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99 recebe investimento de 320 milhões de reais liderado pela Didi

O aporte da chinesa Didi na 99 (antes chamada de 99Taxis) é um dos maiores investimentos em startups brasileiras da história

Táxi chinês: a Didi Chuxing, nova sócia da 99, tem a ambição de ser a maior empresa de transportes do planeta (Kevin Frayer)

Táxi chinês: a Didi Chuxing, nova sócia da 99, tem a ambição de ser a maior empresa de transportes do planeta (Kevin Frayer)

GK

Gian Kojikovski

Publicado em 4 de janeiro de 2017 às 18h14.

Última atualização em 27 de março de 2018 às 17h36.

Reportagem publicada originalmente em EXAME Hoje, app disponível na App Store e no Google PlayPara ler esta reportagem antecipadamente, assine EXAME Hoje.

O mercado de aplicativos de transporte, aquecido no Brasil com a disputa entre Uber, Easy, 99 e novatos como a Cabify, começou o ano com uma notícia que pode mudar a dinâmica do setor. A 99 (antes chamada de 99Taxis) fechou nesta quarta-feira uma nova rodada de investimentos, liderada pela chinesa DiDi Chuxing, a maior plataforma de transporte por meio de aplicativos do mundo. O valor do investimento não foi divulgado pelas empresas, mas EXAME Hoje apurou que gira em torno de 100 milhões de dólares – mais de 320 milhões de reais. Outros participantes da rodada de investimentos não foram divulgados. Em rodadas anteriores, a 99 já havia recebido investimentos dos fundos Monashees, Tiger Global e Qualcomm Ventures.

É um dos maiores investimentos em startups brasileiras da história - em dezembro, a empresa de pagamentos Nubank havia recebido um aporte de 80 milhões de dólares do fundo DST Global. É também o segundo grande investimento chinês em startups brasileiras de tecnologia - em 2014, o buscador Baidu havia comprado o controle do site de compras coletivas Peixe Urbano.

Com o investimento da DiDi, a 99 pretende continuar expandindo os serviços no país, principalmente o 99Pop, de carros particulares, lançado em agosto e hoje só disponível em São Paulo. Em breve, o Rio de Janeiro deve contar com a categoria. Hoje, a empresa opera em 550 cidades do Brasil, com 140.000 taxistas cadastrados e 10 milhões de usuários.

Na China, a DiDi, que também começou como um aplicativo de táxis, agora oferece transporte com carros particulares e ônibus compartilhados (algo como o Uber Pool), além de aluguel de carros, test drive de veículos e transporte corporativo. O transporte compartilhado em carros particulares deve ser oferecido pelo 99 em breve no Brasil. A transferência de tecnologias, auxilio no planejamento de negócios e desenvolvimento de novos produtos entre as empresas fazem parte do acordo. Além disso, a DiDi terá direito a um assento no conselho de administração da 99.

“A China e a América Latina são os principais mercados emergentes do mundo, com grandes oportunidades para essa nossa indústria de mobilidade urbana”, disse em comunicado Cheng Wei, presidente da DiDi.

O novo investidor deve impulsionar as ambições da 99. Até agora, sempre que perguntados, os representantes da 99 ressaltavam que o foco era o mercado nacional, onde “ainda há muito espaço para crescimento”. Uma estratégia diferente da Easy, que por muito tempo foi a principal concorrente no mercado nacional e expandiu rapidamente para outros países, se colocando em disputas complicadas com competidores maiores. A empresa desistiu de operar em Hong Kong e na Indonésia poucos meses depois do desembarque, em 2014, por competição ferrenha de empresas como o Uber. “Vamos expandir os serviços e remodelar o perfil competitivo do mercado na América Latina”, afirmou nesta quarta-feira o presidente da 99Taxis, Paulo Veras.

A estratégia segue a lógica da DiDi de investir em companhias de mobilidade líderes em outros mercados emergentes. Criada em 2012, a empresa é a terceira startup mais valiosa do mundo, avaliada em cerca de 35 bilhões de dólares, posicionada depois do Uber, com 68 bilhões, e da fabricante de celulares Xiaomi, que vale 46 bilhões. O objetivo é liderar o mercado mundial de transportes. Para isso, a empresa realizou aportes no GrabTaxi, no sudeste asiático, e no Ola, na Índia. No mercado norte-americano, os chineses investiram no Lyft, que surgiu como o principal concorrente do Uber localmente. A empresa tem 400 milhões de usuários em 400 cidades chinesas e, em outubro do ano passado, fez uma média de 20 milhões de corridas diárias. Em 2015, fez 1,4 bilhão de corridas - o Uber levou seis anos para chegar à marca de 1 bilhão.

Embora gigante na Ásia, a DiDi só passou a ser o centro das atenções no mundo dos transportes em agosto do ano passado. A empresa fez o que ninguém havia conseguido até então: freou o crescimento do Uber ao comprar, por 6 bilhões de dólares em ações e um bilhão em dinheiro, as operações do concorrente na China. Foi a maior derrota do aplicativo, que não via barreiras para o crescimento e havia colocado o mercado chinês como a principal prioridade. Cerca de 80% de todos os motoristas de táxi no país usam o aplicativo. A empresa é a única da China que tem aporte das três maiores companhias de internet do país: a Tencent, o Baidu e a Alibaba. Além disso, recebeu um aporte de 4,5 bilhões de dólares da Apple no meio do ano passado.

A disputa pelo mercado de mobilidade no país é cada vez mais forte. O Uber quintuplicou o número de motoristas em 2016 – hoje tem mais de 50.000, nas 35 cidades onde atua. Na última vez que divulgou seus dados, em outubro, eram mais de 4 milhões de usuários ativos. Por outro lado, o serviço vem sofrendo com constantes reclamações nos últimos meses, o que impulsionou novamente aplicativos como o 99 e o Easy, que surgiram antes, mas haviam ficado em segundo plano nos celulares dos usuários. Para continuarem competitivas, essas empresas reduziram em 30% o valor das corridas de táxi e criaram os próprios serviços de carros particulares. Além disso, o espanhol Cabify começou a operar em São Paulo em junho e vem ganhando espaço. Para o consumidor, quanto mais concorrência, melhor.

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