Putin e Xi (foto de arquivo): visita chinesa à Rússia (Alexei Druzhinin/TASS/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 21 de março de 2023 às 13h54.
Última atualização em 21 de março de 2023 às 14h12.
O presidente chinês, Xi Jinping, se reuniu nesta terça-feira, 21, com o presidente russo, Vladimir Putin, na segunda conversa entre os dois durante a estadia de Xi em Moscou.
Putin recebeu Xi no Grande Palácio do Kremlin e o cumprimentou com um aperto de mãos. Uma banda tocou os hinos dos dois países, segundo imagens exibidas por canais de televisão russos. A reunião ocorreu a portas fechadas.
Mais cedo nesta terça-feira, segundo dia da visita oficial de três dias, Xi já havia se encontrado com o premiê russo, Mikhail Mishustin, e afirmou que as relações entre Pequim e Moscou, duas "grandes potências vizinhas", eram uma "prioridade" para a China.
Xi também anunciou que convidou o chefe de Estado russo para visitar a China "este ano, quando possível", apesar da ordem de detenção emitida na semana passada pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) contra o líder do Kremlin.
A ida de Xi a Moscou é a primeira visita do mandatário chinês desde o início da guerra na Ucrânia, em fevereiro de 2022, e também a primeira desde que Xi foi reeleito para um terceiro mandato.
De modo paralelo à visita de Xi a Moscou, outro governante asiático, o primeiro-ministro japonês Fumio Kishida, visitou Kiev nesta terça-feira para uma reunião com o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky. Kishida era o único líder do G7 que não havia viajado à capital da Ucrânia desde o início do conflito.
O Japão aderiu às sanções ocidentais contra a Rússia e anunciou em fevereiro uma nova ajuda à Ucrânia de US$ 5,5 bilhões, mas não forneceu assistência militar porque sua Constituição pacifista proíbe tal medida.
O conflito na Ucrânia está no centro da agenda entre Xi e Putin nos últimos dias. No encontro que ambos já tiveram na segunda-feira, o presidente russo afirmou que estava "aberto a negociações" sobre a Ucrânia e elogiou a proposta de paz de 12 pontos da China, que inclui um apelo ao diálogo e o respeito da soberania territorial de todos os países.
Putin destacou que os dois países têm "vários objetivos em comum" e elogiou a China por sua "posição justa e equilibrada sobre os temas internacionais mais urgentes".
Xi declarou que a China está "disposta a permanecer de modo firme ao lado da Rússia", em nome de um "verdadeiro multilateralismo".
O chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken, pediu na segunda-feira que a comunidade internacional "não se deixe enganar" pela postura da China e acusou o país de "fornecer cobertura diplomática à Rússia".
Kiev, que mantém a cautela diante das intenções chinesas, pediu a Xi Jinping que "use sua influência sobre Moscou para acabar com a guerra de agressão".
Os analistas, porém, consideram difícil que a China, que recentemente mediou a reconciliação diplomática entre Arábia Saudita e Irã, consiga o fim das hostilidades na Ucrânia.
Além do aspecto político, a viagem do chinês acontece no momento em que a Rússia reorienta sua economia para a Ásia, para driblar as sanções ocidentais.
Um exemplo é o o anúncio feito nesta terça-feira pelo grupo russi Gazprom, que forneceu na segunda-feira um volume "recorde" de gás a Pequim através do gasoduto transfronteiriço da Sibéria.
De acordo com o Kremlin, Xi e Putin assinarão vários documentos, incluindo uma declaração comum para aprofundar as relações econômicas até 2030.
A visita de Xi Jinping é vista como uma mostra de apoio de Pequim ao governo russo, em um cenário global conturbado para Putin.
A guerra na Ucrânia completou um ano em 24 de fevereiro, sem sinal de um cessar-fogo no horizonte e embates que se arrastam no leste e parte do sul ucraniano. Durante o fim de semana, Putin fez uma visita surpresa a áreas ucranianas hoje controladas pela Rússia, como a cidade de Mariupol. Após as visitas, o mandatário tinha volta agendada a Moscou no fim do dia para estar na capital quando da chegada de Xi.
A relação entre Rússia e China no contexto da guerra, por enquanto, não envolve envio de armas ou participação chinesa direta no conflito, mas o Ocidente teme que a visita de Xi possa marcar uma intensificação dessa relação, inclusive no campo militar.
A China afirma ter posição de neutralidade no conflito entre Rússia e Ucrânia, e critica potências do Ocidente, como os Estados Unidos, pelo envio direto de armas aos ucranianos.
A China foi um dos poucos países que se abstiveram em votação na Assembleia Geral da ONU neste ano, que pediu a saída russa da Ucrânia (o Brasil, na ocasião, votou pela saída russa do país, ao passo que pediu esforços diplomáticos das potências envolvidas para a busca de um cessar-fogo). Em discurso, o representante chinês afirmou que era preciso buscar uma "solução política" para o conflito e que "guerras não têm vencedores".
Na outra ponta, em meio às sanções ocidentais contra a Rússia, a China tem se tornado a principal parceira comercial de Moscou. A Rússia se tornou a maior fornecedora de petróleo aos chineses desde o início da guerra. A existência da China como parceira econômica da Rússia foi capaz de amenizar parte das perdas geradas pelas sanções ao longo do ano passado, e o PIB russo terminou caindo menos do que o esperado.
(Com informações da AFP)