhar e coordenar os carregamentos.

Embora o influxo de gelo seco tenha representado um desafio para as companhias aéreas, o mesmo vale para a rapidez com que as vacinas chegaram, explicou ele. "Como muitas coisas que aconteceram este ano, houve mudanças intensas e inéditas nos últimos dois meses. Foi um grande teste para todos os que fazem parte dessa cadeia", concluiu Walpole.

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