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A joint venture que a Boeing e Embraer ainda não anunciaram

As duas se aproximaram com uma série de parcerias nos últimos anos, que vão de desenvolvimento de pesquisa a estratégias de vendas

KC390, cargueiro militar desenvolvido e fabricado pela Embraer (Divulgação/Embraer/Divulgação)

KC390, cargueiro militar desenvolvido e fabricado pela Embraer (Divulgação/Embraer/Divulgação)

Karin Salomão

Karin Salomão

Publicado em 5 de julho de 2018 às 17h39.

Última atualização em 5 de julho de 2018 às 18h23.

São Paulo – Depois de meses de negociações, a Boeing e a Embraer anunciaram na manhã de hoje, 5, a criação de uma joint venture. A Boeing comprou, por 3,8 bilhões de dólares, 80% do negócio de da aviação comercial da Embraer. Na nova companhia, a Embraer continuará dona de 20% do negócio e o governo brasileiro manterá sua golden share, ação que dá direito a veto em algumas situações.

No entanto, há outra joint venture que ainda não foi detalhada. As duas fabricantes, no comunicado em que apresentaram a nova empresa de aviação comercial, afirmaram que “as empresas também irão criar outra joint venture para promoção e desenvolvimento de novos mercados e aplicações para produtos e serviços de defesa, em especial o avião multimissão KC-390, a partir de oportunidades identificadas em conjunto”.

O governo brasileiro tinha uma opinião bastante forte de que a Embraer deveria garantir a independência do setor de defesa, diz o presidente da Embraer, Paulo Cesar de Souza e Silva. Por isso, a brasileira deverá ser acionista majoritária nessa nova empresa. 

Cerca de 22,5% da receita da Boeing e 16% da Embraer vem da venda de aeronaves militares. A Embraer entregou sete aeronaves no segmento de defesa e segurança no ano passado, enquanto a Boeing entregou 170. As duas se aproximaram com uma série de parcerias nos últimos anos, que vão de desenvolvimento de pesquisa a estratégias de vendas. Essa parceria deverá ser intensificada ainda mais com a joint venture, ainda que não seja o seu foco.

Com sua operação comercial dividida em outra companhia, a Embraer anunciou que terá uma "operação simplificada e focada nas capacidades líderes no mercado da aviação executiva e de defesa e segurança". No entanto, o desenvolvimento dessas aeronaves não será feito de forma isolada. A Boeing deverá ajudar com acesso a recursos de engenharia e marketing mais aprimorados. A Boeing já é parceira na comercialização e responsável pelo suporte operacional do KC390, cargueiro militar desenvolvido e fabricado pela Embraer.

O cargueiro já conquistou a declaração de Capacidade Operacional Inicial (Initial Operational Capability - IOC), ou seja, está apto para começar a operar. Em 2018, será feita a primeira entrega para a Força Aérea Brasileira e logo deve começar a venda para outros países, como Portugal, que já manifestou interesse pela aeronave. Ao todo, o governo brasileiro encomendou 28 aeronaves, que devem ser entregues em 12 anos.

Essa é uma das grandes inovações no mundo dos aviões cargueiros. No Brasil, a frota é composta de cargueiros turbo-hélice C-130 Hércules, fabricado pela Lockheed Martin e que faz parte de uma família de aviões criada há mais de 60 anos.

Aviação comercial

A aviação comercial, foco da joint venture que foi anunciada hoje responde à maior parte das receitas da Boeing e Embraer. Na brasileira, 58% dos ganhos vêm da aviação comercial, foco dessa transação, e 26% da venda de jatos executivos, na qual é líder global. Ela teve receita líquida de US$ 5,84 bilhões em 2017 (R$ 18,7 bilhões).

Já na americana, maior fabricante de aviões do mundo, 60,74% das receitas são oriundas do segmento comercial. A companhia, que faturou US$ 93,4 bilhões no ano passado, ainda desenvolve satélites e entregou quatro novos no ano passado.

A parceria seria inclusive a salvação da brasileira frente ao mercado competitivo, que ficou mais duro desde a compra da Bombardier pela Airbus. A Embraer corria um risco de perder tração ao ficar sozinha. Com volume de encomendas considerado fraco com analistas, o negócio com a americana poderia salvá-la, o que convenceu o governo brasileiro a, finalmente, dar o aval para a transação.

 

 

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